Atualizações sobre a economia mundial no FMI e IPCA-15 de abril
No Radar do Mercado: nossa economista-chefe, Gina Baccelli, traz suas percepções sobre as discussões nas reuniões do FMI. No Brasil, IPCA-15 de abril desacelerou menos do que o esperado
Por Itaú Private Bank
Nossa economista-chefe, Gina Baccelli, participou do encontro do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Washington, EUA, e trouxe percepções atualizadas sobre o cenário macroeconômico discutido por lá.
Impacto das políticas tarifárias
Existem duas visões majoritárias sobre a economia americana entre os agentes econômicos.
A primeira é de que o excepcionalismo americano acabou com a esperada queda do crescimento potencial, dada a menor imigração, menor atração de talentos, aumento do custo de capital – com piora dos prêmios de risco –, quebra na confiança no "Rule of Law" e isolacionismo dos parceiros. Ao mesmo tempo, a mudança na política fiscal na Europa e o fim da deflação no Japão melhoram as expectativas de crescimento no resto do mundo. Dessa forma, os EUA voltam a ser mais uma opção de investimento, não a principal.
A segunda – mais otimista –, é de que o curto prazo será complicado, mas o presidente dos EUA, Donald Trump, será contido pelos mercados e por membros da sua equipe com um perfil pró-mercados e provavelmente perderá o controle do Congresso nas eleições do ano que vem. Dessa forma, não existiriam impactos de longo prazo e os EUA continuariam atraindo as empresas com maior capacidade de inovar e os melhores talentos. Esses agentes também acreditam que o breakthrough tecnológico iminente, com IA, robotização, veículos elétricos, energia etc., tem potencial de mais do que compensar a perda de PIB potencial. Assim, os EUA continuariam sendo o principal lugar para investir no longo prazo.
Fiscal EUA
Apesar dos números e projeções sobre a questão fiscal serem bem preocupantes, há poucas discussões sobre o assunto. Membros do governo continuam afirmando que Trump cumprirá a promessa de campanha de cortar impostos, mas não existe espaço fiscal para isso. A solução seria compensar os cortes com a receita obtida com as tarifas, mas isso parece não ser suficiente. Ainda que fosse, as projeções indicam necessidade urgente de ajuste fiscal. E, caso haja recessão, os números podem piorar muito e o déficit fiscal pode chegar a dois dígitos.
Dólar
O status do dólar como moeda reserva de valor continua, mas existem riscos para a continuidade como moeda mais utilizada nas transações globais. Mesmo que seja uma mudança bem gradual, as políticas atuais aceleram o processo. O isolacionismo americano pode levar a um mundo de multimoedas que seriam usadas nos pagamentos e reserva de valor no resto do mundo. A queda do comércio de bens e serviços dos EUA com os outros países leva a uma menor necessidade de uso do dólar.
A ascensão da Europa também pode transformar os títulos em euro em uma opção ao mercado de Treasury na medida em que haja grande emissão de papéis para financiar gastos fiscais. Já o renminbi pode passar a ser usado numa zona de comércio intrarregional na Ásia.
Europa
Há um otimismo com as possibilidades de a Europa finalmente vencer a estagnação com o pacote fiscal e as perspectivas de algumas reformas estruturais como unificação de mercado financeiro e de capitais. Os mais céticos acham que é um voo de galinha, mesmo porque o gasto com defesa vai ser feito primeiro nos EUA, até a indústria local ser criada/recriada e reformas estruturais no sistema financeiro não vão ocorrer.
Uma curiosidade é que, dada a realocação de recursos de volta para a Europa, o financiamento do gasto fiscal pode ser mais fácil do que o imaginado. Todo o aumento de juros inicial pós-anúncio do pacote fiscal foi revertido com o aumento do fluxo de capitais para a região.
China
Os agentes de mercado enxergam que a China está se preparando para o acirramento das relações com EUA já faz tempo e atualmente pode esperar condições melhores para negociar. Se a economia enfraquecer mais, os chineses têm espaço para promover um estímulo e esperar o melhor momento. Até porque o governo chinês acredita que os EUA enxergam a China como um risco de segurança nacional e, portanto, querem conter a ascensão chinesa por meio da ameaça das tarifas. Dessa forma, um acordo entre os dois países deve ser mais limitado e o distanciamento vai continuar ou aumentar.
Por outro lado, analistas destacam que essa pressão americana pode finalmente forçar o governo chinês a fazer as mudanças de se voltar mais para dentro e estimular mais a demanda doméstica. O risco é que essa tensão econômica vire uma crise militar.
Bancos centrais
Por fim, o aumento das tarifas e as retaliações colocam um desafio para os bancos centrais ao redor do mundo. No caso do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), o mandato duplo traz a preocupação com a atividade econômica e a autoridade monetária tem sido muito sensível ao desemprego nos últimos anos.
Existem dois tipos de erros possíveis: (i) o Fed reduzir juros para fazer frente ao risco recessivo, o que, num cenário de inflação possivelmente elevada, pode desancorar as expectativas de inflação; (ii) se esperar para ver os impactos na inflação, pode ver a atividade cair de forma expressiva e responder atrasado ao risco de recessão. O mercado acredita que o Fed vai preferir se antecipar ao risco recessivo, mas o risco de imagem de ver a inflação subir não é trivial.
No resto do mundo, o choque é possivelmente deflacionário e a reação dos bancos centrais deve ser mais convencional.
IPCA-15 desacelera menos do que o esperado em abril
O IBGE divulgou hoje, 25, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de abril. O índice desacelerou de 0,64% em março para 0,43%, mas ainda veio ligeiramente acima das nossas expectativas (0,40%) e da mediana do mercado (0,42%). No acumulado em 12 meses, o IPCA-15 avançou de 5,30% em março para 5,49%.
Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, apenas Transportes (-0,44%) apresentou variação negativa. O grupo de Alimentação e bebidas foi o que mais avançou (1,14%) e contribuiu (0,25 p.p.) para a alta do índice cheio, influenciado pelas altas do tomate (32,67%), do café moído (6,73%) e do leite longa vida (2,44%). A segunda maior alta veio no setor de Saúde e cuidados pessoais (0,96% e 0,13 p.p.). Somados, esses dois setores responderam por 88% do índice do mês.
Em relação aos núcleos, na média móvel de três meses, com dados dessazonalizados e anualizados, serviços subjacentes desaceleraram para 7,6% (de 8,2%), enquanto o núcleo de industriais subjacentes acelerou para 5,5% (de 3,7%). Além disso, o índice de difusão apresentou um aumento de 61% para 68%, indicando uma inflação persistente e disseminada.
Nossa visão: o dado de abril indica que a inflação segue com um qualitativo ruim, ainda que sem piora na margem. O destaque ficou por conta da surpresa altista em industriais subjacentes, enquanto serviços mostraram algum alívio na margem, em linha com nossa expectativa.
💬 O que achou deste conteúdo?
Leia também
Confira outras edições do No Radar do Mercado:
FMI projeta crescimento global menor em 2025 e 2026
No Radar do Mercado: Fundo Monetário Internacional divulgou relatório em que destaca [...]
BCE reduz juros da Zona do Euro pela sétima vez no atual ciclo
No Radar do Mercado: Banco Central Europeu ressalta maior preocupação com atividade e [...]
Revisamos nossos cenários macroeconômicos tanto local quanto global
No Radar do Mercado: diante do impacto das tarifas comerciais no mundo todo, atualiza [...]