Brasil rumo à COP 30: o papel do setor privado

Por Itaú BBA

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A COP 30 (Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas) ocorrerá em Belém, no Pará, no final do próximo ano. Será a primeira vez que a Conferência acontecerá na Amazônia e, por este motivo, já tem sido informalmente chamada de “COP das Florestas”. A escolha do Brasil como sede foi uma notável vitória diplomática para o país e para a ambição de ser uma liderança no tema das mudanças climáticas. O desafio diplomático é grande e exige forte articulação dos setores público e privado para demonstrar que o país fez a lição de casa.

Dezenas de milhares de pessoas entre cientistas, diplomatas, líderes globais, CEOs, representantes da sociedade civil e ativistas estarão presentes na capital paraense, ambiente promissor para conectar a discussão climática global a temas de interesse do país, como mudança no uso da terra, biodiversidade e agricultura de baixo carbono.

Desde 2015, as COPs têm focado na implementação do Acordo de Paris, e, até a COP 30 os países signatários do Acordo tem o desafio de revisar suas contribuições nacionalmente determinadas (NDCs), mecanismo pelo qual cada país detalha como pretende contribuir com a limitação da elevação da temperatura global em 1,5°C. A expectativa é de que as novas NDCs sejam mais ambiciosas, mas, sobretudo, factíveis.

A NDC brasileira foi estabelecida em 2016 e atualizada pela última vez em 2023. Nos quase 10 anos desde a assinatura do Acordo de Paris, o Brasil e o mundo passaram por diversos aprendizados que precisam estar refletidos na nova NDC, que deve levar em conta as especificidades dos diferentes setores de nossa economia.


Precisamos demonstrar e fazer uso de nossas fortalezas, como a matriz energética renovável, a ampla disponibilidade de soluções baseadas na natureza e o potencial na agricultura de baixo carbono, ao mesmo tempo em que endereçamos desafios como a contenção do desmatamento ilegal, a regularização de propriedades rurais por meio do Cadastro Ambiental Rural (CAR), a regulamentação do mercado de carbono e o estabelecimento de uma taxonomia de atividades sustentáveis.

O setor privado também já tem feito sua parte e as agendas ESG e climática têm se transformado em prioridades das empresas e a pressão por mais ambição e, sobretudo por mais transparência, tem chegado de diversos stakeholders.

Por tudo isso, vale lembrar de algumas iniciativas que reúnem o setor privado em torno do fortalecimento de uma economia de baixo carbono, como o Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável, que reúne algumas das maiores empresas do Brasil, a Net Zero Banking Alliance, surgida no âmbito da ONU para congregar instituições financeiras de todo o mundo em torno da descarbonização e a Glasgow Financial Alliance for Net Zero (GFANZ) surgida na COP 26 e que recentemente criou um capítulo específico para o Brasil.

O Itaú Unibanco faz parte destas e diversas outras iniciativas, e elas são provas de que o setor privado reconhece que, atuando em conjunto, as companhias terão muito mais força para promover as mudanças necessárias para estabilizar a elevação da temperatura global.

Antes de Belém, contudo, teremos a COP 29, em Baku, no Azerbaijão, no final deste ano. Esta, que deve se tornar a COP das Finanças Climáticas, terá como uma das pautas mais urgentes a definição de novas metas para o financiamento da mitigação e adaptação às mudanças climáticas, e a própria operacionalização do fundo de perdas e danos. A transição climática deve mobilizar recursos financeiros públicos e privados importantes, mas ainda esbarramos na discussão de quem deve custear a transição dos países em desenvolvimento, discussões estas que podem se estender à COP no Brasil.

Estamos em um momento crucial: os efeitos das mudanças climáticas já começam a ser sentidos, e países e empresas são provocados -até mesmo, convocados- a aumentar sua ambição. É uma corrida contra o relógio, e a COP 30 é o momento de dar a esta discussão o peso e a relevância que ela merece e colocar o Brasil num papel de destaque nesta agenda.

Por Luciana Nicola, diretora de Relações Institucionais e Sustentabilidade do Itaú Unibanco.