Revisamos nossos cenários macroeconômicos tanto local quanto global
No Radar do Mercado: diante do impacto das tarifas comerciais no mundo todo, atualizamos nossas projeções dos principais indicadores macroeconômicos em âmbito local e global. Veja também o PIB do primeiro trimestre da China e os resultados de março da indústria e do comércio dos EUA
Por Itaú Private Bank
Revisão de Cenário - Brasil
O Brasil deve ser impactado direta e indiretamente pela elevada incerteza gerada pelas tarifas comerciais. Primeiro, via comércio, o impacto tende a ser limitado, dado o reduzido grau de abertura comercial da economia brasileira. De forma indireta, o país pode ser impactado via desaceleração global, de forma mais relevante, com queda nos preços das commodities e dos fluxos financeiros. Diante disso, adotamos uma postura cautelosa nas projeções.
Mantivemos nossa projeção de R$ 5,75 por dólar em 2025 e 2026 e de crescimento do PIB de 2,2% em 2025, mas com viés de baixa, e mantivemos a projeção de 1,5% para 2026 com riscos equilibrados. Com relação à inflação, reduzimos nossa projeção de 5,7% para 5,5% neste ano, com riscos assimétricos para baixo, incorporando a expectativa de corte nos preços da gasolina e a queda nos preços das commodities metálicas. Dessa forma, também reduzimos nossa projeção do IPCA para 2026, de 4,5% para 4,4%, considerando uma inércia inflacionária mais baixa.
Por ora, decidimos manter nossa projeção de fim do atual ciclo de aperto monetário com Selic em 15,25% ao ano, patamar que deve ser mantido até o final do ano. Esperamos duas altas de 0,5 ponto percentual nas duas próximas reuniões, mas temos menor convicção sobre a segunda, dado que a implementação dependerá da evolução do cenário internacional.
O desafio fiscal, no entanto, segue significativo. Diante da expectativa de receitas menores por inflação e preços do petróleo mais baixos, revisamos nossa projeção de resultado primário de -0,7% para -0,8% do PIB em 2025 e 2026 e avaliamos ser ainda mais importante que o governo anuncie medidas de contenção de despesas.
Revisão de Cenário - Global
O aumento das tarifas – e das incertezas – representa um choque negativo para o cenário global. Nos EUA, passamos a projetar um crescimento mais fraco (de 2,0% para 1,2% em 2025 e 1,0% em 2026) e inflação mais alta (de 1,5 p.p. a 2,0 p.p. a mais), o que limita a quantidade de cortes que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) poderá fazer. Nossa projeção agora é de dois cortes de 0,25 p.p. em 2025 e mais dois de mesma magnitude em 2026.
Na Europa, por ora, acreditamos que estímulos fiscais e monetários conseguirão contrabalancear o choque de tarifas e, portanto, mantivemos nossa projeção de crescimento de 0,8% para a região em 2025 e de 1,5% em 2026. Em meio a maiores preocupações com a economia americana, também passamos a projetar o euro mais apreciado em relação ao dólar (1,10 vs. 1,08 anteriormente).
Em relação à China, diante do aumento significativo de tarifas, revisamos nossa projeção de crescimento de 4,5% para 4,2% em 2025, já considerando alguma negociação com os EUA. Observamos que os governantes chineses seguem adotando uma postura reativa e só devem anunciar estímulos após dados indicarem uma desaceleração clara da atividade.
Por fim, apesar de uma primeira leitura indicar que a América Latina foi uma das regiões menos afetadas pelas tarifas recíprocas, muitos países da região devem sofrer o impacto de um crescimento menor tanto nos EUA quanto na China. Diante disso, passamos a enxergar maior espaço para cortes de juros em vários países da região e projetamos uma recessão no México.
PIB da China cresce 5,4% no primeiro trimestre de 2025
O PIB da China cresceu 5,4% no primeiro trimestre de 2025 em relação ao mesmo período do ano anterior, superando a expectativa do mercado (5,2%) e a nossa previsão (5,3%). Em relação ao trimestre imediatamente anterior, o PIB chinês cresceu 1,2% nos primeiros três meses de 2025.
Os dados de março também surpreenderam as expectativas do mercado. A produção industrial da China subiu 7,7% no mês na comparação com igual período do ano passado, acima das expectativas de 5,8%, com bons desempenhos de mineração e manufatura. Já as vendas no varejo subiram 5,9% em março, acima dos 4,2% projetados pelo mercado, impulsionadas por móveis, celulares e eletrodomésticos, alavancados pelos programas de troca.
Nossa visão: o forte PIB do primeiro trimestre e os dados de março, antes do choque tarifário, reduzem a urgência de um novo anúncio imediato de estímulo na China. Ainda vemos a postura da autoridade política chinesa como reativa, em vez de proativa, e acreditamos que novos estímulos só serão implementados após sinais claros de desaceleração da atividade. Vemos a reunião do Politburo em julho como mais provável para o anúncio de uma nova rodada de incentivos.
Nos EUA, varejo surpreende e indústria decepciona em março
Segundo dados divulgados pelo Departamento do Comércio dos EUA nesta quarta-feira, 16, as vendas no varejo subiram 1,4% em março ante fevereiro na série com ajuste sazonal. O resultado veio acima das projeções do mercado (1,3%) e do aumento de 0,2% observado no mês anterior. Na comparação anual, as vendas totais aumentaram 4,6% em março. Excluindo automóveis, gasolina, materiais de construção e serviços de alimentação, as vendas no varejo aumentaram 0,4% em março, depois de um avanço revisado para cima de 1,3% em fevereiro.
Já a produção industrial americana caiu 0,3% de fevereiro para março, segundo dados do Federal Reserve. Em relação a março de 2024, houve um avanço de 5,5%. O desempenho veio abaixo do esperado pelo mercado (-0,1%), sinalizando uma desaceleração na atividade do setor manufatureiro no país. A queda foi influenciada por serviços públicos (-5,8%), enquanto a atividade manufatureira e o índice de mineração avançaram 0,3% cada. A utilização de capacidade da indústria, por sua vez, caiu de 78,2% para 77,8%.
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