Mercado de crédito em transformação: impactos da MP 1.303 no Brasil e perspectivas globais
On Credit: nossos especialistas analisam o que movimentou o mercado de crédito no último trimestre e a dinâmica dos ativos de crédito frente às mudanças regulatórias e econômicas
Por Itaú Private Bank
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O terceiro trimestre foi marcado por transformações importantes no mercado de crédito brasileiro e internacional.
No Brasil, a Medida Provisória 1.303/2025 criou uma corrida por ativos isentos, intensificando a demanda e comprimindo spreads para níveis mínimos históricos.
Paralelamente, o mercado internacional apresenta um cenário construtivo, com posições financeiras sólidas de consumidores e empresas americanas, reduzindo significativamente os riscos de recessão.
Brasil
- Impacto da Medida Provisória 1.303/2025: a MP propõe tributação de 5% sobre rendimentos de títulos incentivados a partir de 2026, mas preserva a isenção para papéis e fundos isentos emitidos até dezembro de 2025. Isso criou uma verdadeira corrida entre investidores institucionais e profissionais para aproveitar essa janela de oportunidade, intensificando a demanda por ativos como debêntures de infraestrutura, CRIs e CRAs.
- Dinâmica do mercado secundário: a intensificação da demanda por parte dos fundos resultou na compressão dos spreads para os menores patamares históricos. Esse movimento exacerbado de fechamento dos spreads está sendo parcialmente compensado pelo maior volume de novas emissões, criando uma dinâmica interessante onde a oferta tenta equilibrar a demanda aquecida. O mercado secundário está experimentando uma liquidez sem precedentes neste segmento.
- Estratégia acelerada dos emissores: mesmo em um cenário desafiador de juros altos, os emissores estão correndo para lançar novas emissões antes do prazo final de 31 de dezembro de 2025. Eles aproveitam os baixos spreads atuais para fazer um melhor gerenciamento de seus passivos e alongamento de suas dívidas, entendendo que essa janela regulatória pode não se repetir.
- Fatores macroeconômicos e riscos: o impacto das tarifas americanas tem sido limitado no universo dos principais emissores brasileiros, não se sobrepondo à dinâmica já existente do mercado. Há expectativa de que o ciclo de alta da Selic esteja próximo do fim, mas taxas altas por um período prolongado podem afetar o crédito das empresas ao estender o tempo necessário para desalavancagem.
- Recomendações estratégicas: diante da volatilidade esperada neste mercado de crédito privado, a recomendação é manter cautela e diversificar investimentos tanto em exposição a empresas quanto a setores. A janela regulatória oferece oportunidades, mas deve ser aproveitada com gestão prudente de riscos.
Internacional
- Cenário macroeconômico construtivo: as posições financeiras sólidas de consumidores e empresas americanas, combinadas com a queda nos preços do petróleo, reduziram significativamente a vulnerabilidade do setor privado e o risco de recessão. Já são observados sinais iniciais de recuperação em manufatura e habitação após anos de desempenho fraco, o que pode favorecer setores cíclicos como transporte, consumo discricionário e materiais.
- Estratégia de posicionamento em renda fixa: a estratégia atual envolve posição abaixo do neutro em Tesouro Americano, especialmente no setor de 1 a 3 anos, considerando o ciclo de cortes do Fed implícito como agressivo. Por outro lado, há posição acima do neutro em High Yield, com destaque para títulos classificação BB, que oferecem rendimentos atrativos em relação ao Grau de Investimento com risco de queda limitado.
- Temporada de resultados robusta: os lucros do segundo trimestre de 2025 cresceram 11,8% em relação ao ano anterior, marcando o terceiro trimestre consecutivo de crescimento de dois dígitos. Os lucros superaram estimativas em 8,4%, acima da média de 10 anos, com margem líquida subindo para 12,8%.
- Perspectivas setoriais e impacto das tarifas: embora a incerteza comercial esteja em níveis recordes, o efeito nas empresas tem sido limitado até agora. A indústria automotiva foi a mais afetada, mas outras companhias relataram pressões apenas no terceiro trimestre. Para empresas de mercados emergentes, o impacto de tarifas e sanções tem sido pequeno, com contribuições dos mercados locais melhorando.
- Política monetária e estratégia de investimento: após recente reprecificação, o mercado espera cinco cortes de juros até o final de 2026, com o primeiro possível em setembro de 2025. A estratégia foca em títulos BBB e BB buscando rendimentos de 5% a 7%, com preferência por vencimentos entre 2030 e 2035 devido à inclinação das curvas de crédito. A recomendação é aproveitar os rendimentos ainda elevados e acima da inflação enquanto estão disponíveis.
- Riscos e oportunidades futuras: embora a incerteza comercial possa desacelerar a atividade em 2025, o crescimento provavelmente voltará a crescer em 2026 com os incentivos fiscais previstos. Os balanços corporativos permanecem fortes, com spreads de crédito retornando a níveis pré-Liberation Day. O principal risco seria uma recessão, considerada de baixa probabilidade no cenário atual.