Captação seletiva no venture capital para startups

O primeiro trimestre de 2025 trouxe uma visão clara do estado atual do mercado de venture capital, refletido tanto nos dados da plataforma Carta quanto nas percepções de investidores em Nova York. A conclusão é evidente: levantar capital está mais difícil do que nunca, mas para as empresas que atendem aos critérios exigidos, o interesse dos investidores permanece forte. Estamos diante de um mercado que prioriza qualidade em vez de quantidade. A exigência aumentou, mas as startups com bons fundamentos continuam atraindo capital. Embora o volume de negócios tenha caído, a competição por empresas de alto desempenho segue acirrada, o que está pressionando positivamente os valuations. A seguir, destacam-se as principais tendências observadas no início de 2025.

Por Itaú BBA

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Avaliações em alta

As avaliações pré-investimento aumentaram em praticamente todas as fases. Rodadas Seed alcançaram uma mediana de US$ 16 milhões, alta de 18% em relação ao mesmo período do ano anterior. Já as Series A chegaram a US$ 48 milhões, uma elevação de 9%. Embora os investidores estejam cada vez mais seletivos, uma vez que uma startup comprova seu valor — com métricas sólidas, tração real, equipe qualificada e alto potencial — há uma verdadeira disputa entre os fundos para participar da rodada. Essa competição permite que as startups levantem capital com valuations mais robustos e termos relativamente favoráveis.

Menor volume, maior seletividade

O volume de rodadas Seed caiu 28% em relação ao primeiro trimestre de 2024, enquanto o capital levantado nessas rodadas recuou 37%. Nas Series A, o número de rodadas caiu 10%. Isso demonstra um ambiente mais seletivo, no qual captar investimento tornou-se mais desafiador. Ainda assim, startups com operações enxutas e orientadas por métricas conseguem superar essa barreira e garantir os recursos necessários.

Redução da diluição dos fundadores

Uma consequência direta da seletividade do mercado é a diminuição da diluição dos fundadores. Na mediana, a diluição em rodadas Series A caiu de 20,9% para 17,9%, tendência observada também em outras fases. Em um ambiente com menor disponibilidade de capital, preservar participação societária torna-se ainda mais relevante — ponto enfatizado por diversos investidores durante reuniões com gestores de fundos.

Ritmo mais lento entre rodadas

O intervalo médio entre as rodadas Series A e B aumentou para 2,8 anos, o maior já registrado. Com menos cheques sendo emitidos, as startups estão estendendo o runway e adotando maior disciplina financeira. Essa desaceleração é vista como parte de um reequilíbrio estrutural no ecossistema de venture capital.

Estabilidade no volume total de recursos

Apesar do menor número de rodadas — apenas 1.122 no trimestre, o menor número para um primeiro trimestre desde 2018 — o volume total de capital investido manteve-se estável em US$ 21 bilhões, praticamente em linha com o mesmo período de 2024. Historicamente, o primeiro trimestre tende a ser o mais fraco do ano, com expectativa de maior atividade nos meses seguintes. Vale lembrar que esses dados refletem apenas a base da Carta, não o setor como um todo.

Down rounds ainda presentes, mas estáveis

Cerca de 19% das rodadas no primeiro trimestre foram down rounds — isto é, rodadas realizadas a valuations inferiores aos da rodada anterior. Esse percentual é consistente com trimestres recentes, mas superior ao padrão anterior a 2023. Trata-se de um reflexo da correção pós-boom de 2021, ainda em andamento, especialmente para empresas que captaram em valuations inflacionados no auge do ciclo.

Conclusão

O mercado de venture capital em 2025 está longe de paralisado, mas passou por uma transformação importante. O capital segue disponível, mas é direcionado com mais rigor. Startups com execução sólida, eficiência comprovada e um caminho claro para geração de valor continuam encontrando espaço e atraindo investidores. O sentimento entre os fundos em Nova York confirma os dados: o cenário é desafiador, mas dinâmico. Em vez de um ciclo fechado, vivemos uma fase de redefinição — e os fundadores mais preparados estão liderando essa transição com estratégia e propósito.

Por Julia De Luca, Vice-presidente de tecnologia para o Investment Banking no Itaú BBA

Nota:Este conteúdo é meramente informativo e não constitui recomendação de investimento. As informações são baseadas em fontes consideradas confiáveis, mas podem não refletir todas as condições de mercado. O Itaú BBA não se responsabiliza por perdas, danos ou opiniões expressas no conteúdo deste e demais canais associados ou proprietários. Investimentos diretos em negócios, renda fixa e/ou variável envolvem alto risco e podem sofrer oscilações devido a fatores políticos e econômicos.