Cockpit do Copom: o que esperar da primeira reunião do ano?
No Radar do Mercado: Copom se reúne pela primeira vez no ano com expectativa de alta de 1,0 ponto percentual na taxa Selic, ritmo poucas vezes observado nos últimos 15 ciclos de juros desde outubro de 2002
Por Itaú Private Bank
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne nesta terça, 28, e quarta-feira, 29, pela primeira vez no ano, já sob a presidência de Gabriel Galípolo. A expectativa é que o Comitê confirme o guidance dado após a última reunião e eleve a taxa Selic novamente em 1,0 ponto percentual, para o patamar de 13,25% ao ano.
Além da elevação da taxa Selic, o Copom deve atualizar a projeção para o IPCA de 2025 de 4,5% para 5,2% no cenário base e de 4,0% para 4,2% no horizonte relevante (que se desloca do segundo para o terceiro trimestre de 2026). Isso significa que a projeção de inflação no horizonte relevante se aproximará ainda mais do teto do intervalo de tolerância de 1,5 p.p. ao redor da meta de 3,0% ao ano definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Essa atualização se deve à contínua deterioração nas expectativas de inflação coletadas semanalmente pelo Relatório Focus, além de uma composição mais desafiadora para a inflação corrente e uma taxa de câmbio que segue pressionada (ainda que com algum alívio recente) em comparação com a última reunião do Comitê.
Tais fatores, em conjunto com os modelos prospectivos de inflação, poderiam justificar a sinalização de ajustes de mesma magnitude para as próximas reuniões. No entanto, a política monetária mais restritiva deve impactar a economia com mais força a partir do segundo trimestre de 2025. Diante disso, e em meio a elevado grau de incerteza, avaliamos que a autoridade monetária não deve indicar a magnitude dos movimentos para reuniões além da próxima, onde mais uma alta de 1,0 p.p. já foi comunicada anteriormente.
Colocando tais movimentos em perspectiva, um levantamento feito pelo time de Pesquisa Macroeconômica do Itaú indicou que o ritmo de altas (ou cortes) de 1,0 p.p. na taxa Selic foram observados poucas vezes nos últimos anos.
Analisando os últimos 15 ciclos de juros, ajuste superior a 1,0 p.p. só foi visto em março de 2021, partindo de uma Selic historicamente baixa e em meio à discussão da PEC dos precatórios, e outubro de 2002, quando as expectativas de inflação estavam mais de 2,0 p.p. acima da meta. Já em ciclos de afrouxamento monetário, um ajuste acima de 1,0 p.p. também só foi visto em junho de 2003, quanto a Selic estava acima de 15,0% a.a., e em janeiro de 2009, durante a grande crise financeira.
Olhando para o ciclo atual, acreditamos que a estratégia ótima de política monetária é o comprometimento pleno com a sinalização recente, mantendo a vigilância sobre a desancoragem de expectativas e reafirmando o compromisso com a convergência para a meta de inflação no horizonte relevante. Nesse sentido, a manutenção do ritmo de 1,0 p.p. nas duas primeiras reuniões do ano é adequada, sem fechar a porta para altas adicionais de mesma magnitude nas reuniões seguintes, a depender da evolução do cenário, em particular da dinâmica da inflação e das expectativas.
Confira a análise sobre a expectativa do primeiro Copom do ano na íntegra.
Confira a análise sobre os ciclos de juros no Brasil na íntegra.
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