Preocupações com China e o agronegócio no Brasil
Confira os principais impactos do cenário chinês no agronegócio brasileiro
Por Consultoria Agro
Preocupações soprando da China
A China vem enfrentando forte elevação dos preços da energia elétrica, além de interrupções de fornecimento, o que por sua vez impacta no ritmo das atividades industriais e, consequentemente, eleva os riscos para o agronegócio brasileiro, que é bastante dependente das importações de princípios ativos, defensivos agrícolas e fertilizantes vindos do país asiático. Adicionalmente, caso esses eventos tenham reflexos relevantes sobre o crescimento econômico chinês, indagações surgem sobre quais seriam os impactos sobre as exportações de produtos agropecuários do Brasil.
As razões para a elevação das cotações da energia estão atreladas ao aumento da demanda por energia elétrica neste período de transição da pandemia, ao cenário climático mais desafiador, ao aumento de preços do gás, combustível também utilizado na geração a partir das térmicas, e restrições de produção a partir da queima de carvão – fonte primária de energia no país representando 60% do total – derivadas das preocupações ambientais e dos compromissos assumidos de redução de emissões. Além disso, como o governo federal controla o preço da energia no país, essa apreciação das cotações do carvão e do gás implica em reduções das margens das usinas elétricas, o que desestimula o aumento da oferta.
Esta situação se soma a outros efeitos colaterais da pandemia que já vinham preocupando, como a explosão dos preços dos fretes marítimos, escassez de contêineres e lentidão nas operações portuárias, com o mundo reduzindo as restrições de mobilidade, o que vem gerando forte demanda por matérias primas e produtos acabados, ao mesmo tempo em que a oferta não tem conseguido responder com a devida velocidade.
Outra fonte de preocupação recente na China é o caso da incorporadora Evergrande, com grande risco de insolvência mediante uma dívida de USD 300 bi. Embora uma possível falência seja considerada, não se espera que isto leve a uma crise sistêmica mundial semelhante ao evento do Lehman Brothers em 2008, dado que a exposição do sistema financeiro à empresa é relativamente baixa, de modo que o governo deve buscar minimizar impactos sobre outras companhias do setor. Porém, isto tende reduzir ainda mais as perspectivas para o crescimento do PIB chinês, que já vinha sendo revisto para baixo em função dos impactos da Covid e, mais recentemente, devido às dificuldades no abastecimento de energia.
Os impactos para as exportações do agronegócio
A China é a principal parceira comercial do agronegócio brasileiro, tendo sido responsável por aproximadamente 34% do total das exportações do setor em 2020. A pauta de exportação é bastante concentrada em produtos básicos à alimentação local, o que os fazem menos sujeitos às variações de renda, embora caso testemunhemos uma desaceleração maior da economia, a taxa de crescimento esperada da demanda poderá ser afetada.
Entretanto, há produtos agropecuários exportados não essenciais ao consumidor chinês ou de maior valor e, portanto, elásticos à renda, caso do algodão e da carne bovina, por exemplo, que poderão enfrentar um ambiente mais desafiador se houver uma grande desaceleração da economia local.
Olhando os fertilizantes e defensivos
A China é uma das maiores fabricantes e fornecedoras de insumos agrícolas para o Brasil. Com isso, os impactos da crise energética nas regiões industriais chinesas que causam redução ou até paralização das atividades elevam o risco de disponibilidade desses insumos além de afetar ainda mais as cotações.
No caso de fertilizantes, a China é o maior produtor mundial de nitrogenados e fosfatados, sendo responsável por 29% e 39%, respectivamente, do volume global produzido. Para o Brasil, os chineses são o 2º maior fornecedor de nitrogenados, com 20% do total importado e, no caso dos fosfatados, a China é origem de 7% das aquisições nacionais.
Já há notícias de paralizações ou redução das atividades de produção de fertilizantes devido à falta ou interrupção de fornecimento de energia. Além disso, a grande maioria da produção local ainda utiliza o carvão ao invés de gás natural, o que as torna mais vulneráveis às restrições das políticas ambientais. Não se pode deixar de mencionar que as plantas que utilizam gás natural em seus processos de produção têm sido fortemente impactadas pelo aumento dos preços do insumo. Nesse cenário, não se descarta também a possibilidade de a China controlar as exportações de produtos.
A questão, no entanto, não se limita à China, já que os preços recordes do gás natural pressionam outras partes do mundo a diminuir a produção, como a redução da capacidade de produção de algumas plantas na Europa.
Além dos impactos na produção de fertilizantes, as restrições de energia nas províncias chinesas também começam a afetar as indústrias de defensivos agrícolas. É importante ressaltar que a China é um dos maiores países produtores e fornecedores dessa classe de produtos. Em relação às importações brasileiras, um exemplo da importância da China na origem de defensivos é o glifosato, já que mais de 95% do volume é proveniente do país.
Segundo nota da CCAB (Companhia das Cooperativas Agrícolas do Brasil) veiculada no site Notícias Agrícolas1 a província de YunNan, que é a maior produtora de fósforo amarelo da China, reduziu a produção causando desabastecimento na produção de princípios ativos como glifosato, acefato e malationa e, consequentemente, gerando aumento de preços.
Ainda segundo dados da nota da CCAB, duas importantes províncias com indústrias produtoras poderão reduzir ou paralisar as produções de princípios ativos importantes. A província de Shandong será inspecionada pelo governo chinês e pode impactar produtos como imidacloprido, acetamiprido, paraquate, glufosinato, nicosulfurom, pendimetalina, entre outros. A província de Hebei também será inspecionada em novembro e poderá sofrer paralisações no 1º trimestre de 2022, impactando as produções de abamectina emamectina, tiametoxam, imidacloprido, glicina (glifosato e glufosinato), triazinas, entre outros.
Acompanhar é preciso...
Estes dois temas recentes – crise energética e desaceleração econômica decorrente da Evergrande – adicionam preocupação para o Agro brasileiro e demandam acompanhamento, especialmente o primeiro, já o que os impactos do encarecimento e até da disponibilidade de insumos podem ser mais duradouros, o que afetaria ainda mais os já elevados custos de produção.