Copom eleva Selic em 1,0 ponto percentual e sinaliza novo aumento à frente

No Radar do Mercado: Comitê confirmou a expectativa do mercado, elevou a Selic para 14,25% e sinalizou um novo aumento, de menor magnitude, na próxima reunião

Por Itaú Private Bank

6 minutos de leitura

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reuniu pela segunda vez no ano e decidiu elevar novamente a taxa Selic em 1,0 ponto percentual, para 14,25% ao ano. A decisão veio em linha com as expectativas do mercado e confirmou a indicação dada nas duas últimas reuniões. Além disso, como havíamos antecipado, o Comitê indicou um novo aumento na próxima reunião, embora de menor magnitude. Depois disso, a extensão do ciclo dependerá dos dados.

No comunicado, o Copom destacou que o ambiente externo permanece desafiador em função da conjuntura e da política econômica nos EUA, gerando dúvidas sobre o ritmo de desaceleração da atividade, da desinflação e, consequentemente, sobre as próximas decisões do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), o que sugere cautela por parte dos países emergentes.

Já sobre o cenário doméstico, o comunicado segue afirmando que a atividade econômica tem apresentado dinamismo, mas passou a incluir trecho que menciona sinais de uma moderação incipiente do crescimento. Adicionalmente, menciona que as projeções de inflação estão elevadas (sua previsão de inflação para o horizonte relevante de política, atualmente no terceiro trimestre de 2026, é de 3,9%) e que ainda prevê riscos assimétricos (de alta) para o cenário de inflação.

Na nossa visão, a referência aos efeitos defasados de política monetária acontece historicamente algumas reuniões antes do fim dos ciclos de política monetária. Portanto, a leitura de que a adição desse trecho no comunicado de hoje sinaliza o fim do ajuste na próxima reunião pode ser precipitada. Seguimos esperando que o Copom entregue dois aumentos adicionais nas próximas reuniões, levando a Selic a 15,25% até meados do ano. Saberemos mais sobre o racional do Copom com a divulgação da ata da reunião na próxima terça-feira, 25.

Nossa visão para os mercados

A comunicação feita pelo Copom hoje deverá ser vista como um pouco mais dura pelo mercado. Afinal, por um lado o Banco Central foi econômico ao comentar a perda de dinamismo da economia brasileira, mas por outro continuou a demonstrar elevada preocupação com as perspectivas para a inflação.

Com isso, as taxas prefixadas na abertura dos negócios amanhã, 20, podem apresentar uma leve alta nos vencimentos mais curtos, uma vez que o BC já prometeu pelo menos uma nova elevação da Selic para a próxima reunião sem qualquer sinalização de parada iminente. Já os prazos mais longos tendem a apresentar um comportamento mais favorável, possivelmente com taxas mais baixas, uma vez que essa postura mais firme do Banco Central poderá abrir espaço para quedas de juros mais cedo ou mais intensas no futuro. Em outras palavras, poderemos ver o que o mercado chama de “bear flattening”, onde a parte curta se eleva, mas a curva reduz sua inclinação.

Nesse cenário, as NTN-Bs tendem a apresentar estabilidade de taxas em relação ao fechamento desta quarta-feira, 19. Afinal, a redução de taxas dos vértices prefixados médios e longos seria neutralizada pela queda também das inflações implícitas. Com isto, o juro real ficaria inalterado.

A decisão de hoje não muda nossas recomendações na carteira de renda fixa, que mantém alocação abaixo do nível neutro em ativos prefixados e acima do neutro na classe de juro real. Esse posicionamento equilibrado na renda fixa é, ao nosso ver, o mais adequado para atravessarmos o ambiente atual de elevada incerteza no cenário local e externo.

Em relação ao real, o quadro externo mais benigno, marcado por uma desvalorização ampla do dólar, continua a favorecer nossa moeda. A alta de hoje da Selic, ao aumentar o diferencial de juros entre o Brasil e o resto do mundo, pode prolongar essa dinâmica na direção de uma maior valorização no curto prazo. Entretanto, para que isso seja duradouro, é necessário a redução das incertezas do cenário, sobretudo na frente fiscal doméstica.

Para a bolsa, apesar de reconhecer que ciclos de alta da Selic diminuem a atratividade da renda variável frente à renda fixa no curto prazo, reforçamos a importância da postura firme do Banco Central em combater a inflação e evitar um impacto negativo maior advindo de elevadas expectativas inflacionárias e de um aumento no risco país.

Nesse sentido, acreditamos que a decisão do Copom é positiva para o Ibovespa. Entretanto, ressaltamos que o comportamento do mercado internacional deve continuar a ditar o desempenho dos ativos brasileiros no curto prazo. Diante disso, reafirmamos nossa alocação neutra em bolsa brasileira.

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