Inflação: desaceleração em curso, no Brasil e nos EUA
Indicadores divulgados nesta semana sinalizaram que o processo de desaceleração continua. Por outro lado, a China surpreendeu com deflação
Por Itaú Private Bank
Em uma semana marcada por divulgações importantes de inflação, tanto os indicadores do Brasil quanto dos Estados Unidos apontaram uma desaceleração gradual da inflação.
Com isso, o Fed deve ganhar confiança para encerrar o ciclo de alta dos juros, enquanto o Copom tem sinal verde para seguir com a flexibilização monetária iniciada na semana passada. Por enquanto, a sinalização é de mais cortes de 50 pontos-base à frente, mas não descartamos uma aceleração no ritmo dos cortes, especialmente ao final do ano.
Explicamos melhor nossa visão nas revisões de cenário macroeconômico, tanto local quanto global, também divulgadas nesta semana.
Confira mais detalhes abaixo:
Inflação dos EUA em linha com o esperado
O índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos EUA avançou 0,2% em julho na comparação mensal, mesmo ritmo de junho e do registrado no núcleo do indicador, que exclui os itens mais voláteis. Na base anual, o índice cheio acelerou levemente (para 3,2%), enquanto o núcleo recuou para 4,7%. Em suma, a leitura segue indicando uma desaceleração gradual da inflação. O núcleo, ponto de preocupação para o Federal Reserve pelo seu patamar historicamente elevado, vem cedendo, o que deve oferecer confiança ao Fed para encerrar o ciclo de alta dos juros.
IPCA sobe 0,12% em julho
O IPCA de julho subiu 0,12% no mês, um pouco acima da expectativa do mercado (0,08%) e acelerando em relação ao resultado anterior (-0,08%). O acumulado em 12 meses subiu de 3,16% para 3,99%. O IPCA-EX3, que reúne componentes mais sensíveis ao ciclo econômico, desacelerou no mês. O índice de difusão também teve uma queda, o que indica que a inflação está menos disseminada na margem. O resultado confirmou o processo de desinflação gradual e mostrou uma composição mais benigna, com o componente de serviços e as medidas de núcleo desacelerando.
Ata do Copom: por ora, manutenção do ritmo
A ata última reunião do Copom reforçou que o ciclo de flexibilização requer uma postura conservadora e que há consenso no comitê para cortes de 50 pontos-base à frente. O texto estabelece uma barra alta para uma aceleração no ritmo de cortes, que exigiria uma forte reancoragem das expectativas inflacionárias, ampliação do hiato do produto (ou seja, aumento da capacidade ociosa na economia) ou uma inflação de serviços substancialmente menor. Se qualquer uma dessas condições for atendida, a situação pode mudar.
China registra primeira deflação em mais de 2 anos
O índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) da China registrou deflação de 0,3% na comparação anual em julho. Ao excluir os preços de alimentos, o índice ficou estável em 0%, enquanto o núcleo subiu 0,8% na base anual. Já o índice de inflação ao produtor (PPI, na sigla em inglês) apresentou deflação de 4,4% em julho na comparação anual, retração menor que a observada no mês anterior (-5,4%). Em suma, o comportamento de preços tem se mostrado divergente em relação ao mundo, mas a leitura do CPI mostra maiores pressões inflacionarias na margem, com o avanço do núcleo do indicador.
Vendas no varejo avançam em junho no Brasil
O volume de vendas no comércio varejista ampliado avançou 1,2% em junho na comparação mensal, acima das expectativas (-0,3%). Já no conceito restrito, que exclui veículos, motos, partes e peças e material de construção, as vendas apresentaram estabilidade (0,0%) em junho, ligeiramente melhor do que a expectativa do mercado (-0,2%). Para julho, esperamos uma ligeira alta no índice restrito e alguma devolução de automóveis no índice ampliado.
Setor de serviços brasileiro avança 0,5% no segundo trimestre
O volume de serviços do Brasil avançou 0,2% em junho frente a maio, segundo o IBGE. Na comparação com junho de 2022, o setor avançou 4,1%. Ambos os resultados vieram próximos das expectativas de mercado (0,5% m/m e 4,2% a/a). Com o resultado, o setor de serviços cresceu 0,5% tri/tri (índice cheio), enquanto os serviços prestados às famílias avançaram 1,4% tri/tri no 2T23, acelerando em relação ao trimestre anterior. De maneira geral, o setor vem apresentando bom desempenho, em linha com a resiliência do mercado de trabalho.
Cenário macro Brasil: corte de juros mesmo com atividade resiliente
Os bancos centrais dos países desenvolvidos sinalizam que estão perto do fim do ciclo de aperto monetário, enquanto os emergentes têm feito cortes nos juros. Revisamos para cima as projeções do PIB dos EUA em 2023 (para 2,1%) e 2024 (para 0,8%), mas a inflação deve permanecer em queda, abrindo espaço para o Fed encerrar as elevações nos juros. Na Europa, entendemos que o Banco Central Europeu (BCE) encerrou seu ciclo com a taxa terminal em 3,75%. Além disso, reduzimos a projeção para o PIB chinês para 5,1%, com desafios estruturais persistentes no setor imobiliário.
Cenário macro Global: fim do ciclo de alta de juros
Revisamos para cima nossa projeção para o PIB de 2023 (para 2,5%) e reduzimos a estimativa de inflação de 2023 (para 4,9%). Para 2024, reduzimos a projeção para 4,3%, mas o mercado de trabalho apertado deve continuar pressionando a inflação de serviços. Acreditamos que o Banco Central continuará flexibilizando a política monetária a um ritmo de 0,50 p.p. por reunião este ano, levando a Selic a 11,75% ao final de 2023. Não descartamos, no entanto, uma aceleração no ritmo dos cortes, especialmente no final do ano.