Boletim Galaxy: Setembro

Comentário de Mercado

Embora os mercados de criptomoedas tenham se estabilizado ao longo de agosto, a grande liquidação ocorrida na primeira semana do mês deixou agosto como um mês de queda. Durante agosto, o BTC caiu -7,61%, o ETH diminuiu -21,58%, e o índice BGCI reduziu -16,88%. No acumulado do ano, todos continuam apresentando desempenho positivo, com BTC +40,32%, ETH +10,67%, e o índice BGCI +14,33%.

Apelidado por alguns como a ‘Black Monday’ das criptos, o significativo declínio de mercado que ocorreu no início de agosto pode ser atribuído a fatores macro e específicos do mercado de criptoativos. Acreditamos que eventos macro, como a saída do presidente Joe Biden da corrida presidencial, taxas de desemprego nos EUA mais altas que o esperado, preocupações geopolíticas no Oriente Médio e a reversão do carry trade após a decisão do Banco do Japão de elevar as taxas, catalisaram as vendas, conforme observado no comentário de mercado do mês passado. Os ativos cripto, em particular, sofreram esse impacto, dado que alguns desses eventos ocorreram durante o fim de semana, quando os mercados de criptomoedas eram o único ponto de saída para os participantes do mercado. Embora estejamos otimistas de que a principal razão da queda dos ativos digitais foi porque os mercados estavam em baixa de forma geral, acreditamos que o ETH teve um motivo adicional contribuindo para seu fraco desempenho em agosto.

Ao longo do primeiro fim de semana de agosto, a divisão de criptoativos da Jump Trading desfez uma parte considerável de suas posições em ETH e Wrapper ETH. Apesar da especulação inicial de que a Jump Trading estava procurando se distanciar das criptomoedas, não acreditamos que esse tenha sido o impulso para a venda sistemática. Independentemente do motivo da Jump, a introdução de US$ 470 milhões em ETH e Wrapper ETH no mercado resultou em pressão de baixa sobre a segunda maior criptomoeda por capitalização de mercado. Alguns investidores aproveitaram a oportunidade para comprar na baixa, já que, de acordo com a CoinShares, os fluxos líquidos para ativos digitais no mês foram positivos em US$ 58 milhões. Os fluxos foram liderados por US$ 114,4 milhões para fundos de ETH e US$ 68 milhões para fundos cripto multiativos. Os fundos de Bitcoin ficaram para trás este mês, com saídas totais de US$ 93 milhões.

Em agosto, obtivemos uma segunda visão de como os investidores institucionais estão alocando em ETFs de BTC spot nos EUA após a divulgação dos arquivos 13F do segundo trimestre. Segundo um analista da K33 Research, o número de instituições que possuem ETFs de BTC spot aumentou 27% neste trimestre, chegando a quase 1.200. Ao final do segundo trimestre, os investidores institucionais possuíam 21,15% do mercado de ETFs de BTC spot dos EUA, representando uma melhoria de 2,41% em relação ao trimestre anterior. Embora alguns tenham suposto que os investidores de varejo capitulariam quando o sentimento do mercado se tornasse negativo, isso não parece ser o caso. A NYDIG observa que, no segundo trimestre, os não-filhadores de 13F representaram US$ 637,5 milhões de entradas em ETFs de BTC. Tanto instituições quanto varejistas continuando a acumular durante condições de mercado instáveis devem ser considerados um sinal positivo, um que esperamos que continue uma vez que o bitcoin não esteja mais limitado a uma faixa. A aprovação da Morgan Stanley para ETFs de bitcoin para acesso não solicitado em sua plataforma provavelmente é um prenúncio de que o canal de riqueza de US$ 48 trilhões está se abrindo, o que poderia ser um impulso para a criptomoeda original entrando na segunda metade de 2024.

Além do potencial de novos investidores em ETFs de criptoativos, os ambientes político e regulatório também parecem estar melhorando em paralelo. De acordo com a Public Citizen, uma organização de advocacia do consumidor sem fins lucrativos, as empresas de cripto representam 48% de todo o dinheiro corporativo contribuído para as eleições de 2024 até o momento. Notavelmente, os US$ 119 milhões doados foram principalmente para o Fairshake, um super PAC suprapartidário que endossou um número equivalente de democratas e republicanos em corridas congressionais. Apesar dos esforços do ex-presidente Donald Trump e do Partido Republicano para se posicionarem como o partido amigável às criptos, o apoio bipartidário do Fairshake a candidatos pró-cripto demonstra que, em sua essência, as criptos são uma causa que as pessoas podem apoiar, independentemente de suas visões ideológicas. No âmbito regulatório, é a falta de notícias que vale a pena destacar. Comparado aos últimos dois anos, a SEC reduziu muito o número de ações de fiscalização de cripto. Até agora, em 2024, a SEC iniciou apenas nove ações de fiscalização de cripto. Anualizar essa quantidade equivaleria a uma diminuição de 91% desde 2022 e uma queda de 77% ano após ano. Embora esta administração da SEC não tenha sido favorável às criptos, um recuo em sua abordagem de regulamentação por fiscalização beneficiaria a indústria de ativos digitais no futuro.

Examinando outros setores da paisagem cripto, as stablecoins, XRP e TON também geraram manchetes em agosto. No mês passado, a capitalização de mercado das stablecoins superou seus altos anteriores, alcançando um novo nível recorde de US$ 168,1 milhões. Embora a demanda atual por stablecoins provavelmente seja motivada por investidores buscando estabilidade durante o mercado turbulento, o aumento na utilização de stablecoins poderia beneficiar os preços das criptos a longo prazo, já que stablecoins tipicamente compõem metade dos pares de negociação, particularmente no ecossistema DeFi. O XRP (-8,20%) recebeu um impulso quando um juiz determinou que a Ripple, a empresa que lançou o XRP, deve pagar uma multa de US$ 125 milhões, substancialmente menor do que os bilhões que a SEC buscava. Embora o XRP tenha caído no geral para o mês, provavelmente devido às condições gerais do mercado, o token teve um rali de mais de 20% em resposta a essa decisão judicial. TON (-19,73%), o token vinculado ao Telegram, caiu após a prisão do CEO e co-fundador do Telegram, Pavel Durov, no final de agosto. A blockchain homônima, que foi inicialmente desenvolvida por Pavel e seu irmão, não está mais associada ao Telegram, mas os participantes do mercado ainda reagiram negativamente às notícias da detenção de Durov pelas autoridades francesas por permitir suposta atividade criminosa na plataforma do Telegram.

Considerações sobre o Portfólio

A tendência de adoção mais generalizada e maior integração tem sido bastante evidente este ano, especialmente nos setores de pagamentos e manufatura. Esta tendência está alinhada com os casos de uso fundamentais dos ativos digitais, principalmente pagamentos, e a transparência aprimorada que a blockchain oferece, sendo particularmente benéfica para a gestão da cadeia de suprimentos. Contudo, a iniciativa mais recente da Sony marca uma notável divergência dessas aplicações convencionais, demonstrando um escopo mais amplo de adoção de blockchain e Web3 dentro de um conglomerado global.

O Grupo Sony, que inclui entidades diversas como cinema, finanças, semicondutores e jogos, desenvolveu a blockchain “Soneium”. Soneium visa superar as barreiras atuais para a adoção mainstream da blockchain facilitando as interações dos usuários existentes da Sony com jogos Web3 e mercados de NFT. Apesar de uma queda nos volumes de negociação e interesse após o boom dos NFTs em 2021, a utilidade central dos NFTs — interoperabilidade em vários ambientes digitais — permanece intacta. Como fabricante do PlayStation e estúdio por trás de franquias como Spider-Man e James Bond, a Sony possui um vasto conteúdo que poderia ser aproveitado em múltiplas plataformas, potencialmente criando valor sinérgico e novos casos de uso para sua base de usuários existente.

Soneium opera como uma solução Layer 2 na Ethereum, utilizando a tecnologia de roll-up otimista para escalabilidade. A Optimism, líder do setor em espaço Layer 2 reconhecida por sua expertise em tecnologia de roll-up, e a Chainlink, um dos principais provedores de oráculos que conectam dados do mundo real à blockchain, se associaram à Sony para o lançamento da testnet. Após o anúncio de sua participação, Chainlink (LINK) teve uma alta de 2,2%, e Optimism (OP) de 4,5%, superando ligeiramente o Bitcoin e o Ethereum, que caíram 1,2% e 0,3%, respectivamente.

Outros desenvolvimentos positivos para LINK incluíram sua listagem na HashKey, uma das duas bolsas de criptomoedas totalmente licenciadas de Hong Kong, juntamente com Avalanche (AVAX). Anteriormente, as ofertas da HashKey para clientes de varejo eram limitadas a Bitcoin e Ethereum. A expansão para LINK e AVAX foi atribuída aos seus mínimos conflitos regulatórios. Este movimento coincide com novos frameworks regulatórios introduzidos pela SFC de Hong Kong para plataformas de negociação de ativos digitais. Atualmente, apenas duas bolsas possuem licenças da SFC, e complexidades regulatórias relativas a investidores do continente levaram à retirada de aplicações por afiliadas locais de bolsas ligadas à China, como OKX e Huobi. Apesar das manchetes do programa piloto de stablecoin da Autoridade Monetária de Hong Kong em julho, o sentimento geral para que HK se torne o hub regional para negociação de cripto, tanto OTC quanto em bolsas, permanece moderado.

No setor DeFi, a MakerDAO anunciou uma iniciativa de rebranding sob o nome SKY, visando simplificar a experiência do usuário. O rebranding é uma das fases do plano "Endgame" da MakerDAO, aprovado em outubro de 2022. O DAI da Maker, a terceira maior stablecoin com um market cap de $5,34 bilhões, é distinta de outras stablecoins maiores devido à sua natureza algorítmica. Diferentemente das stablecoins emitidas centralmente e respaldadas por ativos fiduciários, o DAI utiliza contratos inteligentes e colaterais diversos para manter sua paridade com o USD. Esse método tem sido aclamado como uma maneira mais descentralizada de emitir stablecoins. A próxima versão do DAI, que será renomeada para USDS, incluirá uma função de congelamento, permitindo a suspensão de transferências de carteira — uma característica comum em stablecoins centralizadas como USDT e USDC, geralmente usada para lidar com atividades ilegais e preocupações de AML. A resposta do mercado ao anúncio de rebranding da MakerDAO foi positiva, com um modesto ganho de 4% em MRK. Outras fases do endgame incluem a criação de SubDAOs para reduzir a carga de trabalho e melhorar os processos de governança do modelo atual e o lançamento de ferramentas de IA.