Energia Solar: de tecnologia emergente à infraestrutura global

A energia solar, antes vista como alternativa futurista e dependente de incentivos, consolida-se hoje como uma das principais engrenagens da transformação energética global. A convergência de tecnologias mais eficientes, redução drástica de custos e maior adesão de governos e consumidores está posicionando o setor como protagonista da transição para fontes limpas. Projeções de mercado indicam que a energia solar deixará de ser uma opção e se tornará peça estrutural de sistemas energéticos em todo o mundo — especialmente em economias emergentes como o Brasil.

Por Itaú BBA

05 minutos de leitura

Acelerando sob o Sol

O mercado global de sistemas de energia solar deverá atingir impressionantes USD 590,8 bilhões até 2033, segundo relatório da Straits Research. Isso representa uma taxa de crescimento robusta, sustentada por políticas ambientais, avanços tecnológicos e uma crescente demanda por independência energética. A China lidera de forma indiscutível, com aproximadamente um terço da capacidade mundial, tendo alcançado 886 GW em 2024 e mantendo crescimento acelerado com ritmo anual de 45,6%.

Top 6 países com maior capacidade instalada de energia solar (2024)

PosiçãoPaísCapacidade Instalada (MW)Crescimento Anual (%)
1China887.930~45,6 %
2Estados Unidos177.470~27,5 %
3Índia97.384~33,7 %
4Japão91.610~2,8 %
5Alemanha89.943~20,1 %
6Brasil53.113~40,0 %

O Brasil é 6º colocado globalmente em capacidade instalada de energia solar, tanto em termos absolutos quanto em crescimento percentual. E esse movimento já é palpável porque a energia solar representa quase 22% da matriz elétrica nacional, com 53,9 GW de capacidade instalada até fevereiro de 2025. Para o consumidor final, isso significa que uma em cada cinco lâmpadas acesas no país já é alimentada diretamente pelo sol. Boa parte dessa expansão brasileira se deve à geração distribuída — pequenos sistemas instalados em telhados, condomínios, propriedades rurais e comércios — que democratizam o acesso à energia renovável. O país, com sua vasta irradiação solar e crescente necessidade de estabilidade energética, emerge como um terreno fértil para inovação tecnológica e empreendedorismo no setor.

O Brasil é, com ampla vantagem, o líder em energia solar na América Latina representando cerca de 75% de toda a potência solar da região. O segundo colocado, o Chile, possui aproximadamente 11 GW, seguido por México e Argentina com capacidades significativamente menores. Enquanto o Brasil se destaca tanto em geração centralizada quanto distribuída os demais países latino-americanos ainda enfrentam limitações regulatórias, menor escala de investimentos e dependência de fontes fósseis ou hidrelétricas. Assim, o Brasil não apenas lidera regionalmente em volume, mas também em inovação, participação social e velocidade de crescimento no setor solar

Três tecnologias-chave para a nova era solar

1. Células solares de Perovskita

O que são: células solares feitas com um cristal sintético chamado perovskita, mais leve, barato e eficiente do que o silício tradicional.
Perspectiva atual: ainda em testes comerciais, com eficiências acima de 25% em laboratório, mas enfrentando desafios de durabilidade.
Futuro: previsão de lançamentos comerciais a partir de 2027, com aplicações em fachadas, wearables e painéis flexíveis.
Caso de sucesso: Oxford PV (Reino Unido/Alemanha), desenvolve células tandem (perovskita + silício) com até 30% de eficiência e mais de USD 130 milhões captados.

2. Rastreamento solar inteligente (Solar Trackers)

O que são: estruturas que movem os painéis solares para acompanhar o sol, como “girassóis mecânicos”.
Perspectiva atual: amplamente utilizados em usinas de grande porte, com ganhos de até 25% na produção.
Futuro: tendem a se tornar padrão em projetos utility-scale, com integração a IA e dados meteorológicos.
Caso de sucesso: Nextracker (EUA), fornecedora de trackers para mais de 80 GW instalados, com IPO em 2023 e soluções de análise preditiva integradas.

3. Armazenamento de energia acoplado (BESS)

O que são: grandes baterias que armazenam energia solar para uso posterior, garantindo estabilidade à rede.
Perspectiva atual: dominado por baterias de íon-lítio, com crescimento acelerado em geração distribuída.
Futuro: espera-se crescimento superior a 20% ao ano até 2030, com novas tecnologias como baterias de fluxo e sódio ganhando espaço.
Caso de sucesso: Fluence Energy (EUA/Alemanha), joint venture da Siemens e AES, atua em mais de 40 países com a plataforma inteligente Fluence IQ.

Quais são as oportunidades de negócio para empresas de tecnologia?

O crescimento exponencial da energia solar no Brasil inaugura uma nova fronteira de oportunidades para empresas de tecnologia, startups e investidores. A transição energética em curso exige soluções digitais, escaláveis e inteligentes para lidar com os desafios de infraestrutura, distribuição, consumo e monitoramento. Líderes de tech corporates e founders de startups têm, portanto, um papel estratégico: não apenas fornecer tecnologia para o setor solar, mas estruturar modelos de negócio ancorados nesse novo paradigma energético.

O primeiro eixo de oportunidades está na digitalização da energia solar distribuída. Com o Marco Legal da Geração Distribuída (Lei nº 14.300/2022) garantindo previsibilidade regulatória e acesso ampliado à rede, o Brasil já conta com mais de 2 milhões de sistemas solares conectados. Isso abre espaço para soluções de gestão inteligente de geração e consumo, incluindo plataformas baseadas em IA para previsão meteorológica, precificação dinâmica, manutenção preditiva e balanceamento de microgrids. Startups podem criar interfaces SaaS que ofereçam relatórios de performance, diagnósticos automatizados e otimização de autoconsumo em tempo real — especialmente para clientes residenciais, PME’s e consórcios de energia compartilhada.

O segundo eixo está na infraestrutura energética avançada, um campo ideal para deep techs e negócios com capacidade de desenvolvimento físico e digital combinado. O setor também é fértil para soluções em blockchain voltadas à rastreabilidade de energia limpa, smart contracts para PPAs (Power Purchase Agreements) e tokenização de créditos de carbono solares, viabilizando modelos de negócio que integram fintech, clima e energia.

O terceiro eixo está em novos mercados habilitados pela tecnologia solar. Setores como o agronegócio, a construção civil e a mobilidade elétrica estão abrindo espaço para empresas que ofereçam tecnologias aplicáveis em agrivoltaicos, fachadas solares (BIPV) e infraestrutura de recarga off-grid para EVs, por exemplo. As células solares de perovskita surgem como uma das tecnologias mais promissoras nesse horizonte: além de prometer eficiência superior e flexibilidade de aplicação, abrem espaço para startups que operem em supply chain, encapsulamento, sensores integrados ou eletrônica vestível.

Tecnologias com maior potencial de oportunidade

TecnologiaOportunidade de negócio para techs
Células Solares de PerovskitaDeep techs com capacidade de desenvolver materiais avançados, encapsulamento, aplicações em wearables, fachadas solares (BIPV) ou mobilidade urbana.
Rastreamento Solar Inteligente (Trackers)IoT + IA embarcada para otimização dinâmica, soluções edge para controle em regiões remotas, APIs para integração com ERPs de operadoras.
Armazenamento Acoplado (BESS)Plataformas de gestão de baterias, simulações de retorno energético, fintechs para leasing/financiamento de armazenamento, software de despacho preditivo.
SaaS para GD e usinasMonitoramento, previsão de geração, balanceamento de consumo e análise financeira; ideal para negócios de software puro.
Blockchain e Smart ContractsTokenização de créditos de energia solar, plataformas para transações de PPA automatizadas, soluções p2p de comercialização energética.
Agrivoltaicos & Solar FlutuanteModelagem climática e agronômica com IA, hardware para movimentação de painéis, sensores para operação em ambientes agressivos.

Potencializando negócios de tecnologia no setor solar

A estrutura do Itaú BBA voltada ao ecossistema de inovação digital e tecnologia, oferece um conjunto de soluções personalizadas que permitem a criação, acompanhamento e expansão de negócios de tecnologia no mercado de energia solar, desde startups solars até deep techs que desenvolvem hardware e software para geração distribuída.

1. Suporte à Jornada Financeira e Operacional

Empresas tech podem contar com acesso a soluções de cash management, cartão corporativo e crédito customizado (incluindo venture debt) para financiar desde etapas de desenvolvimento até expansão comercial.

2. Assessoria & Conexões Estratégicas

A robusta equipe de investment banking fornece assessoria estratégica em levantamento de capital, fusões e aquisições (M&A), IPOs e emissões de dívida para empresas e fundos. O banco atua também como comercializadora de energia autorizada, facilitando negociações tanto no Ambiente de Contratação Livre (ACL) quanto no regulado (ACR), com suporte para estruturação de PPAs, originação de receitas e compliance regulatório.

Itaú

3. Financiamento de Projetos de Energia Renovável

O Itaú BBA é referência em project finance para projetos de energia solar com operações que consolidam o banco como parceiro para escala de projetos utility-scale até microgrids e geração distribuída.

Conclusão

A energia solar é um vetor estratégico para inovação, investimento e geração de novos negócios em escala global. Com crescimento robusto, tecnologias emergentes cada vez mais maduras e um ambiente regulatório que favorece a adoção em larga escala, o setor oferece uma das avenidas mais promissoras para empresas de tecnologia atuarem de forma transformadora. O Brasil, com sua liderança regional, irradiação abundante e protagonismo em geração distribuída, torna-se um campo privilegiado para a experimentação e escalabilidade de soluções digitais, energéticas e financeiras baseadas no sol. O futuro da energia está em construção — e a tecnologia é o alicerce que sustentará esse novo capítulo energético.

Fontes

Straits Research / GlobeNewswire. Solar Energy Systems Market to Worth USD 590.8 Billion by 2033.
https://www.globenewswire.com/news-release/2025/02/03/3019353/0/en/Solar-Energy-Systems-Market-Size-to-Worth-USD-590-8-Billion-by-2033-Straits-Research.html

ABSOLAR: https://www.absolar.org.br

Lei nº 14.300/2022 – Marco Legal da GD: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2022/lei/L14300.htm

Visual Capitalist / Energy Institute: https://www.visualcapitalist.com/ranked-the-countries-with-the-most-solar-power-installed

PV Magazine (dados de BESS e perovskita): https://www.pv-magazine.com

Oxford PV: https://www.oxfordpv.com

Nextracker: https://www.nextracker.com

Fluence Energy: https://www.fluenceenergy.com

GNPW Energia: https://www.gnpw.com.br/en/solar-energy/distributed-generation-in-brazil-challenges-and-opportunities

RIBA e Castro Advogados: https://ribasecastro.adv.br/geracao-distribuida-panorama-juridico-e-perspectivas-no-brasil/

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