5 temas que estarão no Radar do Mercado na reta final de 2025

No Radar do Mercado: cortes de juros, tarifas comerciais, crescimento chinês e situação fiscal no Brasil estão entre os principais temas para se acompanhar no último trimestre deste ano

Por Itaú Private Bank

5 minutos de leitura

O último trimestre do ano começou e, com ele, crescem as expectativas pela divulgação de alguns indicadores econômicos e de decisões políticas que podem impactar a economia e os investimentos nesta reta final de 2025.

Confira abaixo 5 temas que estarão no Radar do Mercado nos próximos meses:

1. Cortes de juros nos EUA

O Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) cortou a taxa de juros americana em 0,25 ponto percentual, para o intervalo entre 4,00% e 4,25% ao ano, na última reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), realizada em setembro. A principal novidade, no entanto, acabou sendo a divulgação das projeções dos membros do Comitê, que indicaram mais dois cortes de juros ainda este ano, além de um em 2026.

Com o mercado de trabalho dando sinais de fraqueza, os investidores apostam na entrega dos dois cortes deste ano, mesmo em meio a uma inflação ainda resiliente. Com o shutdown do governo nos EUA, a divulgação de diversos dados econômicos foi adiada, aumentando o nível de incerteza, uma vez que, tanto o mercado, quanto o banco central, terão de se escorar um pouco mais em dados secundários da economia americana.

Na nossa visão, a fraqueza do mercado de trabalho deve levar o Fed a fazer cortes neste ano, mas caso a inflação volte a acelerar, é possível que o Comitê assuma uma postura mais cautelosa na reunião de dezembro. Já para o ano que vem, acreditamos que há menos espaço para queda de juros do que o projetado pelo mercado atualmente.

Próximas divulgações importantes:

  • Payroll: sem data*;
  • Fomc: 29 de outubro;
  • PCE: 31 de outubro*;

*possíveis adiamentos por conta da paralização de serviços não essenciais do governo dos EUA.

2. Tarifas comerciais

Desde o começo do ano, o presidente dos EUA, Donald Trump, vem anunciando a imposição de tarifas comerciais (às vezes amplas, às vezes setoriais), que chegaram a elevar a tarifa média sobre as importações americanas para perto de 30%. Após negociações e decisões judiciais, a alíquota média recuou para cerca de 18%, o que ainda representa uma forte alta em curto espaço de tempo. Há ainda um risco altista de curto prazo, caso as tarifas de 100% sobre produtos chineses entre em vigor em novembro, levando a alíquota média para perto de 24%.

O impacto econômico e inflacionário esperado, porém, não foi tão rápido e integral quanto o observado em 2018, quando Trump impôs tarifas comerciais pela primeira vez. Nossa análise sugere que existem fatores que podem estar apenas adiando esse impacto.

Observamos que, desta vez, os custos estão sendo divididos entre exportadores estrangeiros (que reduziram preços para continuarem competitivos no mercado americano), empresas americanas (que absorveram parte das tarifas reduzindo suas margens) e os próprios consumidores. Diante disso, é esperado que as tarifas continuem pressionando a inflação nos EUA ao longo dos próximos meses.

O próprio presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou em entrevista coletiva após a última reunião do Fomc, que as tarifas ainda levarão os preços a subirem neste e nos próximos anos e que será preciso compreender se elas representarão um risco de inflação persistente, o que poderia levar o Fed a repensar o ciclo de corte de juros. Além disso, a Casa Branca poderá anunciar novos acordos comerciais que reduzam a pressão inflacionária, inclusive com o Brasil, com alguns produtos sendo taxados em 50% atualmente.

3. Crescimento chinês

A China estabeleceu, novamente, uma meta de crescimento ao redor de 5% neste ano. A primeira metade do ano mostrou solidez no crescimento chinês, com uma antecipação das exportações e produção diante das incertezas tarifárias. Entretanto, os dados de atividade referentes ao terceiro trimestre mostram alguma desaceleração e sugerem que talvez o governo chinês tenha que anunciar medidas de estímulo adicionais para alcançar a meta.

O setor manufatureiro e as exportações continuam sustentando o crescimento chinês, mas a demanda doméstica permanece fraca em meio a uma baixa confiança do consumidor e à fraqueza do mercado imobiliário. Diante disso, o governo tem dado sinais de preocupação e começado a adotar medidas para reduzir a capacidade produtiva e sustentar a demanda interna.

Será necessário conferir a divulgação de novos dados de atividade na China e acompanhar de perto as mensagens transmitidas pelos porta-vozes do governo chinês para avaliar uma possível nova rodada de estímulo e as diretrizes para o crescimento dos próximos anos.

Próximas divulgações importantes:

  • PIB: 19 de outubro;

  • Reunião do Politburo: entre 20 e 23 de outubro;

4. Atividade na Europa e Banco Central Europeu

Após uma sequência de reduções de juros iniciados em junho de 2024, o Banco Central Europeu (BCE) sinalizou que pode já ter encerrado seu ciclo de cortes, indicando estar confortável com o patamar de juros atual. Ainda assim, os riscos para a atividade econômica e inflação permanecem baixistas no curto prazo, sugerindo algum espaço para um corte residual.

A inflação segue virtualmente na meta de 2% do Banco Central Europeu, tornando os dados de atividade mais relevantes para a condução de política monetária. Os efeitos da elevada incerteza – tanto externa quanto doméstica - e impacto das tarifas na economia já aparecem nos dados, mas devem continuar sendo sentidos adiante. A magnitude deste impacto, contudo, permanece incerta em um contexto em que os dados de atividade vêm surpreendendo negativamente.

Acreditamos que a autoridade tenha parado de cortar os juros, mas reconhecemos que os riscos para a atividade aumentaram na margem. Em uma eventual continuidade de surpresas negativas, o BCE poderia retomar o seu ciclo de cortes de juros.

Próximas divulgações importantes:

  • PIB do 3º trimestre da Zona do Euro – 30 de outubro.

  • CPI: 31 de outubro

5. Política monetária no Brasil

Em sua última reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a taxa Selic inalterada em 15,00% ao ano e repetiu a mensagem dura de que a política monetária vai ficar em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado. Ainda que, de modo geral, os analistas esperem queda de juros apenas no primeiro trimestre de 2026 segundo o Relatório Focus, o mercado vai seguir acompanhando de perto os dados econômicos e qualquer mudança em sua direção.

Temos visto desaceleração gradual da atividade econômica diante de menor impulso fiscal e política monetária contracionista, enquanto o mercado de trabalho continua sólido, mas mostrando sinais incipientes de desaceleração.

Já o processo de desinflação tem sido gradual. Por um lado, vemos uma reversão da inflação de alimentos, enquanto os preços de bens industriais mostram algum arrefecimento gradual. Por outro lado, a inflação de serviços continua pressionada em meio a um mercado de trabalho apertado, mas dá sinais de desaceleração. As expectativas de inflação, por sua vez, seguem desancoradas, mas melhorando na margem.

Já na frente fiscal, o governo pode cumprir as metas de 2025, mas a sustentabilidade da dívida pública continuará em foco. Para 2026, o governo ainda depende de receitas extraordinárias para entregar a meta de superávit de 0,25% do PIB.

Próximas divulgações importantes:

  • Copom – 5 de novembro.

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