Revisão de cenário: ambiente global sob choque de tarifas; no Brasil, dólar mais fraco alivia inflação e real

No Radar do Mercado: equipe de macroeconomia do Itaú BBA divulga revisões de cenário econômico em âmbito local e global. Confira também indicadores da indústria e do varejo nos EUA e na China em julho

Por Itaú Private Bank

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Revisão de Cenário – Brasil

O anúncio oficial das tarifas impostas pelos EUA sobre as importações brasileira trouxe um certo alívio e reduziu a tarifa efetiva estimada para 30% (ante 40%), segundo estimativas da equipe econômica do Itaú BBA. Além disso, o dólar mais fraco ao redor do mundo e os juros elevados no Brasil levaram a equipe do BBA a revisar suas projeções para a taxa de câmbio para R$ 5,50 por dólar em 2025 e 2026, ante R$ 5,65 anteriormente.

O Itaú BBA também espera que o impulso monetário contracionista e o menor impulso fiscal em relação aos últimos anos continuem levando a uma desaceleração da atividade econômica. Com isso, seguiu projetando 2,2% de crescimento do PIB em 2025, mas com ligeiro viés baixista. Já em relação a 2026, a projeção é de crescimento de 1,5%, mas com viés altista. Em relação à taxa de desemprego, as estimativas seguem de 6,4% para 2025 e 6,9% em 2026.

Sobre a inflação, o Itaú BBA revisou a projeção do IPCA de 2025 de 5,2% para 5,1%, em função do câmbio mais apreciado, mas manteve a estimativa de 4,4% para 2026. A equipe de macroeconomia também projeta que o Copom encerrou o ciclo de alta da Selic em 15,00% a.a., mas deve manter a taxa nesse patamar por bastante tempo, iniciando o ciclo de cortes apenas no 1º trimestre de 2026, com riscos inclinados para um corte ainda mais tardio, salvo choques desinflacionários relevantes.

Por fim, na projeção de resultado primário, foram mantidas as previsões de -0,6% do PIB em 2025 e -0,9% em 2026. Apesar do cumprimento da meta de primário estar mais próximo em 2025 pela decisão do STF que reestabeleceu a maior parte do decreto presidencial sobre o IOF, o desafio segue elevado para o próximo ano.

Confira o relatório na íntegra.

Revisão de Cenário – Global

O cenário global segue marcado pela política tarifária aplicada pelos EUA. O governo americano concluiu acordos comerciais com parceiros importantes, como Japão e União Europeia, mas também anunciou novos níveis de tarifas recíprocas sobre dezenas de países, com um patamar mínimo de 15% e chegando a 50% em casos específicos, como o Brasil e a Índia, o que consolidou um nível tarifário significativamente superior ao observado no início do ano.

Diante disso, nos EUA, sinais de desaceleração da atividade e aceleração da inflação começam a aparecer e colocam os mandatos do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) sob pressão. A equipe de macroeconomia do Itaú BBA ainda espera que o início do ciclo de cortes aconteça só em dezembro, mas reconhece que o risco de um corte já em setembro aumentou.

Na Europa, a atividade econômica vem surpreendendo. A economia da região cresceu 0,1% no segundo trimestre, uma desaceleração frente a 0,6% nos primeiros três meses do ano, mas com uma demanda doméstica resiliente. Diante disso, e da perspectiva de juros mais baixos, a equipe do Itaú BBA aumentou a projeção de crescimento em 2025 de 0,8% para 1,1%. Para 2026, a projeção foi mantida em 1,2%.

Na China, a economia apresentou um ritmo sólido de crescimento no primeiro semestre do ano, sustentada pela rápida implementação do estímulo fiscal anunciado para o ano e pelo bom desempenho das exportações, o que levou à revisão na projeção de crescimento de 4,5% para 4,7% este ano. No entanto, para 2026, a expectativa de crescimento foi mantida em 4,0%.

Por fim, na América Latina, as projeções de crescimento apresentam ajustes mistos. O México se destacou pela resiliência da atividade, mesmo em meio a um ajuste fiscal relevante. A Colômbia demonstrou uma recuperação considerável no setor varejista, apoiada pelo forte consumo privado. Chile e Peru mantêm suas economias com termos de troca favoráveis, enquanto o cenário externo tende a se moderar à medida que a economia global desacelera gradualmente.

Confira o relatório na íntegra.

Varejo nos EUA mostra resiliência, enquanto indústria recua no mês

As vendas no varejo americano cresceram 0,5% em julho frente a junho, segundo dados divulgados pelo Departamento do Comércio dos EUA nesta sexta-feira, 15. O resultado representa uma desaceleração em relação ao mês anterior (0,9%, revisado de 0,6% divulgado anteriormente) levemente maior do que a esperada pelo mercado (0,6%).

Excluindo o setor automotivo, as vendas caíram 0,3% no mês, enquanto excluindo também gasolina, o índice apresentou alta de 0,2%. Já o chamado “grupo de controle”, componente que exclui serviços de alimentação, concessionárias de veículos, materiais de construção e postos de gasolina, e que está mais correlacionado ao consumo do PIB, teve avanço de 0,5%, levemente acima do esperado (0,4%), mas também desacelerando em relação a junho (0,8%, após revisão altista de hoje).

Também nesta sexta-feira, 15, o Federal Reserve apresentou os dados do setor industrial dos EUA em julho, com desaceleração maior do que a esperada pelo mercado. O índice recuou 0,1% na passagem de junho para julho, abaixo das expectativas de estabilidade (0,0%) e do mês anterior (0,4%). Já a atividade manufatureira ficou estável (0,0%), em linha com a expectativa, mas abaixo do registrado em junho (0,3%). O uso da capacidade da indústria americana, por sua vez, recuou de 77,7% em junho para 77,5% em julho.

Nossa visão: os dados do varejo seguem indicando uma economia resiliente nos EUA, a despeito dos impactos iniciais relacionados ao choque de tarifas. Atualmente, o tracking de alta frequência do PIB do terceiro trimestre, divulgado pelo Federal Reserve de Atlanta, se encontra em torno de 2,5% (trimestre vs. trimestre anualizado).

Indústria e varejo decepcionam na China

A produção industrial chinesa desacelerou de 6,8% para 5,7%, na comparação interanual, no mês de julho, segundo dados divulgados pelo Escritório Nacional de Estatísticas da China na noite de quinta-feira, 14, abaixo das expectativas do mercado (6,0%). A leitura foi a mais baixa para o indicador desde dezembro de 2024.

Já as vendas no varejo cresceram 3,7% em julho, bastante abaixo do esperado pelo mercado (4,6%) e do resultado de junho (4,8%), o que também representa o menor índice desde dezembro de 2024. A taxa de desemprego, por sua vez, subiu de 5,0% para 5,2%.

Nossa visão: os dados de atividade de julho ainda mostram uma expansão da atividade na China, mas já revelam desaceleração após um crescimento forte no primeiro semestre do ano. Com isso, cresce a expectativa pelo anúncio de novos estímulos fiscais e/ou monetários por parte do governo chinês em busca da meta de crescimento de 5,0% no ano. As autoridades chinesas têm sido reativas no anúncio de estímulos adicionais.

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