ABC do ESG: Combustíveis verdes, quais são e como usá-los

Por Itaú BBA

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A produção global de biocombustíveis cresce, em média, 4% ao ano desde 2018, segundo a IEA (Agência Internacional de Energia). O hidrogênio começou a acompanhar esse ritmo e vai acelerar até 2030. Conforme cresce o cardápio de combustíveis limpos, para diferentes usos, fica mais importante conhecê-los e entender as diferenças entre eles.

Combustíveis verdes: quais são os principais e como usá-los

Biogás

Surge quando resíduos orgânicos vegetais e animais se decompõem em lugares fechados ou sob a água, sem troca de gases com a atmosfera. Pode ser usado em fogões e geração elétrica, e tem potencial para uso em veículos. Tem muitas vantagens: é renovável, pode ser feito em qualquer lugar, dá um destino a resíduos (agrícolas, industriais, urbanos) e sua queima emite 15% ou menos do carbono liberado no uso de combustíveis fósseis. É comum o biogás ter 60% de metano, seu componente combustível, mas isso varia muito. Ou seja: biogás é um nome genérico para substâncias muito diferentes.

Biometano

Ao limpar e purificar o biogás para se obter concentração de ao menos 90% de metano, chega-se ao biometano (o "bio" aí identifica a origem renovável, para diferenciá-lo do metano que também pode ser obtido do gás natural, um combustível fóssil). Como produto padronizado, intercambiável com o gás natural, o biometano é também chamado Gás Natural Renovável (GNR). Para transporte e armazenagem, pode ser comprimido (Bio-GNC) ou liquefeito (Bio-GNL). Já foi testado em locomotivas e caminhões pesados, inclusive em longas distâncias, em países diversos, como Alemanha, EUA, França, Irlanda e Itália.

Biodiesel

Pode ser obtido a partir de óleos vegetais e gordura animal. No Brasil usam-se como fontes, principalmente, soja, milho, girassol, amendoim, algodão, canola, mamona, babaçu, palma (dendê) e macaúba. Os EUA usam soja e a Europa, colza. Apesar de tantas matérias-primas diferentes, o produto final é o mesmo, padronizado. O biodiesel tem algumas propriedades diferentes do óleo diesel fóssil: preserva melhor os motores, mas congela mais facilmente. Atualmente, o óleo diesel padrão no Brasil tem 14% de biodiesel. A União Europeia aceita um máximo de 7%. Nos EUA, as misturas mais comuns são 5% e 20% (chamadas B5 e B20).

SAF

O Combustível Sustentável de Aviação (ou SAF, na sigla em inglês) pode ser produzido a partir de etanol, biomassa em geral e resíduos orgânicos urbanos, agrícolas e industriais. Emite bem menos carbono que o querosene de aviação. Dependendo da matéria-prima utilizada, rota tecnológica e fonte de energia empregados, pesquisas apontam que a redução de emissões pode chegar a até 94% em relação à querosene de origem fóssil no cenário mais otimista, considerando o ciclo completo dos combustíveis, da produção ao consumo[RT1][va2][va3] . Há atualmente pelo menos 12 processos industriais diferentes para chegar ao SAF e, em fevereiro de 2024, a entidade padronizadora ASTM International reconheceu oito deles como seguros para garantir a qualidade do produto final. Voos comerciais em vários países vêm experimentando misturas de 1% a 50% de SAF, com sucesso.

E1G (ou Etanol de primeira geração)

Considera-se de primeira geração o etanol produzido pelo sistema tradicional, que é fermentar o caldo extraído de vegetais ricos em açúcar, como cana, milho ou beterraba. Esse combustível renovável começou a ser usado em testes com automóveis no Brasil em 1925, passou a ser misturado à gasolina em 1933 e virou em 1975 a base de um dos maiores programas industriais da história do país, o Proálcool (encerrado em 1991). Em automóveis, o etanol emite cerca de 43% menos carbono que a gasolina, segundo um estudo feito em 2023 pelo ICCT (Conselho Internacional do Transporte Limpo). Muitos testes e programas piloto já mostraram sua viabilidade como combustível de veículos pesados, mas essa aplicação ainda não se difundiu. Atualmente, várias empresas e montadoras estudam em conjunto melhorias para a difusão do uso do etanol em caminhões.

Segundo comparação feita pela Única (associação das usinas), quando avaliado o ciclo de vida completo do combustível, o etanol proporciona uma redução de até 90% na emissão de GEE em relação à gasolina. Além disso, em comparação com a gasolina e o diesel, o biocombustível de cana-de-açúcar praticamente zera a dispersão de material particulado e reduz significativamente a emissão de vários poluentes, como os óxidos de enxofre.

E2G (ou Etanol de segunda geração)

O processamento de qualquer vegetal com muito açúcar, como cana ou milho, leva ao etanol. Mas um processamento mais longo, mais demorado e mais caro de qualquer fragmento vegetal com celulose, como bagaço de cana, cascas de frutas e folhas, também leva ao etanol – aí chamado de segunda geração, E2G, bioetanol ou etanol celulósico. Como aproveita resíduos, tem pegada de carbono bem menor (30% de diferença, segundo a Raizen). A tecnologia complicada fez o E2G ficar, por décadas, no terreno das promessas, com dificuldade para chegar ao mercado. Hoje, quatro usinas produzem o biocombustível no Brasil.

Hidrogênio verde

O hidrogênio, ou H2, é o elemento mais abundante do universo, mas ele não é encontrado livre na natureza. São necessários processos industriais para separar as moléculas de hidrogênio contidas em outras substâncias, como a água ou o gás metano. O hidrogênio é chamado verde quando produzido por meio da eletrólise da molécula da água, que requer somente água e energia renovável, ambos abundantes no Brasil. A tecnologia é uma promessa para a descarbonização de setores ‘hard to abate’, como aviação, navegação e indústria pesada, mas ainda precisa amadurecer e tem desafios importantes para escalar. O país já tem cerca de 40 projetos, mas nenhum com os investimentos aprovados.