França derruba primeiro-ministro e aprofunda impasse político e orçamentário
No Radar do Mercado: presidente Emmanuel Macron deve nomear sucessor “nos próximos dias”, com a missão de aprovar novo orçamento e tentar reduzir o déficit fiscal francês
Por Itaú Private Bank
O primeiro-ministro da França, François Bayrou, teve seu pedido de voto de confiança rejeitado pela Assembleia Nacional nesta segunda-feira, 8, conforme já era esperado. Bayrou obteve 364 votos contrários, bem acima dos 280 necessários para o pedido ser rejeitado. A votação ocorreu em um contexto de minoria do governo no parlamento, após o primeiro-ministro ter apresentado uma proposta ambiciosa de orçamento, com cortes no valor de € 44 bilhões para 2026. Ainda nesta terça-feira, 9, o primeiro-ministro entregou sua carta de renúncia ao presidente Emmanuel Macron, que afirmou que nomeará um novo primeiro-ministro “nos próximos dias”.
O voto ou moção de confiança é uma ferramenta comum em países que adotam regimes parlamentaristas. Trata-se de uma proposta apresentada pelo governo ao parlamento, com o propósito de verificar se a atual gestão possui o apoio da maioria dos parlamentares. Caso não seja aprovado pela maioria simples, o primeiro-ministro e sua equipe devem deixar o governo.
Bayrou foi o quarto primeiro-ministro a cair em menos de dois anos, o que ressalta a instabilidade política na França diante da deterioração fiscal recente. A questão orçamentária do país foi novamente o principal fator que levou à queda do ministro, assim como no caso do seu antecessor, Michel Barnier.
O novo gabinete terá como prioridade fechar um acordo sobre o orçamento de 2026, que precisa ser apresentado ao Parlamento até 13 de outubro. Embora algum acordo seja possível, a maioria dos analistas considera improvável que se aprove uma consolidação fiscal robusta, fazendo com que a trajetória fiscal da França siga pressionada. O fato é ilustrado pelos gráficos abaixo, que mostram uma piora nas contas públicas nos últimos anos (mesmo em relação aos pares europeus) e a perspectiva de continuidade dessa dinâmica nos próximos anos.


Além do impasse orçamentário, o governo enfrentará um ambiente social conturbado. Há protestos convocados para os dias 10 e 18 de setembro, o que pode dificultar ainda mais a negociação política. No radar dos investidores também deve estar a reavaliação do rating da França pela Fitch, com decisão prevista para 12 de setembro. Atualmente, o crédito soberano pela Fitch é AA- com perspectiva negativa, o que aumenta o risco de um eventual downgrade.
Nossa visão: o cenário político francês segue instável e o espaço para avanço em medidas de ajuste fiscal relevante é limitado. A sucessão de primeiros-ministros e a dificuldade de articulação com o Parlamento aumentam a incerteza sobre a condução da política fiscal no médio prazo. Ainda que o orçamento de 2026 possa ser aprovado com alguma redução no déficit, a deterioração das contas públicas na França deve continuar sendo um ponto de atenção para as agências de rating e para os mercados.
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