A importância da narrativa na construção de cenários

Como as narrativas influenciam os cenários? A verdade é que, historicamente, a narrativa dominante tem efeitos importantes sobre a economia, numa espécie de referência circular.

Por Eduardo Camara Lopes

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A busca por narrativas | Fonte: Shutterstock

O gráfico abaixo evidencia a procura nos Estados Unidos pelos termos inflação (em cinza) e recessão (em laranja) – que está fazendo pico agora – na ferramenta de mapeamento de tendências do Google desde 2020.

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Fonte: Google Trends | Elaboração: Itaú Asset Management

Por que isto é importante? Se você fala muito sobre um tema, você fica mais alerta sobre ele e muda seu comportamento.

Se os CEOs dos grandes bancos americanos avisam para você “se preparar para um furacão econômico”, e “ser cauteloso”, adivinhe, empresas seguram investimentos, indivíduos seguram gastos e uma recessão de fato acontece.

Da mesma maneira, se os noticiários estão empenhados em alertar a sociedade dos perigos da inflação, naturalmente as empresas de maneira defensiva repassam preços, os trabalhadores exigem maiores salários... e a inflação fica mais severa.

Claro, você deve estar pensando, os temas mais procurados refletem o que as pessoas estão sentindo na pele. Verdade. Mas historicamente a narrativa dominante tem efeitos importantes sobre a economia, numa espécie de referência circular.

O mercado de commodities e de treasuries, os títulos do tesouro americano, estavam corretamente dominados este ano até então pela narrativa (e os dados!) de inflação.

Recentemente começaram, no entanto, a prestar atenção para a narrativa da recessão que, segundo o Google, passou a ser a predominante. O S&P 500 teve uma grande correção de múltiplos, apesar dos lucros esperados ainda serem altos.

Não acredito que o medo de inflação acabou, muito pelo contrário, ele continuará bastante elevado. Mas a preocupação com crescimento entrou no radar de vez, turbinando a volatilidade nos mercados.