Radar Agro - Exportações a atualizações do setor de frutas
Por Consultoria Agro
La Niña mudou os bons ventos de vendas das fruta
Se por um lado, as precipitações ajudam o desenvolvimento das culturas em sequeiro, no caso da fruticultura irrigada, a conjuntura é outra; o aumento de chuvas nas produções irrigadas de frutas prejudicam a qualidade do produtos, aumentam os custos de aplicações de defensivos e desregulam os ciclos produtivos da lavoura.
O fenômeno La Niña continuou a impactar os principais polos de fruticultura do país. Quando o fenômeno ocorre, geralmente há uma diminuição de chuvas na Região Sul do país, enquanto na Região Nordeste há um aumento das precipitações. Na região do Vale do São Francisco, as chuvas entre set-dez (até 31/dez) já acumularam um volume 35% maior do que o mesmo período do ano passado, quando havia sido o recorde dos últimos 5 anos, de modo que, quando comparamos com a média das últimas 5 safras choveu 2,2 vezes mais no período. A região é a principal produtora de uvas e mangas de mesa. Na região de Linhares-ES, maior região produtora de mamão do país as precipitações acumuladas também foram recordes.
No principal polo produtor de maçãs, a Região Sul, o cenário é o oposto. As chuvas na região de Vacaria, no mesmo período, foram aproximadamente metade do volume médio ocorrido nos últimos 5 anos.
No começo de 2022, as chuvas haviam atingido níveis máximos, o que também reduziu a oferta das frutas no 1º semestre. A expectativa era que os bons ventos do verão trouxessem aumento das vendas no segundo semestre, mesmo com a concentração da colheita no período. Contudo, as chuvas frustraram o ano para os fruticultores, principalmente, aqueles voltados para o mercado externo com a baixa oferta de produto com qualidade.
A queda da produção refletida nas exportações
Em 2021, o setor bateu recorde de embarques, que acumularam valor acima de USD 1 bi, com acesso a novos mercados e expansão de volume em países já consolidados e com preços maiores do que aqueles praticados nos anos anteriores. Contudo, em função das perdas de volume e de qualidade em 2022, o setor teve um ano pior que o de 2021.
A receita dos embarques externos entre janeiro e novembro de 2022 somou USD 921 mm, 15,5% menor do que o mesmo período do ano passado.
O volume embarcado correspondeu a 899 mil toneladas, queda de 19% no mesmo período. As 5 principais frutas responderam por volta de 80% da queda do volume nos 11 primeiros meses do ano, sendo maçãs (-64 mil t, -65% YoY); mangas (-55,2 mil t, -22,5%); melões (-33,6 mil t, -15,7%); uvas (-23 mil t, 35,6%) e bananas (-22 mil t, -22%).
Apesar das quedas significativas dos “carros-chefes” da fruticultura voltada para a exportação, alguns segmentos continuaram mais um ano em expansão, com destaques aos setores de Limas e Limões, com acréscimo de volume em 7% frente ao acumulado em 2021, pêssegos (139%, +3 mil t) e abacates (+24%, +2 mil t), com preços em USD significativamente melhores, com exceção das cotações de abacate que foram 9,2% menores.
Além da perda da qualidade da fruta, a oferta maior de outros países competidores, no caso da uva e da manga, também impactou as vendas externas do Brasil.
No caso das maçãs, outro fator que prejudicou as vendas foi o conflito no Mar Negro. Em 2021, as vendas para o pais russo representaram 21% do volume total. Em 2022, aquele país respondeu por apenas 1% das vendas totais da fruta.
No Vale do São Francisco e no ES, os impactos sentidos nas exportações derivaram do desarranjo da oferta das frutas ao longo do ano associado às chuvas no início do ano, bem como as atuais, o que gerou aumento de custo nas lavouras com fungicidas e outros defensivos.
Contudo, a baixa oferta e o aumento sazonal do consumo de frutas frescas à reboque das festas de fim de ano, impulsionaram os preços domésticos mesmo no momento da colheita. Ainda assim, as margens devem ser comprimidas nessa safra em função da redução de oferta e do aumento dos preços dos insumos e do maior uso de defensivos.
Além disso, no caso das maçãs, além da falta de chuvas, o setor também teve competição interna com as frutas importadas pela Argentina e Chile.
Pontos de atenção nos próximos meses
O hegde de câmbio, principalmente, EUR e USD é crucial para minimizar a exposição ao descasamento de moedas entre as despesas e recebimentos, o que é fundamental para controlar os riscos em períodos de grande volatilidade como o atual.
Além disso, a La Niña deve perder força nos próximos meses, podendo normalizar o regime de chuvas e, assim, contribuir para melhorar a qualidade e o volume produzido. No entanto, os impactos dessa intempérie devem ser sentidos na próxima safra, o que combinado com a redução do custo de fertilizantes poderá contribuir para aumentar as margens do setor em 2023.