Como o setor privado pode apoiar a transição energética?
Por Itaú BBA
Historicamente, cada grande transformação social, econômica e tecnológica esteve diretamente ligada à forma como produzimos e consumimos energia. Foi assim da tração animal à lenha, do carvão à máquina a vapor, do petróleo à eletricidade: a evolução energética moldou civilizações, reconfigurou cidades e redesenhou fronteiras. Hoje, vivemos mais uma dessas etapas: a transição para fontes de baixa emissão e renováveis, como solar, eólica e hidrogênio verde, representa não apenas uma mudança técnica, mas um novo capítulo civilizacional. Trata-se de uma mudança estrutural que precisa ser justa, inclusiva e capaz de gerar desenvolvimento para todos, colocando o clima, a equidade e o futuro das próximas gerações no centro das decisões econômicas.
No Brasil, essa transição já está em ritmo acelerado. Com cerca de 88% da matriz elétrica proveniente de fontes renováveis (ANEEL, 2024), o país ocupa uma posição estratégica para liderar essa agenda global. Segundo o relatório New Energy Outlook Brasil, publicado pela BloombergNEF em 2025, os investimentos necessários para alcançar a neutralidade de carbono no país podem somar até US$ 6 trilhões até 2050.
Esse movimento ganha ainda mais relevância com a aproximação da COP 30, que será realizada em Belém (PA), em novembro de 2025. O governo brasileiro já anunciou que a transição energética será um dos pilares centrais da sua estratégia para o evento. O setor privado tem papel decisivo nesse processo. Seja por meio do financiamento de energias renováveis, da descarbonização das cadeias produtivas ou da inovação tecnológica, as empresas são fundamentais para dar escala e velocidade a essa transformação, que se reflete no avanço do financiamento climático. A COP terá o desafio de avançar nas discussões sobre financiamento climático. A meta é mobilizar US$ 300 bilhões anuais até 2035, provenientes de países desenvolvidos. Esse valor representa uma parte do objetivo da iniciativa “Rota de Baku a Belém”, que busca levantar um total de US$ 1,3 trilhão por ano até 2035, somando recursos públicos e privados para apoiar ações climáticas globais.
E o Itaú faz parte dessa jornada ao garantir, por meio da aquisição de certificados de energia renovável (RECs), que 100% da energia consumida em suas operações no Brasil seja proveniente de fontes renováveis e com emissões zero. Além disso, o banco estabelece metas de descarbonização em setores intensivos em carbono, como a redução de 63% na intensidade de emissões financiadas na geração elétrica até 2030, alinhada ao cenário Net Zero da Agência Internacional de Energia (IEA). Assim, além de promover a saída de operações com termelétricas a carvão, incentiva a mobilidade sustentável por meio do financiamento de veículos de baixa ou zero emissão, com condições diferenciadas, alinhado ao compromisso do banco em apoiar seus clientes na transição para uma economia de baixo carbono.
No Brasil, iniciativas como o Ecoinvest têm papel estratégico nesse contexto. Lançado pelo governo, o programa busca atrair capital internacional para projetos verdes, com foco em infraestrutura sustentável, energias renováveis, uso da terra e adaptação climática. É um mecanismo essencial para destravar investimentos e garantir previsibilidade ao financiamento sustentável.
Temos ainda acompanhado de perto iniciativas promissoras, que vão desde centros de pesquisa como o CINE (Centro de Inovação em Novas Energias), dedicado ao desenvolvimento de tecnologias para geração e armazenamento de energia limpa, até o Cubo ESG, ecossistema de startups que está acelerando soluções de baixo carbono. Também seguimos lado a lado dos nossos clientes, apoiando estratégias de descarbonização e transição energética por meio da assessoria especializada do Itaú BBA.
Para que a transição climática seja justa, se faz necessário garantir que os benefícios sejam para todos — com acesso a geração de empregos, infraestrutura, inovação e à energia. O Norte do Brasil, onde acontecerá a COP 30, ainda enfrenta grandes desafios em termos de desenvolvimento sustentável e infraestrutura, e a realização da conferência pode ser um catalisador para mudanças positivas, trazendo visibilidade e investimentos para a região, por meio de políticas públicas e iniciativas privadas. Além disso, existe um potencial para que as cidades da região se tornem um exemplo de como a preservação ambiental pode ser aliada ao desenvolvimento econômico e social. Neste sentido, o Brasil tem condições, conhecimento e capacidade de inovação para liderar essa transformação. E a COP 30 é a oportunidade de mostrar ao mundo que o futuro da energia — justo, limpo e inclusivo — já começou por aqui.
Artigo assinado pela Luciana Nicola, diretora de Relações Institucionais e Sustentabilidade do Itaú Unibanco.