Tribunal suspende tarifas nos EUA; no Brasil, desemprego e IGP-M surpreendem
No Radar do Mercado: colegiado sediado em Nova Iorque determinou que maior parte das tarifas implementadas por Trump seja suspensa em até 10 dias. No Brasil, taxa de desemprego de abril e inflação medida pela FGV em maio vieram abaixo do esperado pelo mercado
Por Itaú Private Bank
Tribunal suspende tarifas comerciais nos EUA
O Tribunal Federal de Comércio Internacional dos EUA bloqueou na noite de ontem, 28, as tarifas recíprocas anunciadas pelo presidente Donald Trump. O colegiado de três juízes considerou que Trump excedeu os limites de utilização da Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional (IEEPA, na sigla em inglês), de 1977, ao taxar de forma generalizada produtos importados de diversos países.
A decisão, da qual a Casa Branca comunicou que já recorreu, determina que o governo interrompa a cobrança das tarifas em até 10 dias, mas não exige a devolução dos valores já arrecadados. A expectativa é que os feitos dessa decisão perdurem por algumas semanas, até o julgamento do recurso.
Diante disso, estima-se uma redução de ao redor de 7,7 pontos percentuais no nível das tarifas efetivas aplicadas, que passariam de 14,2% para 6,5% – isso considerando que 4 p.p. seguem vigentes por conta de tarifas setoriais, como as vigentes sobre aço e alumínio. Ainda assim, o governo possui outras vias legais para retomar a política tarifária, sem violar a decisão judicial.
Entre as opções disponíveis, destacam-se a aplicação de tarifas, sem investigação prévia, de até 15% por 150 dias via Seção 122 da lei do comércio. Já a seção 338 autoriza o governo a retaliar práticas comerciais consideradas discriminatórias com tarifas de até 50% sem investigação prévia e a seção 232, que permite a imposição de tarifas sob a prerrogativa de segurança nacional do país, mas com a necessidade de investigação. Há também espaço para a abertura de novos processos sob a Seção 301, que trata de práticas comerciais desleais.
Nossa visão: a decisão do tribunal marca uma pausa relevante na escalada tarifária recente, mas não altera o pano de fundo mais amplo de incerteza comercial. O uso de instrumentos alternativos, inclusive com respaldo constitucional mais sólido, deve manter elevada a volatilidade das relações comerciais dos EUA com seus principais parceiros. Por outro lado, a medida também representa o possível estabelecimento de limites ao poder presidencial.
Desemprego surpreende e recua novamente em abril
O IBGE divulgou nesta quinta-feira, 29, os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua indicando que a taxa de desemprego no trimestre encerrado em abril foi de 6,6%, bem abaixo da mediana das expectativas do mercado (6,9%). O resultado veio 1,0 ponto percentual abaixo do mesmo trimestre de 2024. Na série com ajuste sazonal, a taxa de desemprego também recuou: de 6,4% no trimestre encerrado em março para 6,2% no trimestre encerrado em abril.
A queda da taxa foi resultado do aumento do emprego (+0,4% na variação mês contra mês, com ajuste sazonal) acima do aumento da força de trabalho (+0,2% na mesma comparação). Já a taxa de participação avançou 0,1 p.p., para 62,5%, combinando o aumento da força de trabalho com a expansão da população em idade ativa. A população ocupada, por sua vez, cresceu tanto no setor formal (+0,6%) quando no informal (0,4%). Na parte de rendimento, a pesquisa indicou uma queda de 0,1% na massa salarial efetiva, consequência da combinação do aumento do emprego com a estabilidade do rendimento médio.
Nossa visão: os dados divulgados hoje mostram um mercado de trabalho resiliente. Os números apontam na mesma direção dos dados divulgados pelo Caged ontem, 28, que também mostraram criação de vagas (257 mil) bem acima do projetado pelo mercado (175 mil) em abril. Com o mercado de trabalho robusto, a desaceleração da atividade pode ser mais lenta do que o antecipado, reforçando a mensagem do Banco Central de manter os juros em patamar elevado por um período prolongado.
IGP-M registra deflação maior do que a esperada em maio
O Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) caiu 0,49% em maio, desacelerando bastante em relação à alta de 0,24% registrada em abril e vindo também abaixo da mediana das projeções do mercado, que era de -0,36%. Em 12 meses, o IGP-M agora acumula alta de 7,02%.
O resultado foi composto pela queda de 0,82% do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA-M), que corresponde a cerca de 60% do geral e apura a variação dos preços no atacado. No sentido contrário, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), com peso de cerca de 30% do indicador, avançou 0,37%, enquanto o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), com peso de cerca de 10%, desacelerou para 0,26% na passagem mensal.
Ata do Fed sinaliza que juros devem se manter estáveis nos EUA
O Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) divulgou na tarde de ontem, 28, a ata da última reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) e reforçou a postura cautelosa adotada até aqui. A ata manteve o tom duro adotado pelo presidente do Fed, Jerome Powell, indicando a discussão dentro do Comitê sobre o risco de persistência da inflação, apesar dos riscos mais elevados para ambos os lados do mandato (inflação e mercado de trabalho). O documento mencionou que "quase todos os participantes comentaram sobre o risco de que a inflação possa se mostrar mais persistente do que o esperado”.
No texto, os membros enfatizaram a importância de garantir que as expectativas de inflação de longo prazo permaneçam bem ancoradas, com alguns observando que as expectativas podem ser particularmente sensíveis já que a inflação está acima da meta do Comitê por um período longo. Diante disso, concordaram em reforçar a orientação de "política bem posicionada para aguardar por mais clareza sobre as perspectivas".
Nossa visão: o documento reforça a leitura de que o Fed deverá manter a taxa de juros no atual patamar na próxima reunião, seguindo com a postura cautelosa enquanto aguardam maior clareza sobre os impactos das tarifas comerciais sobre a economia americana. A atualização das estimativas do comitê no próximo encontro poderá oferecer maiores detalhes sobre o caminho projetado à frente pelo grupo.
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