Produção industrial brasileira recua e Trump deve anunciar tarifas recíprocas

No Radar do Mercado: indústria nacional registra o quinto mês consecutivo sem crescimento em fevereiro. Enquanto isso, mercado aguarda pelo anúncio das tarifas recíprocas por parte dos EUA

Por Itaú Private Bank

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Produção industrial recua em fevereiro

Segundo dados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) divulgada hoje, 2, pelo IBGE, a produção industrial brasileira caiu 0,1% em fevereiro ante o mês de janeiro na série com ajuste sazonal. O resultado veio abaixo das expectativas do mercado (0,3%), mas levemente acima da nossa projeção (-0,2%).

Em relação a fevereiro de 2024, houve crescimento de 1,5%, o nono resultado positivo consecutivo nessa base de comparação. Com esse resultado, a atividade do setor industrial está 15,7% abaixo do recorde alcançado em 2011.

Duas das quatro grandes categorias econômicas e 14 dos 25 ramos industriais pesquisados mostraram redução na passagem de janeiro para fevereiro. “Bens de consumo duráveis” (-3,2%) e “bens de consumo semi e não duráveis” (-0,8%) apresentaram resultados negativos e eliminaram parcialmente o crescimento registrado no mês anterior. Em contrapartida, os setores de “bens de capital” e “bens intermediários” avançaram 0,8%.

A principal influência baixista dentre os setores veio de “produtos farmoquímicos e farmacêuticos” (-12,3%), que interromperam dois meses consecutivos de expansão. Já os impactos positivos vieram principalmente do avanço de "indústrias extrativas" (2,7%) e "produtos alimentícios" (1,7%).

Nossa visão: o resultado da produção industrial de fevereiro veio próximo da nossa projeção, confirmando uma desaceleração esperada no setor manufatureiro, mas permanece em nível elevado após o robusto desempenho observado em 2024. A perda de dinamismo reflete maiores incertezas por parte das famílias e empresariado e pode ter relação com o aperto na política monetária, a depreciação cambial verificada ao longo do ano passado e a resiliência da inflação.

Trump deve anunciar tarifas recíprocas hoje

O presidente dos EUA, Donald Trump, deve anunciar hoje as prometidas “tarifas recíprocas”, no que ele está chamando de “Dia da Libertação”. O anúncio deve ser feito a partir das 17h do horário de Brasília, mas ainda há muita incerteza sobre o que será anunciado de fato. As possibilidades variam de uma taxação universal a tarifas mais restritas a setores ou países.

Seja como for, o Brasil deve ser afetado, já que é um dos citados na chamada “Dirty Fifteen”, uma lista de 15 países que impõem barreiras comerciais injustas aos produtos americanos na visão dos EUA. O etanol, por exemplo, é um produto frequentemente citado nesse sentido, uma vez que os EUA aplicam uma tarifa de 2,5% sobre o produto brasileiro enquanto o Brasil aplica 18% de taxa sobre o etanol americano.

Há dúvidas também quanto ao timing da implementação das tarifas. Na terça-feira, 1º, a porta-voz da Casa Branca, Karolina Leavitt, afirmou que o efeito deve ser imediato, mas não confirmou como isso seria feito. Uma das possibilidades seria por meio da IEEPA (sigla em inglês para Lei de Poderes de Emergência Econômica Internacional), uma espécie de ordem executiva que permitiria que Trump implementasse as tarifas sem passar por outras aprovações, ou a Seção 338 da Lei de Comércio de 1930, nunca utilizada antes para a imposição de tarifas. Ambos os caminhos, porém, podem levantar questionamentos jurídicos.

Outra incerteza no horizonte é sobre como as novas tarifas se somarão àquelas já anunciadas por Trump desde o início do mandato, como a taxa de 25% sobre qualquer país que compre petróleo ou gás da Venezuela e os 25% sobre carros e autopeças importados pelos EUA.

Como forma de tentar se preparar para uma possível resposta às medidas americanas, o Senado Federal aprovou ontem por unanimidade o Projeto de Lei 2088/23, que vem sendo chamado de “PL da Reciprocidade”. O projeto estabelece critérios para que o Brasil responda a “medidas unilaterais” adotadas por países ou blocos econômicos que afetem a competitividade internacional dos produtos brasileiros. O projeto agora segue para a Câmara dos Deputados e existe a expectativa, inclusive, de que o texto seja aprovado ainda hoje.

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