Nossa visão: tarifas pressionam crescimento da Zona do Euro, mas estímulos fiscais podem dar alívio

No Radar do Mercado: no terceiro artigo da série Nossa Visão, confira uma análise da nossa equipe de macroeconomia sobre o momento atual e a perspectiva para os próximos meses da economia da Zona do Euro

Por Itaú Private Bank

6 minutos de leitura
Nesta semana, estamos publicando uma série de artigos aqui No Radar do Mercado com uma análise da nossa equipe de macroeconomia sobre o atual momento econômico e as perspectivas para os próximos meses das regiões mais relevantes em nossa cobertura. No episódio de hoje, confira nossa análise sobre a Zona do Euro.

O ano tem sido marcado por dois principais temas na Zona do Euro: tarifas americanas e os pacotes fiscais aprovados – em especial, na Alemanha.

A incerteza permanece elevada quanto ao primeiro. A negociação entre União Europeia e EUA permanece sem evolução no curto prazo, mantendo o risco de reversão das tarifas recíprocas de 10% – reduzidas com a trégua de 90 dias – para os 20% inicialmente anunciados. Essas tarifas se somam às setoriais de 25%, em especial, a de automóveis, contribuindo para uma alíquota efetiva maior. De toda forma, o aumento da taxação sobre os produtos europeus se traduzirá em um impacto negativo para a atividade, via menor exportação, maior incerteza e aperto das condições financeiras.

Sobre a inflação, o efeito provavelmente será na mesma direção. Embora eventuais retaliações pela Comissão Europeia tenham impacto inflacionário, esses efeitos devem ser mais do que compensados por uma atividade mais fraca e um fluxo maior de bens provenientes da China. Isso porque os produtos chineses que iriam para os EUA podem ser redirecionados para outros mercados, como o europeu.

Em relação ao segundo tema, o pacote fiscal anunciado em março pela Alemanha (comentamos em maior detalhe neste The Weekly Globe) apresenta uma virada de chave importante para a região, dando um impulso relevante no crescimento. Os impactos mais claros, no entanto, só devem aparecer de 2026 em diante.

No curto prazo, portanto, o efeito da guerra comercial deve prevalecer sobre a atividade. Nesta quinta-feira, 22, por exemplo, o Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) de maio da Zona do Euro foi divulgado e registrou desaceleração, de 50,4 para 49,5 no índice composto, recuando para nível associado à contração da atividade, refletindo a maior incerteza das tarifas. Já quanto à inflação, o “índice cheio” na métrica acumulada em 12 meses se encontra em 2,2%, bem próxima da meta de 2% ao ano.

Esse quadro de inflação comportada e atividade frágil permite a redução da taxa de juros em direção à neutra. Contudo, dadas as pressões recessivas e deflacionárias advindas do cenário externo, o risco é de que o Banco Central Europeu (BCE) siga cortando juros para além disso, parando o ciclo de cortes em um patamar estimulativo para a atividade. O gráfico abaixo ilustra esse ponto, com a precificação de mercado apontando para um banco central que encerra seu ciclo de cortes ligeiramente abaixo do considerado neutro, principalmente após as tarifas anunciadas no “Liberation Day”.

Gráfico que mostra a curva da taxa de juros da Zona do Euro desde janeiro de 2025
*Intervalo estimado pelo Banco Central Europeu. Fonte: Banco Central Europeu, Bloomberg, Itaú Private Bank

Daqui para a frente, a negociação entre EUA e a União Europeia deve continuar em foco no curto prazo, sendo o principal fator de incerteza a ser esclarecido para entender a magnitude do impacto na atividade, inflação e juros. Já para 2026 em diante, a economia deve apresentar crescimento melhor, com a ajuda dos estímulos previstos no pacote fiscal alemão.

Confira também nossas análises sobre a China e sobre os EUA.

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