Quando o jogo para: o que a lesão de Holger Rune ensina sobre risco nos investimentos

TenisVesting: no tênis e nos investimentos, o segredo é resistir, não arriscar tudo

Por Andrea Masagão Moufarrege, Team Leader - Investment Funds Specialists

6 minutos de leitura

No ATP de Estocolmo em outubro de 2025, Holger Rune viveu um daqueles momentos que nenhum atleta deseja. Durante a semifinal, o jovem dinamarquês rompeu o tendão de Aquiles, uma das lesões mais sérias do esporte. O diagnóstico é duro, cirurgia imediata, e um retorno que pode levar entre nove e doze meses. O tipo de golpe que, no tênis, tira o jogador do jogo por uma temporada inteira.

Rune é reconhecido pelo seu profissionalismo. Treina intensamente, cuida do corpo e vive o esporte com dedicação total. Ainda assim, no alto rendimento, o risco nunca desaparece. É possível prevenir, fortalecer e reduzir as chances de lesões, mas não eliminá-las. Elas fazem parte do jogo.

Preparo e Risco Inevitável

Nos investimentos, acontece exatamente o mesmo. Mesmo com estudo, acompanhamento e uma estratégia sólida, contratempos fazem parte da jornada. O ponto central não é eliminar o risco a qualquer custo, mas estruturar-se de forma que ele nunca te tire do jogo. O dimensionamento adequado das posições de risco é uma estratégia chave para manter-se investido em ativos de risco por tempo suficiente para colher os retornos. O desafio é lidar com o fato matemático que se uma posição perde 50%, para voltar ao patamar anterior precisa se valorizar 100%.

Em 1965 John L. Kelly Jr. desenvolveu um critério matemático que ajuda nesse processo de dimensionamento de tamanho de posições para encontrar o percentual adequado de alocação em risco e otimizar os resultados da carteira ao longo do tempo, evitando situações de perdas excessivas que podem tirar o investidor do jogo.

A lógica é assim: se você se expõe a risco excessivo no início de um período de investimento, pode perder tudo rapidamente e sair do jogo. Se aposta de menos, não aproveita o potencial de crescimento. A fórmula de Kelly encontra o ponto ótimo entre risco e retorno, mas precisa de atribuições de probabilidades precisas e o retorno esperado para cada evento.

A fórmula de Kelly

A versão mais simples da fórmula é:

A fórmula de Kelly
A fórmula de Kelly

Onde:

  • f é a fração do capital a ser investida.
  • b é o retorno líquido da aposta (por exemplo, se você ganha 2 para 1, então b=2)
  • p é a probabilidade de ganhar.
  • q=1−p é a probabilidade de perder.

Por exemplo, em um cenário em que as probabilidades de ganho ou perda são de 50% e o retorno de uma das alternativas é 2 para 1, os resultados seriam maximizados, chegando a 10x se o percentual alocado em risco ficar em torno de 25% e o investimento for repetido ao longo de vários anos com as mesmas condições.

Ao limitar o tamanho da alocação, o método protege contra perdas excessivas que podem tirar o investidor do jogo. É especialmente útil em cenários com assimetria positiva de retornos, que podem induzir o investidor a alocar uma parcela maior do capital.
Gráfico representativo do Critério de Kelly alicado em cenário de 50% de probabilidade com 2x1 de retorno em um dos eventos
Gráfico representativo do Critério de Kelly alicado em cenário de 50% de probabilidade com 2x1 de retorno em um dos eventos

O Critério de Kelly mostra que todo investimento ou aposta tem um tamanho ideal. Crescimento sustentável exige moderação. Colocar demais em uma única ideia, seja um torneio, uma empresa, uma classe de ativo ou uma tese. Pode até parecer tentador, mas aumenta o risco de perdas difíceis de recuperar ou até irreversíveis.

Os investidores e os atletas realmente preparados têm algo em comum. Sabem que o jogo é longo. O objetivo não é ganhar todos os pontos, mas evitar o ponto que te tira da partida. Na prática, isso significa dimensionar risco, calcular probabilidades e respeitar limites. Não apenas numéricos, mas também psicológicos.

Psicologia, Disciplina e Diversificação

Uma lesão ou um drawdown não é apenas um revés físico ou financeiro. É um teste de resiliência. Atletas de elite desenvolvem não só músculos, mas disciplina mental. Investidores consistentes aprendem a controlar emoções, a resistir à tentação de decisões impulsivas e a reconhecer que perdas parciais são inevitáveis no longo prazo.

Diversificação e gerenciamento de risco funcionam como o treino complementar de um atleta. Fortalecem e reduzem vulnerabilidades a eventos isolados. No tênis, prevenção significa entender os sinais do corpo, equilibrar carga e descanso e planejar o calendário de forma inteligente. Nos investimentos, traduz-se em gestão disciplinada de risco, diversificação entre ativos, estratégias e horizontes temporais.

Diversificar não é “espalhar demais”, é fortalecer a estrutura, exatamente como um atleta desenvolve músculos de suporte para proteção. No fim, o portfólio que sobrevive às tempestades é aquele que foi desenhado para permanecer no jogo, mesmo diante de mudanças de cenário.

Voltar ao jogo

Rune agora enfrenta meses de fisioterapia e reconstrução. Para muitos, uma pausa assim poderia significar o fim da linha. Para ele, é mais um capítulo na busca pela alta performance.

O investidor que adota essa mentalidade, respeitando o risco, evitando excessos e mantendo o foco no longo prazo, assegura que permanecerá na quadra. Capaz de transformar oportunidades em resultados concretos, colhendo os benefícios de uma disciplina aplicada com consistência e paciência.

Porque, no tênis e nos investimentos, o sucesso não vem de quem nunca erra, mas de quem permanece no jogo.

“The first rule of compounding is to never interrupt it unnecessarily.” Charlie Munger

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