Percepção nos EUA é de que tarifas comerciais podem levar país à recessão
No Radar do Mercado: nossa economista-chefe, Gina Baccelli, conversou com agentes de mercado nos EUA que avaliaram que país deve entrar em recessão caso tarifas não recuem. Enquanto isso, PMIs das Zona do Euro e dos EUA recuaram em abril
Por Itaú Private Bank
Nossa economista-chefe, Gina Baccelli, participou de uma série de encontros com agentes de mercado nos EUA em Nova Iorque, às vésperas de mais reuniões do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Washington. Nas conversas, o tema de fim do excepcionalismo americano – e os impactos da política econômica – foi o principal destaque.
A percepção é de que os EUA dificilmente retornarão ao status quo pré-Trump. Questões como a deterioração da política fiscal e o aumento de incertezas comprometem o excepcionalismo americano. Nesse ambiente, torna-se difícil vislumbrar uma retomada consistente da produtividade – e, consequentemente, do crescimento que vinham apresentando nos últimos anos. Mesmo em um cenário mais benigno, em que tarifas sejam reduzidas, o crescimento esperado para o ano é próximo de zero.
O impasse comercial com a China segue como um dos principais riscos. Avalia-se que, caso o nível das tarifas retorne ao que foi anunciado antes da trégua de 90 dias, ou se essas forem aumentadas, os EUA podem se encaminhar para uma recessão. A trégua vigente tende a ser estendida, dado o reconhecimento de que acordos comerciais costumam levar mais de um ano para serem concluídos – o que é notícia positiva, mas também significa que a incerteza continuará elevada. Apesar disso, falta clareza sobre o que os EUA desejam nas negociações, o que contribui para o prolongamento da incerteza.
Em paralelo, o mercado de trabalho começa a dar sinais de enfraquecimento: pequenas empresas, mais expostas às tarifas, desaceleram contratações. Ainda não há demissões em massa, mas espera-se um payroll fraco nos próximos meses. Paralelamente, a inflação deve acelerar, podendo atingir entre 4,5% e 5,5% no curto prazo. Apesar disso, o Fed pode retomar um ciclo tímido de cortes já entre junho e julho, levando a taxa para neutra, diante de pressões do lado do emprego – com a leitura de que o choque inflacionário seria transitório.
O dólar mais fraco se consolida como consenso. A percepção de menor atratividade relativa dos ativos americanos leva à expectativa de redução no overweight por parte de investidores estrangeiros. A diversificação segue focada em mercados desenvolvidos, com destaque para Europa e Japão. Apesar da manutenção do status de moeda de reserva, há novos elementos na discussão – sobretudo pela deterioração institucional e da confiança na estabilidade jurídica dos EUA.
Movimentos recentes de venda de Treasuries são atribuídos majoritariamente a ajustes técnicos e rebalanceamento de portfólio de investidores, sem envolvimento direto de bancos centrais. O aumento dos juros longos reflete, sobretudo, o maior prêmio de risco associado à inflação, política fiscal e volatilidade cambial. Espera-se que mudanças regulatórias futuras possam estimular a demanda por Treasuries, o que ajudaria a moderar as taxas.
PMI da Zona do Euro recua, mas fica no limite do patamar de expansão
O Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) composto da Zona do Euro de abril foi divulgado nesta quarta-feira, 23, e recuou de 50,9 para 50,1. Com isso, o número permanece acima dos 50 pontos, o que indica que a atividade segue em patamar expansionista, mas vem abaixo da expectativa do mercado, que era de 50,3.
O indicador foi resultado de uma queda no setor de serviços, de 51,0 para 49,7, contra expectativa de 50,5, e de um avanço da indústria, de 48,6 para 48,7, maior número em 27 meses e acima das expectativas do mercado (47,5), mas ainda em patamar contracionista.
Na divisão por países, a Alemanha foi o destaque negativo, com o índice composto recuando de 51,3 para 49,7, apesar da expectativa pelo estímulo fiscal. No país, tanto o PMI industrial recuou (de 48,3 para 48,0) quanto o PMI de serviços (de 50,9 para 48,8), este registrando o menor nível em 14 meses.
Nossa visão: a leitura do resultado fraco do PMI de abril, um mês marcado pela volatilidade da política comercial americana, sugere desaceleração da atividade na Zona do Euro e segue em linha com a expectativa de novos cortes de juros por parte do Banco Central Europeu (BCE). No momento, a dúvida permanece sendo se o atual ciclo de cortes irá parar próximo da taxa terminal neutra, que seria próxima de 2,0%, ou se os cortes seguirão para níveis estimulativos.
PMI dos EUA recua quase dois pontos em abril
O Índice de Gerentes de Compra (PMI, na sigla em inglês) composto dos EUA recuou de 53,5 em março para 51,2 em abril, atingindo o patamar mais baixo em 16 meses. A queda foi atribuída ao elevado nível de incerteza gerados pelas políticas tarifárias americanas, já que a pesquisa foi realizada após o anúncio do presidente dos EUA, Donald Trump, no chamado “Dia da Libertação”, em 2 de abril.
O PMI preliminar do setor de serviços dos EUA indicou uma queda de 54,4 em março para 51,4 em abril, abaixo inclusive da projeção do mercado, que era de 52,8. Já o PMI preliminar de manufatura subiu de 50,2 para 50,7 na passagem mensal, na contramão das expectativas do mercado que esperava um recuo para 49,0.
Nossa visão: o resultado acima do esperado do PMI industrial pode representar uma antecipação da demanda em função do maior impacto esperado à frente das tarifas aplicadas pelos EUA sobre os produtos importados e as medidas retaliatórias anunciadas, sobretudo pela China. No entanto, o resultado composto abaixo das expectativas reforça os temores do mercado sobre uma possível estagnação da economia, em contexto de inflação ainda alta, o que pode deixar o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) em uma situação difícil para promover mais cortes de juros.
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