Tarifas, geopolítica e tech, conheça os impactos para empresas e investidores

As recentes alterações nas políticas tarifárias dos Estados Unidos têm gerado repercussões significativas no cenário econômico global. A imposição de tarifas sobre importações de países como China, Canadá e México visa proteger a indústria nacional americana, mas provoca efeitos colaterais em diversos setores, especialmente no de tecnologia. Este artigo analisa os impactos dessas medidas para empresas de tecnologia no mercado de capitais, as consequências para as empresas brasileiras do setor, além de identificar oportunidades e riscos para investidores.

Por Itaú BBA

05 minutos de leitura

Impacto para empresas de tecnologia no mercado de capitais

A reeleição de Donald Trump trouxe à tona uma agenda protecionista mais agressiva. Entre as medidas anunciadas, destacam-se tarifas de 20% sobre todas as importações e até 60% para produtos chineses. Empresas como Apple e Google, que dependem significativamente da manufatura chinesa, enfrentam desafios consideráveis. Essas tarifas podem aumentar os custos de produção, levando a uma elevação nos preços finais dos produtos e potencial redução na demanda. Consequentemente, espera-se uma pressão negativa nas ações dessas empresas no mercado de capitais.

A imposição de tarifas sobre produtos chineses aumentou os custos de componentes essenciais utilizados por empresas de tecnologia. Fabricantes que dependem de peças produzidas na China enfrentam elevação nos custos de produção, resultando em aumento nos preços finais para os consumidores ou na redução das margens de lucro. Esse cenário tem levado investidores a reavaliar suas posições em empresas de tecnologia, causando volatilidade nos mercados acionários.

Por exemplo, após o anúncio das novas tarifas, as ações da Apple caíram 8% em uma única sessão, enquanto a Nvidia e a Intel registraram quedas de 6% e 5%, respectivamente. O efeito dominó no setor resultou na retração de investimentos, pois fundos de investimento e investidores institucionais passaram a considerar as incertezas políticas ao alocar recursos. A Hewlett Packard Enterprise (HPE), particularmente afetada pela escalada das tarifas, viu suas ações despencarem 20% no pré-market da Bolsa de Nova York, refletindo as preocupações do mercado com o impacto dos custos de produção e a possível redução da competitividade.

Além disso, a China respondeu às tarifas impondo taxas adicionais de 15% sobre produtos eletrônicos e restringindo a exportação de minerais raros essenciais para a fabricação de semicondutores. Essa retaliação intensificou as dificuldades enfrentadas pelas empresas ocidentais, ampliando o risco de escassez de componentes e obrigando fabricantes a reconsiderarem suas cadeias de suprimentos globais.

Impacto nas empresas de tecnologia brasileiras

Embora o Brasil não tenha sido diretamente alvo das tarifas norte-americanas, as empresas de tecnologia brasileiras também podem sofrer impactos indiretos. A reconfiguração das cadeias globais de suprimentos pode gerar oportunidades para empresas nacionais preencherem lacunas deixadas por fornecedores chineses ou americanos. No entanto, setores específicos podem ser fortemente impactados caso tarifas similares sejam aplicadas ao Brasil.

O setor de Tecnologia da Informação (TI) poderia enfrentar aumento nos custos de serviços digitais e encarecimento da infraestrutura de computação em nuvem, uma vez que equipamentos e componentes importados ficariam mais caros. Serviços como Netflix e Spotify poderiam elevar seus preços para compensar novos impostos, enquanto gigantes como Google e Amazon poderiam reduzir novos projetos no país, prejudicando a inovação e a geração de empregos no setor.

Além disso, startups que dependem de investimentos estrangeiros poderiam encontrar dificuldades para captar recursos, pois fundos internacionais poderiam optar por realocar investimentos para mercados mais previsíveis e menos expostos a barreiras comerciais. Isso poderia desacelerar o crescimento de empresas emergentes no Brasil, reduzindo a competitividade global do setor de tecnologia nacional.

Oportunidades e riscos para investidores (análise da especialista)

As novas tarifas dos EUA podem ter um impacto misto sobre os investidores em tecnologia, influenciando tanto o venture capital (VC) quanto o private equity (PE). Enquanto criam desafios para empresas de hardware e manufatura, podem também abrir oportunidades em produção doméstica de semicondutores, inteligência artificial e tendências de nearshoring. No venture capital, a preocupação principal é o aumento dos custos para startups que dependem de hardware importado, reduzindo margens e competitividade, o que pode levar investidores a focarem mais em startups de software e IA. Para private equity, os efeitos são mais complexos, com empresas na cadeia de suprimentos enfrentando custos elevados, enquanto aquelas investindo na produção de semicondutores nos EUA podem se beneficiar de incentivos como o CHIPS Act. No geral, o novo ambiente tarifário cria uma divisão entre setores que sofrerão e aqueles que poderão se beneficiar, tornando essencial uma estratégia de investimento adaptativa.

Para os investidores, o cenário atual apresenta tanto riscos quanto oportunidades. A volatilidade nos mercados de capitais, decorrente das políticas tarifárias, exige cautela e uma análise criteriosa dos setores e empresas afetados. Por outro lado, empresas que conseguirem se adaptar rapidamente às mudanças, diversificando fornecedores ou investindo em produção local, podem emergir mais fortes, oferecendo oportunidades de investimento atrativas.

No contexto brasileiro, setores menos expostos às tarifas americanas ou com maior capacidade de adaptação podem apresentar resiliência e potencial de crescimento. Investidores atentos a essas nuances podem identificar oportunidades em meio às adversidades.

Por Julia De Luca, vice-presidente de tecnologia para o Investment Banking do Itaú BBA.

Conclusão

Para os investidores, o cenário atual apresenta tanto riscos quanto oportunidades. A volatilidade nos mercados de capitais, decorrente das políticas tarifárias, exige cautela e uma análise criteriosa dos setores e empresas afetados. Por outro lado, empresas que conseguirem se adaptar rapidamente às mudanças, diversificando fornecedores ou investindo em produção local, podem emergir mais fortes, oferecendo oportunidades de investimento atrativas.

No contexto brasileiro, setores menos expostos às tarifas americanas ou com maior capacidade de adaptação podem apresentar resiliência e potencial de crescimento. Investidores atentos a essas nuances podem identificar oportunidades em meio às adversidades.

Fontes

  1. https://br.investing.com/news/stock-market-news/como-tarifas-de-trump-afetam-as-big-techs-1451304
  2. https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2025/03/tarifas-de-trump-deixam-empresas-em-alerta-e-levam-consumidor-a-cortar-gastos-nos-eua.shtml
  3. https://seucreditodigital.com.br/impacto-tarifas-trump-brasil-2025/
  4. https://investalk.bb.com.br/noticias/economia/vale-esta-tarifaco-de-trump-entenda-quais-setores-podem-ser-mais-afetados-no-brasil
  5. https://br.investing.com/analysis/tarifas-globais-de-trump-como-isso-poderia-de-fato-impactar-o-brasil-200468686
  6. https://g1.globo.com/economia/noticia/2025/03/17/trump-tarifas-reciprocas-setoriais-aco-e-aluminio.ghtml
  7. https://los40.com/2024/11/08/trump-vuelve-al-poder-y-las-companias-de-tecnologia-tiemblan/
  8. https://www.infomoney.com.br/economia/tarifas-de-trump-prejudicarao-crescimento-do-canada-do-mexico-e-dos-eua-diz-ocde/
  9. https://oglobo.globo.com/blogs/miriam-leitao/post/2025/03/tarifas-dos-eua-sobre-aco-sao-tiro-no-pe-retaliacao-do-brasil-tambem-seria-considera-ex-diretor-da-omc.ghtml
  10. https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2025/03/10/tarifas-dos-eua-entre-o-prejuizo-e-a-oportunidade
  11. https://www.cnnbrasil.com.br/economia/macroeconomia/pmi-tarifas-e-cortes-de-gastos-restringem-atividade-empresarial-dos-eua/
  12. https://www.tendenciascentrais.com.br/2025/02/analise-o-impacto-das-tarifas-na.html

Nota: Este conteúdo é meramente informativo e não constitui recomendação de investimento. As informações são baseadas em fontes consideradas confiáveis, mas podem não refletir todas as condições de mercado. O Itaú BBA não se responsabiliza por perdas, danos ou opiniões expressas no conteúdo deste e demais canais associados ou proprietários. Investimentos diretos em negócios, renda fixa e/ou variável envolvem alto risco e podem sofrer oscilações devido a fatores políticos e econômicos.