Cobertura Web Summit Rio: Startups - para onde o Venture Capital está olhando?
Por Itaú BBA
As altas temperaturas do Rio de Janeiro quebraram o clima um tanto nublado do mercado global de tecnologia. Foi essa a impressão, animadora, de quem passou pelo Web Summit Rio. No público de 20.000 pessoas, 596 eram investidores originários de 21 países. Entre eles, um consenso: pelo número de oportunidades e pela diversidade, a América Latina tem sido vista de forma otimista pelo mercado de venture capital. Sediar o maior evento de tecnologia do mundo aqui, aliás, faz parte do plano de tornar o Brasil algo como um "Vale do Silício tropical", expectativa manifestada também pelo prefeito Eduardo Paes, que fez as honras da casa na abertura do festival.
Mesmo com muita polêmica em torno de grandes temas – inteligência artificial, aquecimento global e futuro do trabalho, para citar alguns – algumas conclusões podem ser tiradas em relação ao que buscam os investidores. A primeira delas, que se mostrou cristalina na convenção, é a mentalidade de longo prazo esperada por parte das startups. Negócios que não levam em conta os efeitos de suas atividades pelas décadas à frente nas esferas ambiental, social e de governança tendem a ficar no final da fila do capital de risco. Nesse mesmo raciocínio está a busca por negócios que proponham soluções mais assertivas, baseadas cada vez mais em dados e com riscos calculados. "A gente sempre tenta imaginar que algo além do dinheiro tem de trazer valor para a mesa", disse Roberto Marinho Neto.
Para além das já conhecidas expectativas em relação a ímpeto, energia, paixão e determinação por parte dos CEOs e fundadores, o investimento de risco vê com bons olhos a postura de total conhecimento e profundidade sobre a indústria na qual a startup está inserida. Espera-se que os líderes sejam intensamente fluentes em seus temas, estando próximos de players bem sucedidos que já estiveram na mesma trilha e podem compartilhar aprendizados.
Seja local, pense global
Um ponto de atenção mencionado por representantes de diversas empresas de capital de risco foi a imprescindível mentalidade global, desde o dia 1, que deve reger as startups. Na avaliação dos investidores que circularam pelo evento, apesar das empresas terem interesse em entrar no mercado internacional, o pensamento ainda parece ser muito centrado na América Latina. "Na Europa, os fundadores já mostram os planos de negócio prevendo uma escala internacional. A maioria das empresas que encontrei aqui ainda não está nesse estágio", pontuou Sylvester Mobley, do fundo americano Plain Sight Capital, que apoia fundadores no ecossistema de tecnologia.
Por outro lado, quando se fala em América Latina e nas inúmeras oportunidades que se abrem por aqui, foi mencionado o potencial de impacto positivo do investimento em mercados emergentes. Na opinião de Roger Laughlin, CEO da Kavak no Brasil, empreender por aqui envolve lidar com particularidades e desafios locais que, por outro lado, representam um terreno fértil para soluções de impacto. "A complexidade impulsiona valor ao cliente", disse.
Quer sair na frente? Proponha melhorar o mundo
Em um dos diversos painéis dedicados a venture capital, Brian Walsh, investidor da Wind Ventures, falou sobre a natureza crucial do capital de risco no combate às mudanças climáticas, viabilizando iniciativas ligadas à geração de energia renovável. Companhias que estão em busca de utilizar tecnologias para salvar o planeta, sem abrir mão da escalabilidade e do impacto social positivo, são as mais cotadas entre quem assina o cheque. O mesmo acontece com as startups que propõem tornar mais saudáveis as relações entre pessoas e máquinas, principalmente no âmbito da inteligência artificial e dos desdobramentos dessa tecnologia, ainda incertos para a humanidade. Outro ponto esperado das candidatas é o senso de urgência para resolver problemas e um apetite por melhorar o mundo.
Por fim, a recomendação de Ali Jamal, fundador do First Check Ventures, um dos diversos palestrantes sobre VC no Web Summit Rio. “Faça o approach curto, simples e fácil de entender", disse. Uma narrativa que mostre como o produto pode resolver o problema de forma clara, encaixado nos pilares de ESG, é o que esperam ouvir os muitos investidores que estão de olho no Brasil. Quão por dentro dessas diretrizes está hoje o seu negócio?