O presente e o futuro da IA

A inteligência artificial (IA) está provocando uma ruptura estrutural na forma como indivíduos, empresas e nações interagem com informação, trabalho e poder. Mais do que apenas uma nova tecnologia, a IA representa uma mudança de paradigma com implicações em todos os setores. O relatório “Trends – Artificial Intelligence” (BOND, maio de 2025) compila mais de 300 páginas de evidências, gráficos e análises que demonstram, com clareza assustadora, que a IA não está apenas transformando o presente: ela está redesenhando o futuro em tempo real, confira os destaques neste resumo do que descobrimos de mais relevante no relatório.

Por Itaú BBA

05 minutos de leitura
1. Adoção e uso: a nova linguagem digital

O caso ChatGPT: o produto com maior adoção da história

Desde seu lançamento em novembro de 2022, o ChatGPT se consolidou como o produto de crescimento mais acelerado da história digital. O salto de 100 milhões para 800 milhões de usuários semanais ativos em apenas 17 meses mostra não apenas a eficácia da tecnologia, mas também o apetite global por ferramentas que expandem capacidades cognitivas humanas. Não se trata apenas de curiosidade. O aumento do uso diário (+202% em 21 meses) e o crescimento na quantidade de sessões (+106%) indicam que as pessoas estão integrando o ChatGPT a suas rotinas pessoais e profissionais, usando-o como assistente, conselheiro, redator, programador, professor ou agente de produtividade.

Do texto ao diálogo: a internet falada

Para a próxima geração de usuários — os 2,6 bilhões ainda offline — a experiência inicial da internet será radicalmente diferente. Graças à IA, sua entrada não será via buscadores ou navegadores, mas através de interfaces conversacionais e multimodais em seus idiomas nativos. Essa mudança de arquitetura cognitiva tem implicações profundas: a linguagem se torna a nova interface universal, reduzindo barreiras de alfabetização, navegação e letramento digital.

2. Infraestrutura e CapEx: uma nova arquitetura industrial

De armazenamento a inteligência

Ao longo dos últimos 10 anos, a natureza do investimento em tecnologia mudou drasticamente. O foco que antes era armazenamento e distribuição de dados agora migra para processamento e inferência em tempo real. As Big Techs dos EUA investiram US$ 212 bilhões em CapEx em 2024, um crescimento de +63% ano a ano, evidenciando uma nova corrida armamentista digital.

A fábrica do século XXI: o datacenter de IA

O CEO da NVIDIA, Jensen Huang, cunhou o termo “AI factories” para descrever datacenters modernos. De fato, o centro de dados Colossus da xAI, construído em apenas 122 dias, abriga 200.000 GPUs com planos para alcançar 1 milhão. Esses centros não apenas processam informações; eles produzem conhecimento, raciocínio e automação em escala industrial.

Além disso, melhorias na eficiência energética são surpreendentes: a geração de tokens com as GPUs Blackwell da NVIDIA requer -105.000x menos energia que as GPUs Kepler de 2014, tornando viável o crescimento exponencial de aplicações sem colapsar redes elétricas.

3. Monetização em disputa: crescimento explosivo, lucros incertos

Entre receitas e queimadas de caixa

Empresas como OpenAI, Anthropic e xAI alcançaram receitas anualizadas combinadas superiores a US$ 11 bilhões, mas com custos que frequentemente excedem receitas — como é o caso da OpenAI, que teve US$ 5 bilhões em custos computacionais frente a US$ 3,7 bilhões em receita em 2024. Esse descompasso reflete um modelo de crescimento baseado em captura de mercado, e não em rentabilidade imediata.

Modelos de monetização: de assinaturas a APIs

Empresas vêm monetizando via modelos freemium, planos por assinatura (US$ 20–200/mês) e tarifas por token (US$ 0,40–75 por 1 milhão de tokens). No entanto, a queda de 99,7% nos custos de inferência em dois anos pressiona as margens e impõe uma nova dinâmica: crescimento exponencial de uso, mas com monetização marginal por unidade.

4. Open-Source vs. Modelos Fechados

A corrida dos modelos abertos

O crescimento da comunidade open-source é um dos movimentos mais relevantes. Os modelos Llama (Meta), Mistral e DeepSeek mostram performance próxima a modelos fechados como GPT-4, com custos muito inferiores. O Hugging Face hoje hospeda mais de 1,16 milhão de modelos, e o número de desenvolvedores ativos explodiu com a queda nos custos por token.

A China desperta

A China, outrora acusada de estar dois anos atrás dos EUA em IA, encurtou esse “gap” para apenas 3 meses em certos benchmarks. Modelos como Qwen 2.5-Max (Alibaba) e ERNIE 4.5 Turbo (Baidu) superam modelos ocidentais em tarefas específicas com custo por token até 99,8% menor. A Huawei também já fornece chips próprios para IA, reduzindo a dependência de NVIDIA.

Essa trajetória não é apenas tecnológica, mas estratégica: IA e semicondutores se tornaram instrumentos de poder geopolítico, e os países começam a tratar modelos fundacionais como infraestruturas de soberania nacional.

5. Expansão ao mundo físico: IA incorporada ao ambiente

Veículos e robôs inteligentes

A Tesla já ultrapassou 4 bilhões de milhas totalmente autônomas dirigidas, enquanto o Waymo atinge 27% do mercado de corridas em São Francisco. Anduril, startup de defesa, dobrou sua receita nos últimos dois anos com drones autônomos e torres de vigilância inteligentes.

Agricultura, mineração e pecuária

Na agricultura, a Carbon Robotics já eliminou o uso de mais de 100 mil galões de herbicidas com sistemas de IA e visão computacional. A Halter fornece colares inteligentes que otimizam o pasto de gado, com crescimento de +150% nas novas unidades contratadas em 2025.

Esses exemplos mostram que a IA está saindo das telas e entrando no campo, no maquinário, no laboratório e no corpo social.

6. Redefinindo o trabalho: colaboração humano-máquina

IA como ferramenta de base

A adoção de IA como ferramenta básica de trabalho já é realidade em empresas como Shopify e Duolingo, onde o uso da IA passou a ser critério de contratação e promoção. A CEO do Shopify foi categórica: “Não usar IA será equivalente a estagnação.”

Segundo a Universidade de Maryland, vagas que requerem IA cresceram +448% desde 2018, enquanto empregos tradicionais em TI caíram.

O papel humano: supervisão, feedback e criatividade

Ao invés de substituição pura, observa-se uma reconfiguração do papel humano: de executor para supervisor, de digitador para modelador de comportamento algorítmico. Empresas como a Scale AI monetizam feedback humano para treinar modelos, sugerindo que um novo setor profissional emergirá: a economia do reforço supervisionado.

Conclusão

O relatório da BOND oferece não apenas uma radiografia do presente, mas um mapa do futuro. A IA está avançando mais rápido que qualquer outra tecnologia da história, movida por três forças: uso massivo, infraestrutura exponencial e ambição geopolítica.

A dúvida não é mais se a IA vai transformar os setores — mas como isso ocorrerá, quem capturará o valor e quais sociedades conseguirão alinhar competitividade com equidade. O futuro não é previsível, mas uma coisa é certa: a inteligência artificial deixou de ser uma ferramenta para se tornar a nova linguagem da humanidade.

Fontes

Trends – Artificial Intelligence | BOND

May 2025 por Mary Meeker / Jay Simons / Daegwon Chae / Alexander Krey

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