Donald Trump completa 100 dias de mandato com destaque para a guerra comercial

No Radar do Mercado: presidente dos EUA tentou implementar promessas de campanha, como a maior rigidez da política imigratória, mas primeiros dias do mandato ficaram marcados pela guerra comercial

Por Itaú Private Bank

5 minutos de leitura

O presidente dos EUA, Donald Trump, completa nesta terça-feira, 29, 100 dias de seu segundo mandato à frente da Casa Branca. Nesse período, Trump tentou implementar algumas de suas promessas de campanha, como a maior rigidez da política imigratória, mas o principal destaque ficou com a imposição de tarifas sobres produtos importados de centenas de países, o que acabou deflagrando uma guerra comercial atualmente concentrada na China.

A política tarifária tem sido utilizada por Trump como uma tentativa de reindustrialização dos EUA e de geração de emprego doméstico. No entanto, as medidas anunciadas até aqui podem gerar efeitos colaterais importantes, pressionando cadeias produtivas integradas e encarecendo importações, o que deve ter impacto inflacionário, ainda que parte desse efeito seja diluído nas cadeias. A comunicação na frente tarifária tem sido ruidosa e volátil, o que tem elevado a incerteza, e é esperado que a atividade seja afetada negativamente diante do choque de confiança e o aperto nas políticas de imigração.

A escalada das tensões começou ainda em fevereiro, com anúncio de tarifas de 25% sobre produtos do México e do Canadá e de 10% adicionais sobre produtos da China. Pouco depois, Trump anunciou formalmente planos de implementar “tarifas recíprocas” sobre um escopo mais amplo de países que comercializam com os EUA, até que, em 2 de abril, o presidente promoveu o chamado “Liberation Day”, no qual foram anunciadas alíquotas que variavam entre 10% e 50% e estariam correlacionados ao superávit de cada país na balança comercial com os EUA.

Em resposta, países afetados começaram a promover retaliações, com destaque para a China, com quem a guerra comercial acabou se concentrando. O gigante asiático reagiu impondo tarifas sobre produtos americanos na mesma medida, numa sequência que elevou as alíquotas entre os países para acima de 100%, um patamar proibitivo para a prática comercial entre ambos. Enquanto aumentava a tarifa sobre a China, porém, Trump decidiu reduzir temporariamente as tarifas recíprocas sobre os outros países para 10% por 90 dias. Desde então, existe a expectativa de que negociações minimizem o impacto total das taxações, mas pouco progresso foi feito até o momento. Ainda assim, mesmo considerando que o patamar atual permaneça, a tarifa média das importações americanas seguiria no ponto mais alto em décadas.

Neste cenário, o mercado americano sofreu com grande volatilidade durante o período, com a aparente perda de fôlego do “excepcionalismo americano”. O dólar perde força no ano, saindo de patamar bastante valorizado, enquanto as bolsas fora dos EUA registram performance superior em relação à bolsa americana (em dólares).

Do ponto de vista fiscal, o governo tem sinalizado a intenção de estender o corte de impostos sobre empresas e famílias. Apesar de parte dessa extensão poder ser financiada pelas novas tarifas, as propostas fiscais aumentam a pressão sobre o déficit nominal, em um contexto já de trajetória de dívida pública crescente.

Já o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) permanece atento aos impactos da política comercial sobre a inflação e o crescimento, dado que os efeitos das medidas adotadas até o momento apontam em sentidos opostos: inflação para cima e crescimento para baixo, levantando dúvidas sobre qual lado do mandato duplo (meta de inflação e pleno emprego) o Fed priorizaria em uma situação de inflação pressionada e desaceleração da economia.

Por fim, na frente externa, aliados históricos dos EUA demonstram crescente desconforto com a postura unilateral e protecionista adotada pela Casa Branca. Os países têm reforçado movimentos de realinhamento estratégico, especialmente na Ásia e na Europa, que buscam ampliar o comércio intrarregional como forma de mitigar os impactos da guerra tarifária. Ainda que os EUA mantenham protagonismo em inovação e fluxo de capitais, sua posição como centro do comércio global pode se enfraquecer caso o isolamento se intensifique.

PodInvestir | Especial 100 dias de Trump, com Thomas Wu

Confira também a participação do economista-chefe da Itaú Asset, Thomas Wu, na série especial sobre os 100 primeiros dias de Donald Trump de volta à presidência dos EUA do podcast PodInvestir, produzido pela Inteligência Financeira.

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