Revisão de cenário: ambiente global com incertezas à espera do choque de tarifas; no Brasil, Banco Central sem pressa para cortar juros
No Radar do Mercado: a equipe de macroeconomia do Itaú BBA divulgou revisões de cenário econômico em âmbito local e global, destacando o ambiente de elevada incerteza
Por Itaú Private Bank
Revisão de Cenário - Brasil
O Banco Central parece ter ganhado confiança de que a política monetária está em patamar significativamente contracionista e que a atividade está desacelerando. No entanto, diante da inflação ainda acima da meta, expectativas desancoradas e atividade resiliente, a equipe de macroeconomia do Itaú BBA projeta que os juros devem se manter elevados por tempo prolongado, com a taxa Selic estável em 14,75% a.a. até o final do ano, havendo espaço para cortes apenas em 2026 (encerrando o ano em 12,75% a.a.).
Ao mesmo tempo, a revisão de cenário divulgada hoje segue indicando PIB de 2,2% em 2025 e 1,5% para 2026. Apesar do desempenho ligeiramente abaixo do esperado no primeiro trimestre, os dados seguem indicando resiliência da atividade, resultando em revisão altista das projeções para o segundo semestre. Em relação ao mercado de trabalho, diante das surpresas de curto prazo, houve revisão da taxa de desemprego deste ano, de 6,8% para 6,4%, e de 2026, de 7,3% para 6,9%.
Em relação ao câmbio, a leitura é de que o cenário internacional continua sendo o principal vetor para o direcionamento da moeda. Com o ambiente de dólar mais fraco frente a moedas emergentes, houve revisão para baixo das projeções para o câmbio em 2025 e 2026, ambos em R$ 5,65 por dólar, frente à projeção de R$ 5,75 anteriormente. A revisão cautelosa se justifica pela elevada incerteza sobre o cenário internacional, os riscos domésticos relacionados às contas fiscais e o quadro de contas externas pressionadas.
Na frente de preços, a valorização do câmbio e a esperada queda de preços de alimentos justificou revisão para baixo na projeção de IPCA deste ano, de 5,5% para 5,3%, agora com riscos equilibrados. Para 2026, manteve-se a projeção de 4,4%, mas com riscos deslocados para cima, dado o mercado de trabalho ainda pressionado e a persistência de expectativas de inflação desancoradas no horizonte mais longo.
Houve também revisão na projeção de resultado primário para -0,6% do PIB em 2025 e -0,8% em 2026, incorporando receitas adicionais associadas ao saque de fundos privados e efeito parcial do aumento de IOF, se aproximando do cumprimento da meta (com abatimentos) em 2025.
Revisão de Cenário - Global
O cenário global segue marcado por tensões comerciais e incertezas geopolíticas. Após a recente trégua entre Estados Unidos e China, não foram anunciados novos acordos envolvendo outros países. As tarifas norte-americanas permanecem elevadas: sobre a China, o total atinge 30% — sendo 20% por sanções relacionadas ao fentanil e 10% por reciprocidade — enquanto a tarifa padrão para outros parceiros comerciais está em 10%, com exceções setoriais. No fim de maio, por exemplo, as tarifas sobre alumínio e aço foram duplicadas, chegando a 50%. Com isso, a tarifa média efetiva dos EUA alcançou 14,6%, um aumento de 12 pontos percentuais.
Com a aproximação de prazos críticos para o fim das tréguas comerciais (9 de julho para o restante do mundo e 12 de agosto para a China), o risco é de novas elevações nas tarifas. É pouco provável que haja flexibilização das tarifas relacionadas ao fentanil, apesar do recente aumento no diálogo bilateral. Além disso, persistem riscos de sobretaxas em setores como cobre, produtos farmacêuticos e semicondutores, que ainda estão sob investigação.
Nos Estados Unidos, a atividade econômica segue resiliente, com mercado de trabalho forte e projeção de alta de 3,5% para o PIB no 2º trimestre, em termos anualizados, após queda no início do ano. Em relação à inflação, espera-se impacto relevante das tarifas, com núcleos do CPI e PCE projetados em 3,8% e 3,5%, respectivamente. Assim, esse cenário deve levar o Fed a retomar seu ciclo de corte de juros apenas em dezembro. No campo fiscal, o pacote OBBA (One Big Beautifull Bill) aprovado na Câmara aponta para déficits crescentes (6,5% a 7,0% do PIB) nos próximos anos, pressionando os juros longos e contribuindo para o enfraquecimento do dólar.
Na Europa, o Banco Central Europeu tem sinalizado uma postura mais cautelosa em relação a novos cortes de juros, em linha com a projeção do Itaú BBA de manutenção da taxa terminal em 2,0% a.a. O menor apetite global por ativos americanos levou à revisão da projeção para o euro, agora estimado em 1,12 (de 1,10 anteriormente).
Na China, o crescimento segue sustentado pela resiliência das exportações, o que tem reduzido a urgência por novos estímulos econômicos. Com isso, as projeções de crescimento foram mantidas em 4,5% para 2025 e 4,0% para 2026.
Por fim, na América Latina, houve nova rodada de projeções para cima na maioria das economias da região, a despeito da elevada incerteza em torno da política comercial, por conta da melhora na estimativa do crescimento dos EUA, dados de atividade melhores do que o esperado e melhoria nos termos de troca.
Confira o relatório na íntegra.
Serviços avançam 0,2% em abril
O volume de serviços no Brasil cresceu 0,2% em abril frente a março, conforme a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), divulgada pelo IBGE. O resultado veio em linha com a mediana das projeções e indica leve desaceleração na margem. Apesar da leitura positiva, apenas um dos cinco grandes segmentos apresentou crescimento no mês. Na comparação anual, o avanço foi de 1,8%.
O resultado de abril foi impulsionado pelo setor de transportes, que avançou 0,5% e acumulou alta de 2,8% nos últimos três meses. Todos os demais segmentos apresentaram retração: destaque negativo para “outros serviços” (-2,3%), que registra dois meses consecutivos de queda. Serviços profissionais, informação e comunicação, e serviços às famílias também recuaram levemente, revertendo parte dos ganhos dos meses anteriores.
Nossa visão: apesar do leve avanço no mês, a queda em quatro dos cinco segmentos e a desaceleração na comparação interanual indicam perda de fôlego na atividade, reforçando a leitura de moderação do setor de serviços após um primeiro trimestre mais forte.
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