Por que a volatilidade assusta tanto quem investe fora?
Martin Iglesias e Daniel Haddad explicam como alguns vieses impactam as decisões de quem quer diversificar globalmente e como driblar esses comportamentos.
Por Comunicação Itaú Asset

Investir fora do Brasil pode trazer inúmeras oportunidades, mas também desperta uma série de inseguranças. É justamente nesse momento que os vieses comportamentais ganham força e começam a impactar a forma como o investidor enxerga risco e retorno.
Esse foi o foco do painel com Martin Iglesias, especialista líder de recomendação de investimentos do Itaú, e Daniel Haddad, diretor de investimentos da Avenue, durante o Avenue Connection, evento promovido pela corretora nesta sexta-feira (18).
Por que sentimos mais as perdas do que os ganhos?
Logo no início da conversa, Martin resgatou a "Teoria do Prospecto", que fundamenta boa parte dos estudos em finanças comportamentais. Segundo ele, o investidor não avalia riscos e probabilidades de forma racional. “A gente superestima probabilidades muito baixas e subestima aquelas que são medianas ou altas”, explicou.
Outro ponto central, destacou Martin, é a aversão à perda. “A dor de perder pesa mais do que a alegria de ganhar”. É por isso que muitos investidores, quando percebem perdas na carteira, tentam aumentar riscos ou fazer preço médio para recuperar rapidamente o prejuízo, um comportamento perigoso.
Quando se fala em investimentos no exterior, esse viés pode ser ainda mais desafiador. “A volatilidade é mais frequente e as perdas temporárias incomodam muito. Mas quando olhamos para o longo prazo, essas oscilações perdem importância. O papel do especialista é ajudar o cliente a alongar esse horizonte de avaliação”, reforçou.
O impacto da contabilidade mental nas decisões
Daniel Haddad trouxe à conversa a ideia de “contabilidade mental”, explicando que é mais fácil para o investidor separar a carteira em dólares no exterior e em reais no Brasil. “Isso ajuda a não sentir tanto a volatilidade”, disse.
Para ele, o mais relevante é lembrar que, no longo prazo, a moeda é impactada muito mais pela inflação do que por movimentos de curto prazo.
Martin ainda chamou atenção para um viés pouco discutido: o do “enquadramento estreito”. Ele acontece quando o investidor tenta criar uma solução geral com base em apenas uma parte do problema. “Muita gente ainda se pergunta: será que esse é o momento certo, por causa do dólar, para investir lá fora?”, disse.
Segundo ele, a decisão não deve ser baseada na cotação do câmbio, mas na diversificação de longo prazo. “O câmbio é uma parcela pequena quando pensamos em alocação global. Não podemos confundir investimentos com a cotação do dólar do dia”, afirmou.
Como separar as “caixinhas” e enxergar o real risco
Outro ponto abordado foi a necessidade de separar mentalmente as “caixinhas” dentro da carteira. “Quando o investidor olha para os investimentos internacionais isoladamente, esse viés da volatilidade diminui”, explicou Martin.
Sobre a relação entre risco e volatilidade, o especialista foi direto. “Hoje parece que volatilidade virou sinônimo de risco. Mas, na prática, os investidores subestimam riscos mais importantes, como crédito e liquidez. Temos que focar menos na volatilidade e mais na proteção dos passivos”.
Haddad complementou com um olhar prático. “No Brasil, associamos risco à volatilidade em reais. Mas para aplicações no exterior, o correto é calcular essa volatilidade em dólar. Tem gente que ainda acha que treasury americano é arriscado só porque é expresso em dólar. O ideal é diferenciar as carteiras”, explicou.
Para ele, enquanto o investidor mantiver um olhar imediatista, cabe aos especialistas reforçar a importância de olhar além do retorno. “Investir não é só buscar resultado. É entender risco e manter o foco no médio e longo prazo”, afirmou.
E qual é o papel da IA nesse cenário?
Martin também trouxe um ponto de reflexão sobre o impacto da inteligência artificial no comportamento dos investidores. Segundo ele, a IA não elimina o risco nem a emoção no mundo dos investimentos:
“O que seria o limite da IA no mercado financeiro? Notícias novas vão continuar surgindo e, às vezes, impactam muito. A volatilidade não desaparece nesse mundo, e o medo e a ganância também não. O papel do assessor financeiro está longe de ser comprometido com a IA. Pelo contrário, se torna ainda mais importante para minimizar os vieses do cliente e do investidor.”