Deep Tech: A nova fronteira tecnológica.

O conceito de deep tech, ou tecnologia profunda, está redefinindo os limites da inovação global. Baseando-se em avanços científicos e tecnológicos disruptivos, esse ecossistema não só aborda desafios técnicos complexos, mas também busca soluções para problemas sociais e ambientais urgentes. Estima-se, por exemplo, que o mercado global de deep tech crescerá a uma taxa composta anual de 20% até 2027, impulsionado por inovações em IA, biotecnologia e energia renovável. À medida que o setor evolui, ele oferece oportunidades significativas para regiões como o Brasil e a América Latina, que possuem desafios únicos, mas também uma combinação promissora de recursos naturais, capital humano e criatividade. Este artigo explora o potencial do ecossistema de deep tech e discute como o Brasil e a América Latina podem posicionar-se para aproveitar esse cenário.

Por Itaú BBA

05 minutos de leitura

Características do Deep Tech

O deep tech distingue-se por cinco características principais:

  1. Foco em avanços significativos e desafios globais: As startups de deep tech concentram-se em inovações científicas, como exploração espacial e transições energéticas, e buscam soluções para questões como mudanças climáticas e escassez de recursos. Por exemplo, startups na Europa têm investido fortemente no desenvolvimento de materiais recicláveis e baterias de longa duração para veículos elétricos, tecnologias que podem ser adaptadas para as necessidades da América Latina.
  2. Escopo global: Operando em mercados internacionais, as startups de deep tech possuem uma visão ampliada para atender demandas globais. Um exemplo é o aumento de startups latino-americanas participando de aceleradoras globais, como a Y Combinator, em áreas como biotecnologia e IA aplicada.
  3. Alta intensidade de P&D: Essas iniciativas demandam altos investimentos iniciais em pesquisa e desenvolvimento, com foco em hardware e soluções tecnológicas complexas. Segundo dados da McKinsey, cerca de 70% do investimento em deep tech globalmente é destinado a P&D nas fases iniciais.
  4. Equipes técnicas altamente qualificadas: Fundadores de deep tech são geralmente oriundos de contextos acadêmicos ou de P&D corporativo, o que eleva o padrão de conhecimento necessário para competir no setor. Estudos mostram que 45% dos fundadores de deep tech possuem doutorado em áreas técnicas, destacando a necessidade de educação especializada.
  5. Necessidade de financiamentos significativos: Os altos custos iniciais e a necessidade de infraestrutura especializada tornam o setor mais dependente de grandes investidores. O Brasil, por exemplo, tem aumentado os investimentos em P&D com iniciativas como o Programa FINEP Conecta, que incentiva colaborações entre startups e instituições acadêmicas.

Benefícios e Desafios do Deep Tech

O deep tech apresenta uma proposta atrativa para investidores, com retornos financeiros superiores às startups de tecnologia tradicional. Estudos indicam que os fundos de deep tech geram retornos internos médios de 17%, em comparação aos 10% dos fundos de tecnologia tradicional. Isso é possibilitado por fatores como baixa concorrência, maior geração de patentes e acesso a mercados pouco explorados. Por exemplo, 40% das startups de deep tech possuem patentes registradas, mais que o dobro das startups tradicionais.

No contexto da América Latina, os desafios incluem a escassez de financiamento especializado, dificuldades para acessar infraestrutura de P&D e barreiras educacionais. Contudo, com parcerias estratégicas entre universidades, governos e corporações, é possível mitigar esses desafios e transformar o setor em um motor de desenvolvimento regional. A criação de hubs de inovação, como o Porto Digital no Recife, tem sido um exemplo de sucesso na promoção de tecnologias emergentes no Brasil.

Oportunidades para o Brasil e a América Latina

O Brasil e a América Latina possuem características únicas que podem catalisar o desenvolvimento do deep tech. A vasta riqueza de recursos naturais oferece a oportunidade para soluções em bioeconomia e energia renovável. O setor de biotecnologia, por exemplo, está crescendo rapidamente, com startups como a Amyris desenvolvendo soluções sustentáveis a partir de biomassa brasileira.

Na atual conjuntura macroeconômica brasileira, que enfrenta desafios como altas taxas de juros e baixo crescimento econômico, o investimento em deep tech pode se tornar uma alavanca para a transformação estrutural. Programas governamentais de incentivo, como subsídios à inovação e parcerias público-privadas, poderiam criar um ambiente mais propício para startups de alta tecnologia. Em 2023, o governo brasileiro anunciou o aumento dos recursos destinados ao Programa Nacional de Apoio à Inovação, um exemplo de iniciativa que pode impulsionar o setor.

Ademais, a cooperação regional é essencial para escalar essas iniciativas. Um exemplo seria a criação de redes de pesquisa transnacionais entre países latino-americanos, promovendo integração tecnológica e compartilhamento de recursos. A Aliança do Pacífico, que inclui México, Colômbia, Peru e Chile, já demonstrou sucesso em iniciativas conjuntas de inovação.

Conclusão

O ecossistema de deep tech oferece um caminho promissor para a inovação e o crescimento sustentável na América Latina. Para o Brasil, investir nesse setor não é apenas uma questão de avanço tecnológico, mas também uma estratégia para superar desafios estruturais e colocar o país como líder em soluções globais. Com recursos naturais abundantes, um ecossistema acadêmico vibrante e iniciativas governamentais emergentes, o Brasil tem o potencial de liderar o caminho no deep tech. À medida que governos, universidades e corporações intensificam suas colaborações, o potencial para transformar a região em um polo de deep tech é mais tangível do que nunca.

  1. McKinsey & Company - "What deep tech is—and what it isn’t"
  2. Banco Central do Brasil - Dados Macroeconômicos
  3. Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação - Programas e Incentivos
  4. Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) - Inovação Tecnológica
  5. Y Combinator - Startups Latino-Americanas
  6. Porto Digital - Hub de Inovação no Recife
  7. Finep - Fomento à Inovação