IPCA-15 reforça necessidade de paciência com desinflação lenta
Enquanto o mercado de trabalho brasileiro segue resiliente, o IPCA-15 desacelerou em abril
Por Itaú Private Bank
A semana foi marcada pela surpresa nos indicadores de inflação do Brasil, dos EUA e da China. Já a ata da última decisão do Federal Reserve (Fed, banco central americano) veio em linha com as expectativas do mercado. Também divulgamos as nossas atualizações de cenário, tanto local, em meio ao desafio fiscal, quanto global, diante do alívio no setor bancário.
Confira, abaixo, mais detalhes dos fatores que impactaram os mercados nos últimos dias.
IPCA sobe 0,71% em março, abaixo das expectativas
O IPCA subiu 0,71% em março, pressionado por preços administrados, com aceleração no preço da gasolina e da energia elétrica. Os dados vieram abaixo da expectativa do mercado (0,77%) e dos 0,84% registrados em fevereiro. O acumulado em 12 meses desacelerou para 4,65%, vindo de 5,60% no período anterior. Tanto o núcleo subjacente para serviços e bens industriais (IPCA-EX3) quanto o índice de difusão desaceleraram no mês. A leitura segue indicando uma desinflação gradual no país.
Setor de serviços recua além do esperado no Brasil
O volume de serviços no Brasil caiu 3,1% em janeiro. Na comparação anual, o setor avançou 6,1%. Ambos os resultados vieram abaixo do esperado pelo mercado. De maneira geral, a queda do indicador mensal foi uma surpresa negativa, mas acreditamos que parte disso se deva a efeitos pontuais. Para os próximos meses, esperamos uma desaceleração mais gradual dos serviços em meio ao fim do efeito de reabertura da economia e aos impactos defasados da política monetária contracionista.
Vendas no varejo se recuperam em janeiro
O volume de vendas no varejo teve uma alta mensal de 3,8% em janeiro, acima do consenso de mercado (3,4%). Na comparação anual, as vendas cresceram 2,6%. Em linha com nossas expectativas, as vendas cresceram em janeiro, após dados fracos em novembro e dezembro, impulsionadas por liquidações de início de ano e aumento do salário mínimo. No entanto, esse movimento provavelmente será temporário, pois as condições monetárias mais restritivas devem afetar a atividade econômica ao longo 2023.
Inflação chinesa atinge menor nível desde setembro de 2021
O Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) desacelerou em março de 1% para 0,7% na comparação anual, abaixo das expectativas. A queda foi impulsionada pelos preços mais baixos de alimentos e combustíveis. Porém, o núcleo do indicador, que exclui alimentação e energia, acelerou para 0,7% na base anual. A leitura indica que, apesar da reabertura ter provocado uma retomada acelerada da atividade econômica, o processo não tem sido inflacionário.
Ata do Fed destaca flexibilidade para decisões futuras
O Fed divulgou a ata de sua última reunião, quando as autoridades elevaram os juros em 25 pontos-base. O documento apontou que as autoridades esperam uma recessão leve no final deste ano. Outro destaque foi o impacto negativo dos eventos no sistema bancário sobre as expectativas de taxa terminal de juros. Ainda assim, as autoridades destacaram a necessidade de observar a evolução dos dados para avaliar o real impacto do aperto de crédito, reforçando a necessidade de flexibilidade nas próximas decisões.
Inflação desacelera nos EUA em março
O Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos EUA avançou 0,1% em março, desacelerando na comparação com fevereiro e abaixo das projeções do mercado. O núcleo, que exclui os itens mais voláteis, subiu 0,4%, em linha com as expectativas. Na base anual, porém, houve uma aceleração acima do esperado, para 5,6%. Apesar da surpresa positiva no índice cheio, o núcleo segue pressionado, e a leitura não deve alterar a expectativa para a próxima reunião do Fed, dividida entre estabilidade ou uma alta de 25 pontos-base nas taxas.
Vendas no varejo dos EUA caem mais do que o esperado
As vendas no varejo dos EUA recuaram 1% em março, uma queda mais profunda do que o esperado pelo mercado e do que o registrado em fevereiro. Após os resultados expressivos no início do ano, a leitura sinaliza uma economia em desaceleração diante da alta inflação e do aumento das taxas de juros pelo Fed, mas ainda mostrando alguma resiliência frente às expectativas. Já a produção industrial subiu 0,4% em março, acima do consenso do mercado e do resultado de fevereiro.
Revisão de cenário – Brasil: desafio fiscal permanece
O arcabouço fiscal e o futuro anúncio de medidas de recomposição das receitas são complementares e positivos. Ainda assim, há desafios significativos à frente. Reduzimos a projeção do PIB de 2023 para 1,1%, diante dos desenvolvimentos no mercado de crédito. Atualizamos as estimativas de taxa de desemprego para 9,0% em 2023 e 9,1% em 2024. Seguimos com a projeção de inflação para 2023 em 6,1%, mas revisamos para cima a de 2025, para 4,5%, com a maior desancoragem das expectativas de inflação.
Revisão de cenário – Global: alívio no setor bancário
Os bancos dos EUA enfrentam incertezas, mas o risco sistêmico é menor do que durante a crise financeira global. Reduzimos a estimativa do PIB dos EUA para 2024 para 0,2% e acreditamos que turbulência irá limitar os movimentos do Fed (agora, esperamos juros terminal em 5,1%). Na Europa, os bancos estão mais resilientes a choques de juros. Na China, diante do impulso proporcionado pela reabertura e a forte recuperação do setor imobiliário, esperamos crescimento do PIB chegue a 5,7% em 2023 (5,3% anteriormente).