Automação e robótica, mercado em expansão

O ciclo de investimentos em robótica

De acordo com a PitchBook, o setor global de robótica vem experimentando uma retomada vigorosa dos investimentos de venture capital desde 2024, puxada pelo avanço da inteligência artificial generativa. Só no primeiro trimestre de 2024, mais de US$ 2,2 bilhões foram investidos em startups de robótica, um aumento de 28% em relação ao mesmo período do ano anterior. O número de rodadas de financiamento cresceu 16%, evidenciando o apetite renovado dos investidores por soluções automatizadas inteligentes.

Gigantes como a Meta estão ampliando sua atuação nesse campo. Um memorando interno revelado pela CNN Brasil mostrou que a empresa planeja investimentos pesados em robôs humanoides movidos por IA, com o objetivo de explorar novas interfaces homem-máquina e expandir suas aplicações para além do metaverso. O mercado de robôs humanoides poderá alcançar impressionantes US$ 139 bilhões até 2035, segundo projeções citadas pelo Poder360 – uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) estimada em cerca de 37% ao ano.

Robôs industriais: base da revolução 4.0

Enquanto os robôs humanoides ainda despertam certo ceticismo e fascínio, os robôs industriais são uma realidade consolidada, especialmente em setores como automotivo, metalúrgico e eletrônico. Países como a China já operam o que vem sendo chamado de "exército de robôs industriais", com mais de 1,1 milhão de robôs em operação, utilizados não apenas para produção em massa, mas também em tarefas logísticas, inspeção automatizada e controle de qualidade. A densidade robótica chinesa (número de robôs por 10 mil trabalhadores na indústria) ultrapassou 300 unidades, colocando o país entre os líderes globais em automação.

No Brasil, o avanço também é perceptível, embora em ritmo mais moderado. Segundo dados da Agência Gov, o governo federal anunciou um pacote de R$ 186,6 bilhões para acelerar a transformação digital da indústria nacional até 2026. A chamada "Nova Indústria Brasil" inclui R$ 66 bilhões em crédito subsidiado, R$ 80 bilhões via BNDES, e o restante em linhas de pesquisa e infraestrutura para digitalização e automação, com foco em tecnologias como robótica, IA, sensores industriais e conectividade 5G.

Atualmente, estima-se que o Brasil possua cerca de 20 mil robôs industriais em operação, com concentração nas regiões Sudeste e Sul. A densidade robótica brasileira é inferior a 50 unidades por 10 mil trabalhadores, muito abaixo da média mundial (141 unidades), mas isso indica um enorme espaço para crescimento.

Oportunidades no brasil: do chão de fábrica ao varejo

Apesar dos desafios estruturais, o Brasil começa a mostrar sinais de maturidade tecnológica e interesse privado em soluções robóticas. Além disso, o país possui uma base industrial diversificada e centros de excelência em engenharia, o que cria condições favoráveis para parcerias com startups e universidades em desenvolvimento de hardware e software para robótica. Áreas como agronegócio, mineração e saúde pública oferecem cenários ideais para aplicação de robôs autônomos, seja na coleta de dados em campo ou na realização de tarefas repetitivas e perigosas.

O setor de saúde, por exemplo, tem adotado robôs para cirurgias assistidas, esterilização de ambientes e transporte de medicamentos. Já no agronegócio, robôs semiautônomos têm sido utilizados em pulverização de lavouras e colheita mecanizada com precisão, especialmente no Centro-Oeste.

Robôs humanoides: entre o simbólico e o funcional

Embora a maior parte do valor gerado pela robótica ainda esteja concentrada nos sistemas industriais, os robôs humanoides têm atraído a atenção por sua promessa de interação social e capacidade de operar em ambientes projetados para humanos. Modelos como os da Figure AI, Agility Robotics e Xiaomi estão sendo projetados para caminhar, manipular objetos e interagir com humanos de forma natural. Combinados com IA generativa, esses robôs podem ser treinados rapidamente para executar tarefas complexas em ambientes domésticos, hospitalares ou comerciais.

A médio prazo, espera-se que os humanoides desempenhem papéis auxiliares em setores com escassez de mão de obra, como enfermagem, serviços de atendimento ao cliente e segurança. No entanto, o custo de produção — atualmente estimado entre US$ 100 mil e US$ 300 mil por unidade — e a eficiência energética ainda são barreiras relevantes para sua adoção em larga escala.

Startups brasileiras: um Ecossistema em ebulição

Com a injeção global de capital em robótica e inteligência artificial, as startups brasileiras estão diante de uma oportunidade sem precedentes. O ambiente de inovação no Brasil tem amadurecido: há mais de 13 mil startups ativas no país, segundo a Abstartups, e um número crescente foca em automação, robótica, machine learning e IA aplicada. A combinação de alto nível técnico local, problemas complexos a resolver (como infraestrutura precária, logística ineficiente e escassez de mão de obra em zonas rurais) e o acesso crescente a recursos de fomento público e privado cria condições ideais para o surgimento de soluções inovadoras com potencial global.

A adesão de programas como o Startup Brasil, os investimentos via Finep, os novos editais do BNDES Garagem e o estímulo ao sandbox regulatório para robôs autônomos podem acelerar a criação de novos negócios no setor. Além disso, com a atenção global voltada para soluções eficientes, sustentáveis e de baixo custo, startups brasileiras têm a chance de se posicionar como fornecedoras estratégicas para países emergentes com características semelhantes.

Conclusão: um futuro automatizado e inteligente

Os investimentos em robótica, tanto industrial quanto humanoide, refletem uma transformação profunda e irreversível da forma como produzimos, trabalhamos e interagimos com máquinas. No cenário global, a convergência entre robótica e inteligência artificial vem criando novas possibilidades tecnológicas e oportunidades de mercado bilionárias. No Brasil, a combinação de incentivos públicos, crescimento da demanda por automação e iniciativas privadas pioneiras sinalizam um caminho promissor para a robótica nacional.

Para startups, o momento é particularmente estratégico. Com criatividade, apoio institucional e conexão com cadeias produtivas locais e internacionais, o Brasil pode deixar de ser apenas consumidor de robôs para se tornar exportador de soluções robóticas inteligentes, com produtos desenhados para os desafios únicos dos mercados emergentes. O futuro está em construção — e ele já conta com braços mecânicos e mentes algorítmicas.

Fontes

https://pitchbook.com/news/articles/ai-fuels-vc-interest-robotics-funding-grows-2024

https://www.cnnbrasil.com.br/economia/macroeconomia/meta-planeja-investimentos-em-robos-humanoides-movidos-a-ia-diz-memorando/ https://agenciagov.ebc.com.br/noticias/202409/chips-nuvens-robos-brasil-avanca-na-transformacao-digital-da-industria-com-r-186-6-bilhoes https://www.bbc.com/portuguese/articles/c4g27pv1r5mo

https://www.correiobraziliense.com.br/colunistas/fabiano-moraes/2025/04/7119797-empresario-brasileiro-investe-quase-rs-25-milhoes-em-robos-e-cybertruck-e-e-comparado-a-elon-musk.html

https://oglobo.globo.com/economia/tecnologia/noticia/2025/04/24/china-tem-um-exercito-de-robos-movidos-por-ia-ao-seu-lado-na-guerra-comercial-com-os-eua-e-outros-paises.ghtml

https://www.poder360.com.br/poder-tech/mercado-de-robos-humanoides-valera-us-139-bi-ate-2035/

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