Do topspin ao precatório
TenisVesting: gestores mostram porque dominar o maior número de ferramentas disponíveis está diretamente relacionado à performance obtida
Por Andrea Masagão Moufarrege, Team Leader - Investment Funds Specialists

Na semana passada, ocorreu a primeira edição do Private Markets Brazil Summit, evento que idealizei e implementei com a ajuda de muitos parceiros. Foram oito painéis de discussão com gestores de destaque em mercado privado no Brasil e no exterior.
Na parte da manhã, exploramos as oportunidades em:
- Private Equity no Brasil com Daniel Borghi, da Crescera Capital, e Gabriel Felzenszwalb, da Vinci Partners;
- Venture Capital, com Erich Acher, da Monashees, e Edson Rigonatti, da Astella;
- Infraestrutura, com André Figueira, da Kinea, e Ralph Gustavo Rosemberg, da Perfin; e
- Crédito Estruturado, com Sérgio Goldstein, da Itaú Asset, e Benjamin Citron, da Vinci Partners.
No início da moderação do painel sobre Venture Capital, Arthur Carasso, nosso superintendente de investimentos aqui no Itaú Private Bank, fez uma analogia muito legal com futebol para ajudar a explicar a classe. Para ele, o Venture Capital é como um olheiro que identifica o futuro Messi observando e investindo em jogadores de futebol aos 10 anos de idade, enquanto o Private Equity faz o mesmo com jogadores aos 20 anos.
Inspirada por essa analogia, fiz esse texto com analogias aos diversos tipos de efeito na bola buscando esclarecer e resumir a classe de Crédito Estruturado, discutida no painel que moderei no evento.
No tênis, quem domina os diferentes efeitos da bola – topspin, slice, chapado, kick – abre um leque de estratégias: empurrar o adversário para trás, quebrar o ritmo, surpreender com uma bola alta ou acelerar em linha reta. No mercado financeiro, especialmente nos fundos de crédito estruturado (capital solutions), gestores fazem algo parecido: desenham estruturas jurídicas e financeiras que dão novas trajetórias ao risco, ampliam a proteção ao investidor e criam janelas de retorno diferenciadas.
🎾 Os efeitos da bola
- Topspin: pesado, alto, consistente. Mantém o jogo seguro, como Nadal.
- Slice: baixo e cortado, quebra o ritmo, como Federer em momentos decisivos.
- Kick: saque com efeito ascendente, imprevisível, que surpreende, como Djokovic.
- Chapado: reto e veloz, alto risco e alto impacto, como Del Potro.
Cada efeito é uma ferramenta a ser usada conforme o momento da partida – segurança, variação, surpresa ou ousadia.
📈 As estruturas no crédito
Nos fundos de crédito estruturado, acontece o mesmo. As estruturas moldam a trajetória do risco e do retorno:
FIDCs com cotas sênior e subordinadas: assim como o topspin, criam resiliência e consistência. As cotas subordinadas absorvem os primeiros impactos de inadimplência, protegendo os investidores sênior. Resultado: estabilidade, mesmo em cenários turbulentos.
Securitizações com garantias reais (recebíveis, imóveis, estoques): funcionam como o slice. Amarram juridicamente os fluxos de caixa e reduzem a volatilidade, trazendo previsibilidade. Podem não ser espetaculares, mas mudam o ritmo do jogo e tiram o risco de mão do adversário.
Kickers atrelados à performance da empresa: lembram o saque com kick. Há um componente variável que pode surpreender para cima se a empresa performar bem. Para o investidor, significa potencial de upside em cenários positivos, mantendo a base defensiva.
Precatórios e legal claims: equivalem à bola chapada. Podem gerar ganhos expressivos em curto espaço de tempo, mas exigem precisão e leitura do cenário jurídico. Uma jogada direta: ou ponto, ou erro não forçado.
Estruturas híbridas (dívida + capital): são como variar efeitos dentro do mesmo ponto. O gestor equilibra risco e retorno, ajustando o golpe à dinâmica da partida – seja no ataque, seja na defesa.
🎾 📈 Os “jogadores” desse mercado
No painel, os estilos ficaram claros:
Sérgio Goldstein, da Itaú Asset, destacou que um crédito high yield bem estruturado e juridicamente amarrado muitas vezes é mais conservador do que um crédito clean concedido a uma empresa considerada high grade. Em outras palavras, não basta a “nota de rating” – o efeito aplicado na bola (estrutura jurídica) pode tornar a jogada mais segura do que aparenta.
Benjamin Citron da Vinci Partners, ressaltou que a diversificação entre diferentes tipos de crédito estruturado, apoiada por um time com profundo conhecimento do judiciário brasileiro, abre melhores escolhas e oportunidades cruzadas entre ativos. É como dominar vários efeitos. Quanto mais recursos técnicos, maior a capacidade de variar e surpreender.
🎾 & 📈Conclusão
Assim como no tênis, o segredo está em escolher o efeito certo para o momento certo. O topspin garante consistência, o slice quebra o ritmo, o kick surpreende e o chapado pode encerrar o ponto. No crédito estruturado, as cotas subordinadas protegem, as garantias reduzem risco, os kickers oferecem upside e os precatórios podem acelerar ganhos.
E tanto em quadra quanto nos fundos, o que diferencia os grandes jogadores – como Nadal, Federer e Djokovic – ou gestores – como Sérgio e Benjamin – é a capacidade de variar efeitos e estruturar cada jogada com precisão, transformando risco em oportunidade. Vamos pro jogo?
Play!
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