Avanços no panorama dos dados móveis
O avanço contínuo das tecnologias móveis está impulsionando uma nova fase de conectividade global, com o 5G assumindo um papel central na transformação digital de economias, indústrias e hábitos de consumo. O Ericsson Mobility Report de junho apresenta um panorama abrangente sobre a evolução das assinaturas móveis, o impacto crescente da inteligência artificial generativa (GenAI), e as tendências de tráfego e infraestrutura de rede. Este artigo analisa os principais dados e implicações do relatório, com foco especial na América Latina e nos desdobramentos esperados até 2030.
Por Itaú BBA
Panorama e o crescimento dos dados móveis
O tráfego global de dados móveis continua em ascensão. Em 2024, atingiu 164 exabytes (EB) por mês e deve mais que dobrar até 2030, chegando a 431 EB mensais. Esse crescimento reflete tanto o aumento no número de assinaturas quanto a maior intensidade de uso, especialmente em vídeo, o que já representa 74% do tráfego móvel global.
A média de consumo mensal por smartphone no mundo é de 19 GB, mas há variações significativas entre regiões. A América Latina, por exemplo, registra uma média de 13 GB/mês desde 2024, com previsão de atingir 29 GB/mês em 2030, uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 14%. Esse avanço é impulsionado por melhorias nos dispositivos, redes mais eficientes e a popularização de aplicações que demandam maior largura de banda, como streaming em alta definição, videochamadas, e agora, ferramentas de IA multimodal.
A América Latina: um mercado em aceleração
Na América Latina, o 5G ainda está em expansão, com 63 milhões de assinaturas em 2024 (cerca de 9% do total da região), mas deve alcançar 480 milhões até 2030, o equivalente a 60% das assinaturas móveis regionais.
O leilão de espectro 5G está em curso em vários países: Costa Rica já concluiu seu processo em 2025, enquanto El Salvador, Paraguai, México e Peru devem avançar ao longo do ano. O 4G ainda domina, com 72% das assinaturas, mas começa a ceder espaço ao 5G conforme os dispositivos se tornam mais acessíveis e as redes se expandem. Apesar do crescimento promissor, desafios permanecem: infraestrutura desigual, marcos regulatórios complexos e pressões econômicas exigem estratégias coordenadas entre governos, operadoras e parceiros tecnológicos para garantir um avanço sustentável.
5G representará um terço das assinaturas em 2025
Globalmente, o 5G está prestes a se tornar a principal tecnologia de acesso móvel. Em 2025, responderá por um terço das assinaturas móveis globais — cerca de 2,9 bilhões, e deve alcançar 6,3 bilhões em 2030, representando dois terços do total.
O ritmo de adoção varia entre regiões. Enquanto América do Norte e Ásia Oriental já ultrapassaram 50% de penetração em 2024, a América Latina avança em ritmo moderado. As tecnologias 2G e 3G continuam a ser desativadas globalmente, reforçando a migração para redes mais modernas. A cobertura populacional 5G fora da China deve atingir 85% em 2030, embora a cobertura de bandas médias e que são essenciais para velocidade e capacidade ainda exijam avanços significativos em regiões como América Latina, que registrava cerca de 20% de cobertura de mid-band no fim de 2024.
A nova demanda por conectividade
A IA generativa (GenAI) está remodelando o uso da conectividade. Em dezembro de 2024, 115 milhões de apps de IA foram baixados globalmente, e as aplicações multimodais (texto, voz, vídeo) estão se popularizando. O ChatGPT lidera o tráfego gerado por IA móvel, respondendo por 60% do volume de dados de IA nas redes medidas e 70% do tráfego de uplink (envio de dados) desse segmento.
A arquitetura de rede precisará evoluir para suportar essas novas demandas. Aplicações com IA personalizada, especialmente assistentes visuais em óculos AR e dispositivos móveis, exigem alta performance em uplink, latência mínima e conectividade contínua, características que só redes 5G standalone (SA) com slicing de rede podem oferecer.
Espera-se que a adoção de AR e smart glasses cresça consideravelmente até o final da década, com impactos significativos no tráfego de rede e na necessidade de espectro adicional, especialmente em bandas médias e centimétricas.
Quantificando o futuro até 2030
As previsões da Ericsson para 2030 são ambiciosas e revelam transformações estruturais:
- Assinaturas móveis totais: passarão de 8,7 bilhões (2024) para 9,4 bilhões (2030).
- 5G: crescerá de 2,3 bilhões para 6,3 bilhões de assinaturas (CAGR de 18%).
- Tráfego móvel total: saltará de 164 EB/mês (2024) para 431 EB/mês (CAGR de 17%).
- FWA (acesso fixo sem fio): chegará a 350 milhões de conexões, sendo 80% via 5G, respondendo por 35% do tráfego móvel total.
O crescimento da conectividade fixo-móvel (FWA), especialmente em regiões onde a infraestrutura cabeada é limitada, também será crucial. A América Latina apresenta grande potencial nesse campo, à medida que o 5G se consolida como alternativa de acesso rápido, confiável e de menor custo para domicílios e empresas.
Oportunidades para o ecossistema no Brasil
Para empresas de tecnologia no Brasil, acompanhar essa transformação é não apenas estratégico, mas vital. O avanço da conectividade 5G e a integração acelerada de IA nos dispositivos e nas redes representam uma janela única de oportunidades para startups e empresas que atuam em áreas como realidade aumentada (AR), aplicações multimodais de IA, dispositivos móveis inteligentes, plataformas de streaming, gaming, automação industrial e serviços de edge computing.
Startups que desenvolvem soluções baseadas em assistentes virtuais, processamento de vídeo em tempo real, wearables conectados ou serviços de mídia descentralizada podem ser especialmente beneficiadas pelo novo paradigma de “conectividade sob demanda” possibilitado por slicing de rede e APIs programáveis. Ignorar essas tendências pode significar ficar atrás em setores onde a diferenciação tecnológica é determinante. Por isso, acompanhar de perto os desdobramentos do 5G SA e o impacto da GenAI nas redes é fundamental para posicionar-se como protagonista na próxima geração de serviços digitais, tanto no mercado doméstico quanto internacional.
Conclusão
A convergência entre 5G, IA generativa, redes programáveis e dispositivos inteligentes está redefinindo a mobilidade digital global. A América Latina, embora ainda em fase de expansão do 5G, apresenta um potencial robusto de crescimento, tanto em assinaturas quanto em inovações impulsionadas por IA e novos modelos de conectividade.
A transição para uma conectividade diferenciada, com redes projetadas para aplicações específicas, será essencial para sustentar essa evolução. As operadoras que souberem antecipar as demandas futuras e explorar os recursos do 5G standalone e das redes programáveis terão vantagem competitiva no fornecimento de experiências imersivas, confiáveis e sob medida. O futuro da mobilidade não será apenas mais rápido, mas também mais inteligente, personalizado e essencialmente conectado.
Nota:este conteúdo é meramente informativo e não constitui recomendação de investimento. As informações são baseadas em fontes consideradas confiáveis, mas podem não refletir todas as condições de mercado. O Itaú BBA não se responsabiliza por perdas, danos ou opiniões expressas no conteúdo deste e demais canais associados ou proprietários. Investimentos diretos em negócios, renda fixa e/ou variável envolvem alto risco e podem sofrer oscilações devido a fatores políticos e econômicos.
Fonte:
Ericsson Mobility Report - Junho 2025.
Nota: este conteúdo é meramente informativo e não constitui recomendação de investimento. As informações são baseadas em fontes consideradas confiáveis, mas podem não refletir todas as condições de mercado. O Itaú BBA não se responsabiliza por perdas, danos ou opiniões expressas no conteúdo deste e demais canais associados ou proprietários. Investimentos diretos em negócios, renda fixa e/ou variável envolvem alto risco e podem sofrer oscilações devido a fatores políticos e econômicos.