A nova fase da tecnologia quântica
A Organização das Nações Unidas consagrou 2025 como o Ano Internacional da Ciência e Tecnologia Quânticas, marcando o centenário do desenvolvimento da mecânica quântica. Essa homenagem ocorre em um momento decisivo para o setor: em 2024, a indústria de tecnologia quântica (QT) passou de uma fase de expansão do número de qubits para um estágio de estabilização, o que representa um verdadeiro ponto de inflexão. Essa maturação tecnológica começa a sinalizar, sobretudo para setores de missão crítica, que a QT poderá em breve ser incorporada com segurança e confiabilidade às suas infraestruturas digitais.
Por Itaú BBA
Três Pilares, um potencial bilionário
A tecnologia quântica se estrutura em torno de três pilares principais: computação quântica, comunicação quântica e sensoriamento quântico. De acordo com uma nova pesquisa da McKinsey & Co, esses pilares combinados poderão gerar até US$ 97 bilhões em receita global até 2035. A computação quântica será o motor principal desse crescimento, com receitas saltando de US$ 4 bilhões em 2024 para até US$ 72 bilhões em 2035.
As estimativas apontam um mercado de:
- US$ 28 bilhões a US$ 72 bilhões para computação quântica,
- US$ 11 bilhões a US$ 15 bilhões para comunicação quântica,
- US$ 7 bilhões a US$ 10 bilhões para sensoriamento quântico.
Ao todo, o setor de tecnologia quântica poderá atingir US$ 198 bilhões até 2040, um crescimento que não dá sinais de desaceleração. Esse intervalo de projeções reflete incertezas associadas à evolução tecnológica, ao ritmo de adoção e à escalabilidade dessas soluções.
Financiamentos em alta: confiança no ecossistema
A confiança de investidores privados e públicos nas capacidades da QT se fortaleceu consideravelmente. Em 2024, os investimentos em start-ups do setor chegaram a US$ 2,0 bilhões, um aumento expressivo de 50% em relação aos US$ 1,3 bilhão de 2023. Deste total, US$ 680 milhões vieram de governos, como parte de um compromisso mais amplo: US$ 1,8 bilhão foi anunciado globalmente para projetos de QT no mesmo ano.
Entre os destaques, o governo australiano revelou um pacote financeiro de US$ 620 milhões destinado à empresa PsiQuantum, com o objetivo de construir o primeiro computador quântico tolerante a falhas em escala de utilidade pública no mundo, na cidade de Brisbane. Já em 2025, a corrida se acelerou com o Japão anunciando US$ 7,4 bilhões e a Espanha se comprometendo com US$ 900 milhões em investimentos, totalizando mais de US$ 10 bilhões em financiamentos públicos apenas nos primeiros meses do ano.
Da pesquisa à implementação: inovações transformadoras
Após anos de desenvolvimento, 2024 foi marcado por um movimento claro em direção à implantação comercial da QT (quantum Tecnology). Embora o ecossistema de start-ups continue fértil para descobertas disruptivas, foram as grandes empresas de tecnologia como Amazon, Google, IBM e Microsoft que lideraram os avanços significativos. Os progressos incluem:
- Redução das taxas de erro em relação ao número de qubits,
- Desenvolvimento de qubits de alta fidelidade em múltiplos sistemas,
- Queda substancial dos custos relacionados à correção de erros quânticos.
Esses marcos indicam que a indústria está cruzando a fronteira entre o experimental e o operacional.
Patentes: corrida pela propriedade intelectual
A competição por domínio tecnológico também se traduz em números de patentes. Em 2024, houve um aumento de 13% no total de patentes concedidas em QT. A IBM liderou com 191 patentes, seguida pela Google com 168, o que reflete o empenho estratégico dessas empresas em consolidar suas posições no setor.
Comunicação quântica: a fronteira da segurança digital
Com o espectro do “Q-Day” — o dia em que computadores quânticos poderão quebrar os padrões de criptografia atuais — se aproximando, a comunicação quântica se posiciona como uma resposta essencial às novas ameaças digitais. Essa tecnologia permite a transferência segura de informações quânticas em escala e está ganhando tração no mercado.
Em 2024, o mercado de comunicação quântica foi estimado em US$ 1,2 bilhão, e as projeções indicam que alcançará entre US$ 10,5 bilhões e US$ 14,9 bilhões até 2035, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) entre 22% e 25% ao longo da década.
O mercado se divide em três áreas principais — segurança, redes e serviços. Embora os governos tenham respondido por cerca de 57% das aquisições em 2024, a adoção pelo setor privado está crescendo rapidamente. Até 2035, espera-se que o setor de telecomunicações represente entre 16% e 26% de todos os gastos com comunicação quântica.
Um caminho acelerado e irreversível
Com os avanços tecnológicos, os investimentos em alta, a mobilização governamental e os sinais claros de transição da teoria para a prática, a tecnologia quântica está prestes a se tornar um dos pilares fundamentais da infraestrutura digital do futuro. Indústrias como química, ciências da vida, finanças e mobilidade liderarão a adoção, mas os efeitos serão transversais e sistêmicos.
O mercado quântico, que até pouco tempo era considerado distante ou puramente acadêmico, agora se consolida como uma realidade emergente — e potencialmente transformadora — da próxima década.
O impulso à computação quântica no Brasil
Em sintonia com os avanços globais da computação quântica, o Itaú Unibanco lançou em 2025 o Instituto de Ciência e Tecnologia Itaú (ICTi), com o objetivo de fomentar o desenvolvimento de tecnologias emergentes, com destaque para inteligência artificial e computação quântica. A iniciativa marca um passo estratégico para aproximar a pesquisa científica da aplicação prática, posicionando o Brasil no mapa da inovação de fronteira. Dos 50 projetos em andamento no instituto, 13 já são dedicados exclusivamente à computação quântica, demonstrando o peso dessa tecnologia no plano institucional.
O ICTi adota um modelo de atuação distribuída, em parceria com dez universidades nacionais e internacionais, incluindo nomes de referência como o MIT, Stanford, USP, UFG, UFPR e UFPE. Segundo Carlos Eduardo Mazzei, diretor de tecnologia do Itaú, o foco está em encurtar o ciclo entre descoberta e aplicação, gerando impacto real para a sociedade e o mercado.
Além de apoiar bolsas de pesquisa desde a iniciação científica até o doutorado, o instituto já atua em projetos com potencial de escala. Ao investir na computação quântica como uma prioridade estratégica, o Itaú contribui ativamente para a formação de um ecossistema brasileiro competitivo nesse campo, estimulando a cooperação entre empresas, universidades e startups em torno de uma agenda tecnológica de longo prazo.
Fontes:
The Year of Quantum: From concept to reality in 2025 - https://www.mckinsey.com/capabilities/mckinsey-digital/our-insights/the-year-of-quantum-from-concept-to-reality-in-2025
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