Inflação brasileira recua; nos EUA, desacelera além do esperado
O IPCA de junho registro deflação em junho e desacelerou em relação a maio; nos EUA, o indicador de inflação desacelerou, mas juros ainda devem subir 25 pontos-base na reunião de julho
Por Itaú Private Bank
Os indicadores de inflação do Brasil e dos Estados Unidos ficaram no centro da atenção dos investidores nesta semana. Por aqui, o IPCA registrou deflação em junho, enquanto nos EUA, a leitura veio abaixo do esperado, mas com o núcleo ainda em patamar historicamente elevado.
Também divulgamos nossas revisões de cenário tanto local, considerando uma parcimônia no corte dos juros, quanto global, com a continuidade do ciclo de aperto monetário nos países desenvolvidos.
Confira mais detalhes abaixo:
IPCA registra deflação em junho
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) de junho registrou uma deflação de 0,08%, resultado ligeiramente acima das expectativas (-0,10%) e indicando uma desaceleração em relação a maio. A leitura foi impulsionada principalmente pelas quedas nos grupos de Alimentação e Bebidas e Transportes, influenciados pelas quedas nos preços de automóveis e combustíveis. A leitura confirma a desinflação de comercializáveis, mas uma pressão maior nos itens não comercializáveis (serviços), que devem desacelerar lentamente dada a resiliência do mercado de trabalho.
Inflação dos EUA desacelera mais do que o esperado em junho
O Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos EUA registrou um aumento de 0,2% em junho, acelerando ligeiramente em relação a maio, mas abaixo das projeções. Na comparação anual, o indicador cedeu e está em 3%. O núcleo, que exclui os itens mais voláteis, registrou desaceleração na base mensal e na anual (0,2% m/m e 4,8% a/a). A leitura segue apontando para uma desaceleração gradual da inflação, mas com núcleos ainda em patamar historicamente elevado, e não deve alterar a expectativa de uma alta de 25 pontos-base nos juros na reunião de julho do Federal Reserve (Fed, banco central americano).
Ata do BCE reforça novas altas nos juros à frente
O Bando Central Europeu (BCE) divulgou a ata de sua última reunião de política monetária, quando houve aumento de 25 pontos-base nas taxas de juros. O documento mostrou uma preocupação das autoridades com a dinâmica da inflação, considerando que não há evidências suficientes para confirmar a consolidação da queda na pressão sobre os preços, além de uma determinação em prosseguir com o ciclo de aperto monetário. Nossa estimativa é de mais duas altas de 25 pontos-base nas próximas reuniões.
Vendas no varejo recuam mais do que o esperado em maio
O volume de vendas no varejo brasileiro recuou 1% em maio, tanto em relação a abril quanto ao mesmo período de 2022. As atividades do comércio varejista mantiveram equilíbrio entre taxas positivas e negativas no mês, sendo “tecidos, vestuário e calçados” o grupo que apresentou maior queda. Em suma, as vendas no varejo tiveram um desempenho fraco em maio. Para o segundo trimestre, esperamos uma queda no indicador, com um pequeno aumento no comércio varejista ampliado (impulsionado pela alta nas vendas de automóveis em junho).
Setor de serviços cresce além das expectativas em maio
O volume de serviços no Brasil expandiu 0,9% em maio, frente a abril, e 4,7% na comparação anual, ambos acima das expectativas do mercado. O setor vem apresentando alguns resultados positivos, em linha com a resiliência do mercado de trabalho. Para o segundo trimestre, esperamos que o indicador encerre perto da estabilidade, com os serviços oferecidos às famílias registrando contribuições positivas. Nosso tracking (estimativa de alta frequência) para o PIB do 2T23 se encontra em 0,3% tri/tri e 2,7% a/a.
Revisão de Cenário Brasil
Reduzimos a projeção de inflação de 2023 (para 5,1%) incorporando o corte de preços da gasolina na refinaria e a inflação mais baixa de produtos industrializados. Acreditamos que Banco Central começará a reduzir a taxa Selic com um corte de 25 pontos-base em agosto e sucessivos cortes de 50 pontos-base a partir de setembro, terminando 2023 em 12,00% e 2024 em 9,50%. A resiliência da atividade econômica, o desafio fiscal, a pouca ociosidade no mercado de trabalho, os núcleos da inflação elevados e a perspectiva dos desenvolvidos ainda subirem juros demandam cautela.
Revisão de Cenário Global
A inflação resiliente e os mercados de trabalho apertados levam à continuidade dos ciclos de alta em países desenvolvidos. Nos EUA, subimos nossa projeção do PIB em 2023 para 1,7%. O Federal Reserve deve subir os juros para 5,6%, com altas em julho e novembro. Na Europa, reduzimos a nossa estimativa para o PIB em 2023 para 0,5%, mas a inflação alta e a resiliência no nível de emprego farão com que o Banco Central Europeu (BCE) eleve os juros até 4,0%. Na China, o PIB deve crescer 5,4% em 2023.