Brasil pode se beneficiar de redirecionamento das exportações chinesas
No Radar do Mercado: estudo feito pelo Itaú BBA mostra que, mesmo com acordo entre China e EUA, inflação brasileira pode se beneficiar da maior entrada de produtos chineses. Na agenda de dados, vendas do varejo no Brasil em março e nos EUA em abril decepcionam
Por Itaú Private Bank
A guerra tarifária, ainda que limitada pelas atuais negociações bilaterais, deve diminuir os fluxos comerciais entre China e EUA, não só pelas tarifas efetivamente praticadas como também pela incerteza à frente. Esse movimento abre espaço para que o Brasil absorva parte do excedente da oferta chinesa direcionado anteriormente ao mercado americano.
O aumento da participação da China nas importações brasileiras, aliado à tendência de recuo dos preços desses produtos no pós-pandemia, tende a exercer pressão desinflacionária no Brasil. Segundo o relatório produzido pela equipe de macroeconomia do Itaú BBA, um aumento de 10 pontos percentuais da participação chinesa nas importações brasileiras, mesmo sem novas quedas de preços, poderia reduzir o IPCA em até 0,2 ponto percentual, tudo o mais constante.
Esse redirecionamento é factível – ainda que possa demorar um tempo – considerando a forte sobreposição entre as pautas de importação do Brasil e dos EUA. Nas estimativas do Itaú BBA, os dez principais produtos importados pelo Brasil da China, que concentram 80% do total, representam aproximadamente 65% das importações dos EUA provenientes do mesmo país.
No Brasil, varejo cresce menos do que o esperado em março
As vendas do varejo ampliado, que inclui veículos, motos, partes, peças e material de construção, avançaram 1,9% no comparativo com fevereiro, segundo dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) divulgada nesta quinta-feira, 15, pelo IBGE. O resultado veio abaixo da nossa projeção (3,5%) e da mediana das expectativas de mercado (2,1%). Na comparação anual, o varejo ampliado recuou 1,2%.
Já as vendas do varejo restrito avançaram 0,8% no comparativo mensal com ajuste sazonal, também abaixo da nossa projeção (1,6%) e um pouco abaixo da mediana das expectativas de mercado (1,0%). Na comparação anual, houve queda 1,0%. Com o resultado de março, o varejo restrito expandiu 0,9% no primeiro trimestre do ano, enquanto o varejo ampliado subiu 1,8%.
Das dez atividades pesquisadas em março, oito avançaram e duas contraíram na margem. O destaque positivo no mês foi do segmento de “Veículos e autopeças”, que cresceu 1,7% no mês, enquanto o destaque negativo foi de “Combustíveis, lubrificantes”, que encolheu 2,1% no mesmo comparativo.
Nossa visão: as vendas no varejo restrito vieram abaixo do esperado em março, com uma queda maior do que a prevista em “supermercados”, além de um resultado mais negativo em outros segmentos. A expectativa era que a liberação dos recursos do FGTS desse um impulso ainda maior no setor no final do primeiro trimestre, o que não se concretizou. Ainda assim, o resultado de março consolida um primeiro trimestre positivo para o varejo, com sinais de resiliência. Mesmo em um ambiente de crédito mais restrito com juros elevados, a atividade segue sustentada por uma demanda interna relativamente robusta.
Nos EUA, vendas do varejo desaceleram em abril
As vendas no varejo dos EUA subiram 0,1% em abril, desacelerando na comparação com a forte leitura de março (1,7%), segundo dados divulgados hoje pelo Departamento de Comércio dos EUA. O resultado veio levemente acima das expectativas, que esperava estabilidade no mês (0,0%).
Ao excluir automóveis, as vendas no setor registraram crescimento de apenas 0,1%, abaixo da expectativa do mercado (+0,3%). Já o grupo de controle, que exclui automóveis, gasolina, materiais de construção e serviços de alimentação e tem maior relação com o componente do PIB americano, recuou 0,2% em abril, após alta revisada de 0,5% no mês anterior, bem abaixo das projeções do mercado (+0,3%).
Nossa visão: a desaceleração registrada em abril parece refletir o esgotamento do impulso visto no mês passado, quando pode-se identificar um movimento de aceleração das compras por consumidores, especialmente em setores como veículos e bens duráveis, em antecipação ao impacto das tarifas anunciadas pela administração americana.
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