Copom confirma expectativas e eleva Selic em 1,0 ponto percentual
No Radar do Mercado: na primeira reunião do ano, Comitê seguiu o guidance apresentado, elevou a Selic para 13,25% ao ano e confirmou indicação de nova alta de 1,0 p.p. na próxima reunião, mas não fez indicações além disso
Por Itaú Private Bank
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reuniu pela primeira vez no ano e decidiu elevar a taxa Selic em 1,0 ponto percentual, para 13,25% ao ano. A decisão confirmou a indicação dada após o último encontro e reforçou a tendência de um novo aumento dessa magnitude na próxima reunião, mas não fez sinalizações do que deve acontecer além disso.
No comunicado, o Comitê destacou que o ambiente externo permanece desafiador, com incertezas nos EUA suscitando dúvidas sobre a desaceleração da atividade, a desinflação e, consequentemente, sobre as próximas decisões do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), o que sugere cautela por parte de países emergentes.
Em relação ao cenário doméstico, o comunicado cita que a desancoragem adicional das expectativas de inflação, a resiliência da atividade econômica e pressões no mercado de trabalho seguem exigindo uma política monetária contracionista. Além disso, menciona que a percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida pública seguem impactando os preços dos ativos e as expectativas de forma relevante.
Com relação ao balanço de riscos, os membros citaram a resiliência da inflação de serviços e a taxa de câmbio depreciada como fatores altistas, mas mencionaram um cenário menos inflacionário para economias emergentes e incluíram uma eventual desaceleração da atividade econômica doméstica mais acentuada do que a projetada entre os riscos baixistas.
Na nossa visão, o tom do comunicado foi mais brando (dovish) do que o esperado, mesmo diante da significativa deterioração das expectativas de inflação, com as projeções de inflação mais moderadas do que antecipávamos e mudanças na comunicação sugerindo maior preocupação com os riscos baixistas já mencionados. Seguimos projetando mais um aumento de 1,0 p.p. na próxima reunião e uma taxa terminal de 15,75% ao ano, mas parecem existir riscos de que o Copom pode pausar o ciclo antes disso.
Nossa visão para os mercados
Por não ter sido tão claro quanto à continuidade da alta da Selic além de março, num contexto de forte desancoragem de expectativas de inflação e projeções ainda distantes da meta no horizonte relevante, parte do mercado tende a avaliar que a mensagem veio mais branda do que o necessário.
Com isso, espera-se para a abertura dos mercados amanhã na renda fixa pré uma redução de taxas nos prazos mais curtos, seguida do aumento da inclinação da curva, ou seja, quedas de taxas menos intensas ou mesmo alguma elevação nos vencimentos mais longos.
A inflação implícita nas NTN-Bs também deverá sofrer elevação generalizada. As Bs mais curtas tendem a ser os papéis mais beneficiados pela decisão do Copom, pela combinação de taxa pré mais baixa e implícitas mais elevadas (resultando num juro real menor), enquanto as taxas das NTN-Bs médias e longas podem elevar-se um pouco, porém em intensidade inferior aos prefixados em função da alta da inflação implícita.
Em relação ao real, o quadro externo mais benigno neste início de ano voltou a atrair investidores estrangeiros e provocar o desmonte de posições de proteção. A alta de hoje da Selic, ao reforçar a atratividade da nossa moeda, pode prolongar essa dinâmica na direção de uma maior valorização no curto prazo. Entretanto, para que isto se mantenha, é crucial que as incertezas fiscais sejam endereçadas de forma mais contundente.
Na renda variável, reforçamos que ciclos de alta da Selic diminuem a atratividade da bolsa relativamente à renda fixa no curto prazo. Por outro lado, é de suma importância que o Banco Central se mantenha vigilante frente à inflação para evitar um potencial impacto negativo adicional nos preços das ações advindo de elevadas expectativas inflacionárias e maior percepção de risco país.
Nesse sentido, o efeito da decisão do Copom para o Ibovespa amanhã não deve ser tão expressivo, mas carrega um viés negativo. O comportamento do mercado internacional continua a ditar o desempenho dos ativos brasileiros, enquanto o noticiário local segue sem grandes novidades. Espera-se que com a retomada dos trabalhos no Congresso Nacional a partir da próxima semana, o cenário local volte a ganhar mais protagonismo.
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