Panorama do mercado de vinhos

Por Consultoria Agro

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Mercado nacional e internacional de vinhos

A produção mundial de vinhos em 2021 foi de 250 milhões de hectolitros* (4% menor do que em 2020), valor que se aproximou da safra de 2017 (247 milhões de hectolitros*) que, por sua vez, representou a menor produção nos últimos vinte anos. Isso ocorreu devido a uma quebra de safra por condições climáticas desfavoráveis, geadas no inverno e alta umidade no verão, nos principais produtores mundiais: Itália (-9%), Espanha (-14%) e França (-27%).

No Brasil, no entanto, houve aumento da produção, o que permitiu também um avanço das exportações. Segundo a Ideal Consulting, entre janeiro e setembro de 2021 a exportação de vinhos brasileiros aumentou 66% em volume e 52% em valor, atingindo um recorde de 9,6 milhões de dólares. Realizando uma análise dos destinos, o Paraguai se consolidou como nosso maior comprador, aumentando em 90% sua importação de vinhos brasileiros, sendo responsável por 79,5% dos vinhos exportados; Estados Unidos e China obtiveram quedas na importação de vinhos brasileiros em 72,7% e 55%, respectivamente; e, Haiti e Rússia surgiram como mercados potenciais para a compra destes produtos.

Gráficos de linhas e barras com a produção mundial de vinhos e exportações brasileiras.
Fonte: OIV e Ideal Consulting

No cenário internacional, a Itália figura como maior produtora mundial de vinhos, seguida por Espanha, França, Estados Unidos e Austrália. O Brasil se encontra na 14ª posição, com uma produção de 3,6 milhões de hectolitros por ano.

Já olhando para o consumo, segundo a Organização Internacional de Videiras e Vinhos, o consumo mundial de vinhos caiu pelo terceiro ano seguido, atingindo em 2020 seu menor valor desde 2002. Movimento semelhante ocorreu na crise financeira de 2009, o que sugere que possa ter ocorrido uma contínua redução de consumo em 2021 associado ao Covid-19 e que poderia se repetir em 2022. Os maiores consumidores mundiais atualmente são Estados Unidos, França, Itália, Alemanha e Reino Unido, que juntos são responsáveis pelo consumo de 49% do vinho produzido mundialmente.

O Brasil, por sua vez, consumiu 4,3 milhões de hectolitros em 2020, aumento de 18,4% quando comparado com o mesmo período no ano anterior e maior volume desde 2000. Isso se deve à mudança de hábitos dos consumidores durante a pandemia, que passaram a consumir a bebida com maior frequência dentro de casa.

Gráfico de pizza participações por país no mercado de vinhos.
Fonte: Italian Wine Central, Forbes

Segundo dados da Embrapa, os vinhos finos, elaborados com uvas Vitis Vinifera L., apresentaram um consumo 32% maior quando comparados os anos de 2020 e 2019. E, as importações também aumentaram em 29%. Os vinhos de mesa, elaborados a partir de uvas americanas, por sua vez, representaram 85% das importações do país, com aumento de 29% no volume e 17% no valor. O preço médio pago por estes vinhos foi de USD 2,74/L, redução de 9% quando comparado com 2019.

Entretanto, após o forte avanço do ano anterior, em 2021, segundo a Ideal Consulting a comercialização caiu 2%, para 4,84 milhões de hectolitros. Além disso, chama atenção o baixo consumo per capita brasileiro, estimado pela consultoria, em 2,64 litros/ano em 2021, enquanto Portugal, o maior consumidor mundial em termos per capita absorveu 69 litros/ano.

Lideranças do setor apontam que uma das razões para a baixa inserção da bebida no mercado interno é a alta carga tributária, de cerca de 52%, bem acima dos 20% nos EUA, Argentina e países europeus.

Produção e comercialização no Rio Grande do Sul

No Brasil, 90% da produção de vinhos é realizada no Sul do país, principalmente na região da Serra Gaúcha. Em 2020, no Rio Grande do Sul, foram produzidas 745 mil toneladas de uvas voltadas principalmente para a confecção de vinhos de mesa e sucos. Esse valor representou um aumento de 10,34% quando comparado com 2019. O mesmo aconteceu para os estados de Santa Catarina e Paraná, com aumento de 1,45% e 19,91%, respectivamente.

Analisando a série histórica da Embrapa Uva e Vinho de comercialização de vinhos de mesa do Rio Grande do Sul, podemos observar uma diminuição no volume de vendas nos anos de 2016 a 2019 quando comparados com os períodos anteriores e uma recuperação em 2020, mas ainda em níveis abaixo dos visualizados dez anos atrás. Ainda assim, a safra de 2020 ficou conhecida como a “safra das safras” pela alta qualidade das uvas produzidas, graças às altas temperaturas no verão na Região Sul.

Além da maior absorção doméstica dos últimos anos, segundo a União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), no ano de 2021, pela primeira vez, a comercialização de rótulos finos, nacionais ou importados (217 milhões de litros) superou a dos vinhos de mesa (205 milhões de litros), sinalizando crescente interesse dos consumidores brasileiros pelos vinhos de maior qualidade.

Gráfico de linhas e barras comercialização e produção de vinhos no RS.
Fonte: Embrapa Uva e Vinho

Perspectivas para 2022

O vinho se tornou a bebida da pandemia aumentando sua base de consumidores no país para 51 milhões de pessoas. Em 2022, estima-se um aumento ainda maior neste número.

Com a geada nos vinhedos da Europa, os preços para importação já aumentaram mais de 20% no final de 2021. Além disso, o aumento no preço dos insumos e de logística irá resultar em um aumento nos custos de produção e, consequentemente, nos preços de comercialização, então espera-se uma alta nestes nos próximos meses.

Mas, também há estimativas de um acréscimo ainda maior na demanda para 2022 no mercado interno como anteriormente citado, o que irá aumentar a competitividade dos vinhos brasileiros no mercado consumidor.

No começo de 2022, os destaques foram para os problemas na safra relacionados aos efeitos do La Niña, que penalizam a Região Sul com seca, o que foi agravado pela falta de profundidade dos solos, resultando na produção de cachos de uva murchos. As perdas para essa safra não serão tão significativas, mas o que preocupa os produtores é a morte das videiras, que podem levar mais de três anos para ter sua primeira safra, prejudicando a produtividade das propriedades agrícolas nos próximos anos.

Para as exportações, o ambiente pode ser mais desafiador neste ano, caso a atual apreciação cambial perdure por um tempo maior, afinal, o recorde de vendas externas obtido no ano passado também teve a ajuda do fortalecimento da moeda americana.

Gráfico de linhas com a média de preços de vinho no EUA.
Fonte: U.S. Bureau of Labor Statistics