São Paulo Climate Week: uma semana intensa rumo à COP30

Por Itaú BBA

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A humanidade só vai chegar a um futuro ambientalmente saudável se o Brasil conseguir fazer isso – essa é a mensagem que Ana Toni, CEO da COP30, quer que todos entendam, dentro e fora do país. “Temos a missão de mostrar ao mundo que o Brasil pode dar certo, mostrar os casos que já estão acontecendo e ganhando escala, usar a COP para mostrar um Brasil provedor de soluções climáticas”, disse a executiva na São Paulo Climate Week (SPCW), realizada no Cubo Itaú, em São Paulo, de 4 a 8 de agosto. Nesta segunda edição, o evento recebeu mais de 2.238 participantes presencialmente e mais de 580 virtualmente.

Ana explicou que a COP30, que vai acontecer em Belém de 10 a 21 de novembro, deve se organizar sobre quatro grandes pilares: 1) nas reuniões de chefes de Estado, avançar na execução de decisões já tomadas e na definição das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) para mitigar emissões de carbono, a ser implementadas até 2035; 2) detalhar acordos já fechados – um esforço a iniciar na COP 30 e terminar da COP 31; 3) acelerar as medidas de mitigação, com envolvimento do setor privado e dos governos subnacionais; 4) mobilizar o máximo de atores e comunicar ao mundo que a transição energética e para a economia de baixo carbono é concreta – e está em andamento.

No mesmo tom, Luciana Nicola, diretora de Relações Institucionais e Sustentabilidade do Itaú Unibanco, fez um chamado à ação, para que as empresas meçam suas emissões de carbono. “Este é o primeiro passo. Como setor financeiro, ainda temos um grande desafio: muitas empresas no país sequer realizam seus inventários de emissões. É fundamental avançar das estimativas setoriais para dados concretos e específicos de cada negócio ”, alertou a executiva.

Regenera, Brasil

No caso do Brasil, a transição precisa incluir o agronegócio, porque esse macrossetor responde por 28% das emissões de carbono no país e é um motor econômico especialmente sensível aos efeitos da mudança climática, como lembrou Paulo Artaxo, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo.

Uma das iniciativas mais relevantes do mundo para promover essa mudança é o programa Eco Invest Brasil, criado pelo governo federal a fim de mobilizar recursos privados juntamente com os públicos para a transição. “A estrutura do programa se baseia na alavancagem de capital. O Tesouro Nacional entra com um capital catalítico e o setor privado complementa”, explicou Rogério Ceron, Secretário do Tesouro Nacional, em painel na SPCW. “O modelo cria uma poderosa sinergia entre recursos públicos e privados, tanto nacionais quanto internacionais”.

O primeiro leilão do projeto, em 2024, concentrou-se em projetos de transição energética (incluindo biocombustíveis). “Há alguns anos, víamos o blended finance (mistura de capital público e privado) com uma aplicação limitada. A liderança do secretário do Tesouro e a colaboração entre os ministérios demonstrou, de forma inegável, como o capital catalítico tem a capacidade de impulsionar uma verdadeira transformação”, afirmou Pedro Barros, diretor de Agronegócio do Itaú BBA. O executivo destacou, como outro ponto positivo, a governança rigorosa do programa, com foco na prevenção de greenwashing.

Solos vivos, saudáveis, são mais férteis, retêm carbono e umidade, facilitam infiltração de água no subsolo, controlam pragas, sustentam biodiversidade e contribuem com regulação de temperatura local. Entre as iniciativas privadas empenhadas nessa mesma causa está o Programa Reverte, liderado pela Syngenta. Segundo Claudia Veiga, gerente de Sustentabilidade da empresa, desde 2021 o programa envolveu mais de 365 fazendas e transformou mais de 264 mil hectares, com o Itaú BBA como parceiro essencial. A executiva ofereceu uma chave para o sucesso de iniciativas similares: combinar financiamento, apoio técnico e monitoramento. “O grande diferencial do programa é o suporte técnico e de MRV (Mensuração, Relato e Verificação). A Syngenta assegura que a conversão seja realizada com sucesso, utilizando ferramentas de análise remota da Agrosky e bioanálises de solo. O acompanhamento contínuo ao longo dos anos garante a saúde do solo e a eficácia da transformação.”

Capital para salvar o mundo

Blended finance é um entre os vários modelos de mobilização do capital necessários para construir a economia de baixo carbono. A busca pelo modelo mais adequado para cada situação pode se orientar por categorias de atividades, como as sugeridas na SPCW por Annelise Vendramini, coordenadora de Finanças Sustentáveis no Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV: as que já dão retorno financeiro; as que jamais vão dar retorno financeiro; e aquelas que ainda não dão retorno, mas que podem se tornar rentáveis com algum ajuste, nova prática ou política setorial.

Fábio Guido, superintendente de Sustentabilidade e Estratégia ESG do Itaú Unibanco, ofereceu um exemplo de resultado, combinando urgência, ambição e instrumentos adequados. Informou que um dos pilares da estratégia do banco é o financiamento climático, com o objetivo de mobilizar R$ 1 trilhão em finanças sustentáveis até o final da década. “Desde 2020 já alcançamos aproximadamente R$ 500 bilhões, por meio de financiamentos de atividades atreladas à Taxonomia Verde da Febraban e emissões de títulos, como green bonds e sustainability-linked bonds (SLBs) ”, disse o executivo.

O esforço para obter os recursos segue em andamento. “O grande desafio (diante da crise climática) ainda é o financiamento. Como conseguir US$ 1,3 trilhão por ano para lidar com as mudanças climáticas até 2035? Como mobilizar o setor privado e escalar soluções?”, questionou Marina Grossi, presidente do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável) e enviada especial da COP30 para o setor privado. A executiva notou que, como as políticas públicas têm avançado em ritmo aquém do necessário, a agenda dos setores não governamentais ganhou “força enorme”. Ela indicou alguns caminhos abertos, ao lembrar que o CEBDS tem hoje 135 casos de soluções concretas em andamento no país, e que o relatório anual Business Breakthrough Barometer, do WBCSD (Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável), mostrou estabilidade dos investimentos de grandes empresas em direção ao net-zero, mesmo diante da turbulência política e geopolítica.

O investimento global precisa crescer e se distribuir melhor. Conforme avançam os eventos climáticos extremos, tornam-se mais urgentes as iniciativas de adaptação, para dar resiliência a cidades, comunidades e negócios. O fluxo de capital, porém, ainda não se ajustou a essa necessidade. Gabriella Dorlhiac, diretora executiva da ICC (Câmara de Comércio Internacional) Brasil, acrescentou à questão outra camada de complexidade: iniciativas de adaptação vêm recebendo apenas uma fração – 7,6%, pelos cálculos da executiva – do que é destinado à mitigação.

Nabil Moura, chefe do Departamento de Meio Ambiente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), afirmou que a instituição já corrigiu seu foco de atenção. “Se antes falávamos apenas de mitigação, hoje a conversa se expande para perdas, danos e, de forma contundente, adaptação”, disse. Ele acrescentou que o BNDES dirige seus esforços a criar e apresentar ao mercado novos instrumentos financeiros, como o Fundo Clima e as emissões de green bonds.

Crédito para quem merece

Entre os instrumentos para mobilizar capital climático, vêm se destacando os créditos de carbono – ativo básico de um novo mercado em implementação no Brasil, chamado SBCE (Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa). No sistema adotado no país, empresas e setores vão receber limites para suas emissões. Quem emite menos, gera um crédito que pode vender; quem emite mais, precisa ir ao mercado comprar. Fazer o mercado funcionar exige muito trabalho coordenado. A Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), em contato intenso com governo e reguladores, detalha a normatização para que os créditos de carbono se integrem de forma suave ao mercado financeiro e de capitais, com segurança jurídica. A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) formou um grupo de trabalho multissetorial sobre o tema, com cerca de 80 especialistas, em diálogo constante com o governo federal. Maria Belen Losada, head de Produtos de Carbono do Itaú Unibanco, afirmou que, com esse movimento, o Brasil participa de uma tendência global, e que é crucial a união entre os mercados voluntários e os regulados.

Eric Altafim, diretor de Produtos e Corporate Sales do Itaú Unibanco, informou que, no mercado voluntário de créditos de carbono, o Brasil detém cerca de 3% de participação global e tem um potencial de expandir essa participação para até 20%. O mercado regulado abre novas possibilidades para catalisar investimentos e acelerar a transição para uma economia de baixo carbono. “Há um vasto campo a ser explorado”, disse o executivo.

Há motivos de sobra para empolgação com a novidade. “Estimativas apontam que o Brasil detém cerca de 15% do estoque global de créditos de carbono. Ter um mercado regulamentado atrai mais investidores internacionais e recursos para financiar projetos sustentáveis”, disse Amaury Martins de Oliva, diretor de Sustentabilidade da Febraban, na SPCW. “Os bancos não são apenas compradores de créditos e financiadores de projetos – eles também participarão ativamente da comercialização desses ativos no mercado secundário e criarão novos produtos. É uma oportunidade estratégica e de grande expectativa”.