O novo horizonte de investimentos em data centers

O Brasil vive um momento de destaque no cenário global de infraestrutura digital. Com crescimento expressivo na demanda por serviços em nuvem, inteligência artificial (IA) e plataformas digitais, o país tem atraído investimentos robustos no setor de data centers. Segundo a consultoria CBRE, a capacidade instalada brasileira chegou a 595 megawatts (MW) em 2024 e deverá crescer em mais 220 MW até o fim de 2025, o equivalente a 65% da expansão total prevista para a América Latina no período. Esse contexto sinaliza não apenas a consolidação do Brasil como um polo de infraestrutura digital, mas também a abertura de oportunidades estratégicas para startups, empresas de tecnologia e investidores interessados em um mercado em franca transformação.

Por Itaú BBA

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Crescimento acelerado e projeções

Em 2025, a América Latina conta com um estoque total de 877 MW em data centers, e projeções indicam que esse número poderá atingir 2,6 gigawatts (GW) até 2030. O Brasil lidera esse movimento. Empresas como Scala Data Centers já anunciaram aportes de R$ 27 bilhões até 2026, enquanto a Ascenty investe de R$ 1,2 a R$ 1,5 bilhão por ano em expansão. A Elea Data Centers, por sua vez, planeja alcançar 400 MW de capacidade até 2030, com investimentos superiores a US$ 3 bilhões.

Esse crescimento acompanha a digitalização crescente da economia brasileira. Setores como varejo, finanças, saúde e agronegócio têm impulsionado a demanda por processamento e armazenamento de dados em larga escala. Ao mesmo tempo, a adoção de IA e o uso intensivo de dados geram novas exigências de infraestrutura computacional robusta e distribuída.

Cenário macroeconômico

Apesar da atratividade do mercado, o ambiente macroeconômico brasileiro em 2025 apresenta desafios relevantes. A taxa básica de juros (Selic) foi elevada para 14,75% em junho, em resposta a uma inflação acumulada de 4,83% em 2024 — acima do centro da meta. Além disso, a moeda nacional sofreu forte desvalorização, com o dólar superando R$ 6,00 no início do ano.

Esses indicadores elevam o custo de capital e aumentam a volatilidade, fatores que exigem cautela por parte dos investidores. No entanto, o Brasil mantém-se como a maior economia da América Latina, com um Produto Interno Bruto estimado em US$ 2,1 trilhões. Soma-se a isso uma base de usuários digitais em crescimento e uma infraestrutura energética majoritariamente renovável, o que reforça o potencial do país como destino estratégico para projetos de data centers.

Avanço do marco legal e incentivos

Para viabilizar o crescimento sustentável do setor, o Congresso Nacional discute um marco legal específico para data centers (PL 3018/2024). A proposta trata de aspectos como desoneração tributária na importação de equipamentos, soberania de dados, uso da matriz energética limpa e ampliação da conectividade física. O projeto busca oferecer um ambiente regulatório mais estável e competitivo frente a mercados consolidados, como Estados Unidos e China.

Estima-se que, com a aprovação do marco e políticas de incentivo adequadas, o Brasil possa atrair até R$ 2 trilhões em investimentos na próxima década. Entre as medidas em estudo está a isenção fiscal temporária para equipamentos e o acesso facilitado a crédito por meio do BNDES. Além disso, há propostas de revisão na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), com o objetivo de regulamentar o armazenamento de dados estrangeiros em território nacional.

A pauta energética também entra no debate: parte do setor defende o uso prioritário do excedente de energia nacional para data centers, em vez da conversão para hidrogênio verde, priorizando assim a infraestrutura digital como ativo estratégico.

Oportunidades para empresas de tecnologia e startups

A evolução do setor de data centers abre espaço para uma série de oportunidades de inovação e crescimento para empresas nacionais e internacionais:

1. Serviços de nuvem e SaaS

A ampliação da infraestrutura local favorece o desenvolvimento de soluções em nuvem com maior desempenho e menor latência.

Exemplo: A Zenvia, especializada em comunicação omnichannel, escalou sua operação com soluções SaaS baseadas em data centers brasileiros.

2. Parcerias com operadoras e hyperscalers

A busca por capital e escala abre portas para colaborações estratégicas com empresas locais.

Exemplo: A Elea Data Centers firmou acordos com operadoras de telecomunicações para acelerar sua entrada em mercados regionais.

3. Eficiência energética

A demanda por redução do consumo de energia estimula a adoção de tecnologias de resfriamento avançadas e reaproveitamento térmico.

Exemplo: A ODATA aplica soluções de climatização por água gelada, com reaproveitamento de calor e menor pegada ambiental.

4. Segurança cibernética e conformidade

A maior circulação de dados sensíveis exige ferramentas robustas de proteção e auditoria.

Exemplo: A Kryptus atua no fornecimento de criptografia e gestão de chaves para atender às exigências da LGPD.

5. Observabilidade e monitoramento

Ambientes complexos demandam visibilidade contínua do desempenho e da saúde dos sistemas.

Exemplo: A Datadog é usada por operadores de data centers para realizar monitoramento full-stack de serviços digitais.

6. Recuperação de desastres (DRaaS)

Soluções de continuidade e replicação são essenciais em ambientes de missão crítica.

Exemplo: A Dedalus oferece serviços de recuperação de desastres em nuvens híbridas, reduzindo riscos operacionais.

Desafios estruturais

Apesar das oportunidades, existem desafios importantes:

• Energia e sustentabilidade: O consumo elevado pressiona o sistema energético nacional. A expansão do setor deve ser equilibrada com metas ambientais e disponibilidade da rede.

• Desigualdade eegional: A concentração de investimentos nas regiões Sul e Sudeste pode acentuar desequilíbrios. A descentralização e incentivos locais são fundamentais para promover inclusão digital ampla.

• Regulação e burocracia: A ausência de regras específicas ainda gera incertezas. A aprovação célere e clara do marco legal é vista como essencial para dar previsibilidade e segurança jurídica ao setor.

Conclusão

O Brasil caminha para se firmar como um dos principais centros de dados da América Latina e do hemisfério sul. O crescimento da capacidade instalada, os avanços regulatórios e a busca por eficiência digital colocam o país no radar de grandes grupos internacionais, ao mesmo tempo em que geram um ecossistema fértil para a inovação nacional.

Entretanto, o sucesso desse processo depende da superação de barreiras estruturais, da efetiva implementação de marcos regulatórios e de políticas públicas que garantam sustentabilidade e distribuição equitativa dos benefícios. Para startups, empresas de tecnologia e investidores, trata-se de um momento estratégico: o setor está pronto para crescer e para transformar.

Fontes

- https://neofeed.com.br/negocios/brasil-avanca-em-data-centers-e-caminha-para-se-tornar-a-nova-fronteira-do-setor/

- https://metroquadrado.com/comercial/o-que-falta-para-o-brasil-virar-um-hub-de-data-centers

- https://forbes.com.br/forbes-tech/2025/01/conheca-as-empresas-de-data-centers-que-estao-investindo-no-brasil

- https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2025/03/12/rivais-improvaveis-e-r-50-bi-brasil-quer-surfar-era-da-ia-com-data-center.htm

- https://pt.tradingeconomics.com/brazil/interest-rate

- https://www.valutafx.com/pt/historico-de-cambios/usd-brl-2025

- https://www.reuters.com/world/americas/economists-ramp-up-projections-brazils-interest-rates-above-15-2025-01-21/

- https://neofeed.com.br/poder/a-corrida-trilionaria-pelo-marco-legal-dos-data-centers-avanca-no-senado/

Nota: Este conteúdo é meramente informativo e não constitui recomendação de investimento. As informações são baseadas em fontes consideradas confiáveis, mas podem não refletir todas as condições de mercado. O Itaú BBA não se responsabiliza por perdas, danos ou opiniões expressas no conteúdo deste e demais canais associados ou proprietários. Investimentos diretos em negócios, renda fixa e/ou variável envolvem alto risco e podem sofrer oscilações devido a fatores políticos e econômicos.