Europa corta juros, Trump implementa tarifas e Pesquisa Focus fica estável

No Radar do Mercado: BCE mantém corte projetado, mas ressalta incertezas no horizonte em meio à implementação de tarifas comerciais e anúncios de intenção de mais gastos públicos. No Brasil, projeções do Focus ficaram praticamente estáveis

Por Itaú Private Bank

6 minutos de leitura

BCE corta juros em 0,25 ponto percentual

O Banco Central Europeu (BCE) reduziu as principais taxas de juros da Zona do Euro em 0,25 ponto percentual nesta quinta-feira, 6, em linha com o esperado pelo mercado. Com isso, a taxa de depósito passou a ser de 2,50%, a de refinanciamento passou a ser de 2,65% e a de empréstimos, 2,90%.

A autoridade monetária afirmou que o processo desinflacionário está no caminho certo e que a inflação deve alcançar a meta de 2% ao ano em um prazo médio. Além disso, afirmou que a política monetária está se tornando significativamente menos restritiva, o que já se reflete no aumento de empréstimos imobiliários e para empresas, mas não se comprometeu com nenhum ritmo de cortes à frente, afirmando que os próximos passos dependerão de dados, especialmente no atual cenário de aumento das incertezas.

O BCE também divulgou previsões atualizadas para a inflação de 2025 (2,3%), 2026 (1,9%) e 2027 (2,0%). A revisão para cima da projeção para 2025 foi atribuída aos preços de energia mais elevados. Excluindo itens como energia e alimentos, porém, a projeção do BCE é de inflação de 2,2% em 2025, 2,0% em 2026 e 1,9% em 2027. Em paralelo, reconhecendo os desafios enfrentados pela economia europeia, o Comitê reduziu as projeções para o PIB de 2025 (0,9%), 2026 (1,2%) e 2027 (1,3%), refletindo uma queda nas projeções para exportações e maior fraqueza nos investimentos neste e no próximo ano.

Em sua coletiva de imprensa após a decisão, Christine Lagarde, presidente do BCE, reforçou o cenário de incertezas apresentado no momento, com o risco de tarifas comerciais e anúncios de mais despesas do governo – tanto da Comissão Europeia, quanto na Alemanha. Com isso, afirmou que o Comitê está preparado para agir rápido e manteve a postura dependente dos dados para tomar qualquer decisão de juros à frente.

Alemanha quer mais investimentos públicos

A atual coalizão que governa a Alemanha, composta pela União Democrata Cristã (CDU) e pelo Partido Social Democrata (SPD), anunciou a intenção de implementar um grande pacote fiscal. O plano inclui um fundo especial de investimentos de 500 bilhões de euros nos próximos dez anos, a remoção dos gastos com defesa que excederem 1% do PIB do freio da dívida e a permissão para maior endividamento dos estados. A ideia é que as medidas sejam votadas antes da posse do novo parlamento, no qual a coalizão governista somada ao Partido Verde já não terá mais os 2/3 dos votos necessários para a aprovação do pacote.

Essa mudança na postura fiscal alemã pode promover um impulso de cerca de 1,5% do PIB por ano, com 1% vindo dos investimentos públicos, que tendem a ter um multiplicador maior para a atividade. Os gastos militares, por sua vez, provavelmente terão um multiplicador menor no curto prazo, já que a maioria dos equipamentos provavelmente seriam importados. No geral, o crescimento da Alemanha poderia aumentar para pelo menos 1%, saindo das taxas negativas das últimas leituras.

Além disso, a CDU e o SPD, partidos que também devem compor a próxima coalizão governista, estão planejando ainda uma outra revisão do freio da dívida, a ser avaliada pelo novo parlamento. A intenção das siglas é seguir a recomendação do Bundesbank (o banco central alemão) e permitir um subsídio de investimentos permanentes de 0,9% do PIB para o governo federal (incluindo subsídios aos estados).

Em paralelo, hoje acontecem discussões em Bruxelas para discutir um potencial pacote de defesa de 800 bilhões de euros para União Europeia, refletindo o aumento da preocupação dos países europeus com a recente interrupção da assistência militar americana à Ucrânia.

Trump implementa tarifas contra China, México e Canadá

Os EUA implementaram tarifas adicionais de 10% sobre a China (20 p.p. no total) e 25% sobre o México e o Canadá (apenas 10% sobre energia proveniente do Canadá) válidas desde a última terça-feira, 4. A única grande exceção da medida ficou por conta do setor automobilístico, no qual as tarifas sobre México e Canadá foram adiadas por mais um mês, quando medidas recíprocas contra mais países também deverão entrar em vigor.

Em resposta, Canadá e China anunciaram retaliações, impondo taxas sobre produtos americanos e, no caso chinês, incluindo empresas dos EUA na lista de controles de exportação. Já no caso do México, a presidente Claudia Sheinbaum disse que irá anunciar medidas no próximo domingo, 9, após conversa prevista com o presidente dos EUA, Donald Trump.

Focus: revisões no IPCA, câmbio e PIB

Tabela com resumo dos principais indicadores pesquisados pelo Relatório Focus

Em uma semana mais curta por conta do feriado de Carnaval, o Banco Central divulgou na quarta-feira, 5, uma nova edição do Relatório Focus, com apenas uma mudança, na projeção para a taxa de câmbio de 2027.

A mediana das expectativas do IPCA foi mantida em 5,65% para 2025, 4,40% para 2026 e 4,00% para 2027. Com isso, a projeção para este ano continua acima do teto do intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual ao redor da meta de 3,00% ao ano definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Vale destacar que a mediana das expectativas de inflação para 12 meses à frente (um indicador bastante importante para o Copom) recuou 0,15 p.p., para 5,49%.

As projeções para o PIB também seguiram estáveis em 2,01% para 2025, 1,70% para 2026 e 2,00% para 2027. Já a taxa terminal da Selic seguiu projetada em 15,00%, 12,50% e 10,50%, respectivamente.

Em relação ao câmbio, a expectativa para o final de 2025 seguiu sendo de R$/US$ 5,99 e de R$/US$ 6,00 para 2026, mas a projeção para 2027 recuou de R$/US$ 5,92 na semana passada para R$/US$ 5,90 nesta.

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